quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Ocasião Perdida


Steve Coleman And Five Elements
Grande Auditório da Culturgest
15 de Novembro de 2008, 21.30h
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Steve Coleman é um reputado saxofonista de jazz, habituado à convivência em palco com grandes músicos como Michael Brecker, David Murray, Dave Holland ou Abbey Lincoln. No entanto, longe de seguir o mais óbvio caminho do jazz mainstream, a sua música insere-se numa corrente mais experimentalista que funde elementos oriundos da música popular urbana e do hip hop com as mais profundas raízes africanas da música negra norte-americana e até da música klezmer de origem judaica, que tem influenciado vários músicos da nova geração do jazz norte-americano como John Zorn, Frank London ou David Krakauer.
Não é um cocktail fácil de digerir. Fortemente abstracta, a música de Coleman assenta sobretudo em componentes melódicos e rítmicos esquecendo um pouco os harmónicos.
O resultado é fragmentado e conceptual. O jazz assim tocado soa, na maioria das vezes, frio e distante da alegria e do humanismo da sua versão original.
A tudo acresce a assimetria destes Five Elements. Se por um lado temos um Steve Coleman de enorme valia técnica no saxofone, acompanhado pelo grande talento de Tyshawn Sorey na bateria (o único elemento do grupo que mostrou verdadeira “pedalada” para acompanhar o líder Coleman), por outro temos alguma simplicidade nas prestações de Jonathan Finlayson no trompete e de Tim Albright no trombone. Dir-se-iam intimidados pela liderança de Coleman. Presos à pauta e ao seu papel no sexteto, sempre aguardando o sinal de entrada e raramente mostrando capacidade de improviso ou criatividade nas suas intervenções.
Mais soltos estiveram Jen Shyu na voz e Thomas Morgan no contrabaixo. Mas se a boa técnica vocal da primeira não encontrou na estética fragmentada e abstracta da obra de Coleman condições para brilhar, antes se tornando algo cansativa, já Morgan teve oportunidades de sobra para o efeito, designadamente nos duetos mantidos com o saxofonista. Porém, embora se mostrasse por vezes exuberante no contrabaixo, nem sempre a técnica conseguiu acompanhar as boas intenções do músico. De fraseado solto mas confuso, disperso, pouco objectivo, não foi também ele capaz de segurar uma apresentação que assumiu sobretudo contornos de uma ocasião perdida, face à enorme qualidade de alguns dos músicos envolvidos.
Esperemos que Steve Coleman reencontre em breve caminhos menos sinuosos para exprimir a sua criatividade e sobretudo a sua enorme capacidade técnica no saxofone que, apesar de tudo, conseguiu sobressair numa apresentação em tudo o mais menos conseguida.

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