domingo, 15 de março de 2009

Memorável!



Carlos Martins, Carlos Barretto e Joel Silva
14 de Março de 2009, 23.00h
Hot Club de Portugal (Lisboa)
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Sobre estes dois Carlos pouco há a acrescentar ao muito que já se escreveu. Dois dos mais importantes e influentes músicos de jazz nacionais com percursos distintos que, ainda assim, os fez encontrarem na escola de jazz Luís Villas-Boas do Hot Club de Portugal, como alunos e como docentes. Depois veio o reconhecimento nacional e internacional do seu incontestável talento.
Carlos Martins é hoje um dos mais completos saxofonistas de jazz portugueses. Dono de uma técnica invejável e uma notável capacidade de improvisação, tem como traço distintivo ainda um raro talento como compositor, sendo um dos principais responsáveis pela criação de um som marcadamente nacional, construído a partir das raízes populares da música portuguesa e dos seus principais intérpretes. Há sobretudo um toque delicioso e inconfundível das suas planícies alentejanas natais que fazem de Carlos Martins seguramente um músico diferente no já rico panorama musical jazzístico português.
Já Carlos Barretto é acima de tudo um esteta, ainda por cima dono de uma técnica fabulosa. Pintor e músico, com uma enorme variedade de projectos em mão, todos do mais alto nível. No seu projecto Lokomotiv lidera uma busca metódica pelos novos sons do jazz, ao lado de outros tecnicistas soberbos nacionais e estrangeiros. No trio de Bernardo Sassetti é a sua exuberância que contrabalança o minimalismo estético do pianista, tornando-o sedutor. Aqui, com Carlos Martins, é o alter-ego musical do saxofonista, contrapondo o seu enorme e exuberante talento no contrabaixo aos arrojos improvisados na palheta. Esteve verdadeiramente inspirado, na riquíssima construção rítmica da apresentação mas também nos solos. Nas suas mãos o contrabaixo exprime inusitadas polifonias! Carlos Barretto consegue, num solo, fazer o seu instrumento assumir simultaneamente tarefas rítmicas, melódicas e harmónicas! Um luxo.
Mas a grande surpresa da noite foi Joel Silva, um jovem baterista que já tinha ouvido ao lado de Júlio Resende e Maria João, mas que, desta feita, assumiu um protagonismo surpreendente. Tecnicamente soberbo, dono de uma batida forte e contagiante, extremamente criativo e experimentalista quanto baste, mostrou porque razão estes dois grandes músicos o escolheram para esta apresentação. Um grande baterista a seguir com muita atenção!
Em suma, foi um concerto perfeito. À terceira noite do trio no Hot a engrenagem mostrou-se tão bem oleada que a noite foi de puro jamming. Alterou-se a ordem dos sets ao sabor da inspiração, puxou-se dos galões que a experiência já coseu na fatiota e brindou-se o público com uma fulgurante noite de puro jazz, carregada de energia e de criatividade.
Memorável.

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