sexta-feira, 27 de março de 2009
In The Bleak Midwinter
John Taylor Trio
Grande Auditório da Culturgest – Lisboa
26 de Março de 2009, 21.30h
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John Taylor nasceu em Manchester em 1942 e desde 1969 que é figura de proa do jazz europeu, quando iniciou uma colaboração com os saxofonistas Alan Skidmore e John Surman (esta que dura até ao presente). Daí para cá gravou mais de 80 discos, quatro deles a solo, e tem participado em inúmeras colaborações de grande relevo, com nomes como Jan Garbarek, Enrico Rava, Gil Evans, Lee Konitz ou Charlie Mariano. Mas a mais mediática de todas terá sido o trio Azimuth, com a cantora Norma Winstone e o trompetista Kenny Wheeler, no já longínquo ano de 1977.
Kenny Wheeler é aliás a mais importante referência de Taylor ao longo da sua carreira, pelas colaborações frequentes entre os dois músicos e pela notória simbiose que alcançaram. Kenny Wheeler está sempre presente na música de Taylor, mesmo quando não toca! Tal facto foi notório nesta apresentação da Culturgest onde vários temas de Wheeler foram tocados pelo trio ao longo da noite (Everybody’s Song But My Own… que Taylor transformou em Everybody owns thing song, but me!).
Outra referência incontornável de Taylor é sem dúvida o universo musical de Bill Evans. O que não surpreende porquanto o norte-americano marcou indelevelmente toda uma geração de músicos de jazz da qual faz parte John Taylor (e deixando marcas que ainda perduram mesmo nos mais jovens…). O lirismo de Evans está sem dúvida presente na música de Taylor embora, fruto dos tempos, o britânico lhe junte um sedutor abstraccionismo, bebido na tradição impressionista e nas correntes europeias da música contemporânea, que manifestamente têm influenciado o seu trabalho nos últimos anos. De Evans aparece também a predilecção pelo trio de piano, mas Taylor remete-se para tarefas menos exuberantes, permitindo o brilho dos excelentes músicos que o acompanham e conquistando o público pela subtileza da sua paleta melódica e harmónica. Na memória ficou o belíssimo “In The Bleak Midwinter”, uma adaptação ao jazz de um hino litúrgico inglês no qual John Taylor e os seus pares construíram um verdadeiro monumento à enorme sensibilidade e bom gosto que caracterizam a sua música, alargando amplamente os horizontes (já excelentes) da versão gravada do tema.
A acompanhá-lo neste trio (que já gravou dois álbuns para a italiana Cam Jazz, o último dos quais em 2007, o brilhante “Whirlpool”, considerado pela Jazz Magazine como um dos melhores álbuns do ano e que serviu de base à apresentação desta noite) estiveram o sueco Palle Danielsson no contrabaixo e o britânico Martin France, na bateria.
Danielsson é um extraodinário músico da mesma geração de Taylor (nasceu em 1946) e que chegou a tocar com Bill Evans em 1965. Nos anos 60 percorreu a Europa integrado no grupo do trombonista Eje Thelin, mas foi sobretudo a sua utilização por Keith Jarrett no seu “quarteto europeu”, com quem gravou vários álbuns nos anos 70 e do qual faziam igualmente parte o saxofonista norueguês Jan Garbarek e o pianista sueco Bobo Stenson, que o colocou nos anais do jazz. Depois disso trabalhou ainda com o “regressado” Charles Lloyd e com o recentemente falecido Michel Petrucciani, antes de assentar nos projectos do britânico John Taylor, o trio com o baterista dos Weather Report, Peter Erskine, e este trio Cam Jazz com o mais jovem Martin France, um baterista com ampla experiência em diversos contextos musicais, dentro e fora do jazz, dos Loose Tubes à nossa Maria João, com importantes projectos na área da música sinfónica e do pop, de que são exemplo as colaborações com o ex-Pink Floyd David Gilmour ou com o mediático Elvis Costello.
Embora assente sobretudo no trabalho Whirlpool, o mais recente gravado pelo trio (depois de Angel of Preasence, em 2006. Taylor gravou entretanto um álbum a solo, também para a Cam Jazz), o concerto permitiu ainda apresentar alguns temas novos, ainda não gravados, e sobretudo brindar o público com novas versões “ao vivo” de temas antigos, onde a criatividade dos músicos, a sua extraordinária capacidade de improvisação e reconhecida classe não deixaram ninguém indiferente.
Uma oportunidade de “ouro” para ver e ouvir três enormes músicos de jazz, que vai repetir-se esta noite em Viseu, no Teatro Viriato.
Para quem não pôde ouvir John Taylor ao vivo, aqui fica um vídeo do tema Rosslyn, extraído do disco homónimo gravado em 2002 para a ECM e comm John Taylor no piano, Marc Johnson no contrabaixo e Joey Baron na bateria. As fotos são da autoria do polaco Pawel Kepa. Podem ver o seu trabalho em http://www.pbase.com/pawel_kepa
John Taylor Trio - Rosslyn
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