segunda-feira, 9 de junho de 2008

Uma Noite Para Comemorar












Dois Duetos
Maria João & João Farinha
Paula Oliveira & Leo Tardin
7 de Junho de 2008, 23.00h
Hot Club de Portugal – Lisboa
*****

As duas melhores vozes do jazz nacional, de seguida e simplesmente acompanhadas de piano, no palco do Hot é, no mínimo, um acontecimento impar!
Se as expectativas eram, naturalmente, elevadas só posso dizer que as mesmas foram amplamente superadas.
Desde logo porque assistir, olhos nos olhos (com uma proximidade quase pornográfica), a tamanha demonstração de entrega e virtuosismo não pode deixar ninguém indiferente, muito menos o conhecedor público do Hot, constituído quase exclusivamente por músicos e melómanos experimentados. Mas também porque a configuração minimalista da apresentação, com as cantoras apenas acompanhadas pelo piano ou rhodes, permitiu realçar de forma vincada as superiores capacidades vocais de cada uma delas. Finalmente porque o ambiente familiar da sala (apesar de cheia, como se impunha) permitiu uma comunicação e interacção invulgar dos músicos com o público, sublinhando o carácter especial da apresentação.
Em noite de celebração pela entrada vitoriosa da selecção nacional no Euro 2008, não saberia vislumbrar melhor forma de comemorar…
A noite começou com Maria João acompanhada pelo jovem João Farinha.
Não posso deixar de realçar esta surpreendente prova de humildade e solidariedade para com os jovens músicos, demonstrada pela insuperável Maria João. Uma cantora experiente e consagrada, habituada a pisar os mais prestigiados palcos do mundo e a ser acompanhada pelos mais importantes músicos da sua geração escolheu, ousadamente, para a acompanhar um jovem pianista da escola do Hot, praticamente a fazer a sua estreia no “metier”… Que honra e, simultaneamente, que responsabilidade para João Farinha! Ele correspondeu como pôde, mostrando inegáveis potencialidades (ainda que com algum, e natural, nervosismo) e sem comprometer, de modo algum, a apresentação. Até porque Maria João estava numa noite inspirada. Agarrou na apresentação como só ela sabe, com aquela garra fenomenal dos privilegiados e as emoções à flor da pele, e deslumbrou os presentes passeando a sua enorme classe por standards modernos, de Zeca Afonso a Dave Matthews, passando por Egberto Gismonti, Tom Jobim, George Harrison, espirituais norte-americanos e sem esquecer o “seu” Beatriz, tema que se transformou, inquestionavelmente, num hino ao seu impar talento. Durante hora e meia fomos convidados privilegiados de um concerto quase privado de Maria João… E vontade havia, da parte da cantora e do público, para outro tanto! Sublime.
Após o intervalo, o cigarro (no pátio…) e as conversas em dia, sobretudo à volta da enorme demonstração de talento evidenciada por Maria João, houve ainda tempo para ouvir Paula Oliveira e o suíço Leo Tardin. Paula Oliveira mostrou o rigor e a enorme sensibilidade que entrega a cada tema que interpreta, num reportório que começou pelos seus originais incluídos nos dois últimos discos e prosseguiu com Jobim, Ivan Lins, Kenny Wheeler e Norma Winstone (dos Return to Forever, lembram-se) e terminou em apoteose e a quatro, com Maria João e João Farinha também em palco, uma vez mais com Zeca Afonso e o tema Que Amor Não Me Engana.
Leo Tardin mostrou outra enorme dose de talento no piano, colorindo, com as suas invulgares capacidades de improvisação e domínio dos teclados, a inspirada apresentação de Paula Oliveira.
E ali estivemos, extasiados, até perto das três da madrugada…
Como canta Mafalda Veiga, esta foi seguramente, uma noite para comemorar…

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