sábado, 21 de junho de 2008

Into the Blue



Nicholas Payton
Into the Blue
Nonesuch Records 2008
14/20

Nicholas Payton foi um menino-prodígio do trompete, profissional desde os doze anos de idade (afinal na América também há trabalho infantil), na sua cidade natal de New Orleans. Nascido numa família de músicos, o pai Walter Payton é contrabaixista e compositor (é o autor de dois dos temas inseridos neste disco, Drucilla, uma balada dedicada à mulher e mãe de Nicholas, também ela pianista e cantora de jazz e Nida) foi acompanhado, durante os anos de aprendizagem por dois grandes mestres da cidade berço do jazz: Clyde Kerr Jr. no “New Orleans Center for Creative Arts” e Ellis Marsalis na “University of New Orleans”. E foi pela mão dos Marsalis que chegou à Big Apple, mais precisamente a convite de Wynton Marsalis que o levou para o “seu” Jazz at Lincoln Center, tornando-se um habitué nas apresentações da instituição nos seus primeiros anos em Nova Iorque.
O percurso discográfico de Payton começou de modo clássico evocando os mestres da sua Louisiana natal, designadamente o trompetista Louis Armstrong, a quem dedicou vários dos seus trabalhos. Trabalhou com lendas vivas como Doc Cheatham (num duo epónimo de 1997 vencedor de um Grammy), Hank Jones, Elvin Jones, e Ray Brown. Mais tarde experimentou os sons groovy e funky em “Sonic Trance”, num jazz carregado de elementos electrónicos e de hip-hop que chocou os seus fans…
No seu primeiro disco após os 30 anos de idade, estreia igualmente pela Editora Nonesuch, escolheu Bob Belden para a produção e New Orleans para a gravação, juntando no estúdio a sua road-band composta pelo pianista Kevin Hays, que toca igualmente (em demasia…) Rhodes, o contrabaixista Vincent Archer, Marcus Gilmore (o neto de Roy Haynes) na bateria e Daniel Sadownick, na percussão.
Para este trabalho propôs-se encontrar um meio-termo entre o classicismo dos seus trabalhos iniciais e o vanguardismo da sua experiência “psicadélica” em Sonic Trance.
Infelizmente parece-me que a mediania se apoderou em demasia do disco, o qual se mostra, aparte alguma honrosas e deliciosas excepções, demasiado convencional e parco em ideias.
No princípio todas as expectativas são legítimas porquanto Drucilla revela-se uma das pérolas deste trabalho. Uma balada romântica em blues e em que o trompete domina suave, melancólico e misterioso sob os rendilhados da secção rítmica. O tema cresce e ganha em swing o que porventura perde com o abandono do lirismo inicial. Original, apelativo e muito conseguido. Let it Ride e Tryptich porém, levantam as primeiras dúvidas… Se o primeiro cativa pelo ritmo latino onde o rhodes aliás até confere um toque à Jobim que não compromete, embora estendendo-se eternamente, o segundo revela-se quase meramente ambiental, longo e abstracto, embora com um interessante trabalho na percussão. Com Chinatown, o clássico tema de Jerry Goldsmith retirado do filme homónimo de Roman Polanski, reconciliamo-nos de imediato com o trompetista. Belo e nostálgico e com Kevin Hays, agora no piano acústico, a acentuar a toada lenta e nocturnal do standard, num momento alto do disco. Daqui para a frente este trabalho desilude quase por completo. Repetitivo, sem nada de novo a acrescentar, numa toada morna, algo maçadora até, pouco ambiciosa e carregada de clichés. Payton até arrisca cantar no tema Blue, de forma claramente pouco conseguida. Um disco manifestamente aquém das capacidades dos músicos envolvidos, mormente de Payton que já deu mostras de ser capaz de muito mais e melhor.
Enfim, ficam Drucilla e Chinatown para a posteridade, porque o resto, infelizmente, não deixa muitas saudades.

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