terça-feira, 24 de junho de 2008

Minimalismo Orgânico



Nik Bärtsch´s Ronin
Holon
ECM 2008
17/20

Segundo disco pela ECM do pianista suíço Nik Bartsch e da sua banda Ronin (composta por Sha no clarinete baixo e saxofone alto, Björn Meyer no baixo, Kaspar Rast na bateria e Andi Pupato na percussão), depois de Stoa (ECM, 2005). Paralelamente Bartsch mantém outro projecto musical, o grupo Mobile, também já com obra gravada, bem como alguns projectos a solo.
Nik Bartsch nasceu em Zurique em 1971, repartindo a residência entre a sua cidade natal e Berlim. Estudou piano e percussão desde os oito anos de idade e licenciou-se em 1997 pela Musikhochschule de Zurique. Estudou ainda filosofia, linguística e musicologia na Universidade de Zurique entre 1989 e 2001.
A música dos Ronin é definida por Bartsch como Zen-funk, construída a partir de longos rituais de improvisação de onde resultam ideias, depois minuciosamente elaboradas em temas modulares, usando ritmos polimétricos e complexas interligações de padrões e motivos repetitivos. Daqui resulta uma obra profundamente original, vanguardista mesmo, edificada numa pulsação crescente, qual espiral orgânica, de onde partem variações improvisadas (e mesmo silêncios) que compõem um microcosmos musical extremamente apelativo e sedutor, na sua aparente mas riquíssima simplicidade.
Kaspar Rast, o baterista da banda, descreveu-a à revista Modern Drummer como um bio sistema musical consolidado nos mais de 150 concertos já apresentados pelo grupo e nos milhares de workshops organizados por Bartsch (designadamente no Bazillus Club em Zurich, base do grupo, onde semanalmente se encontram).
Apesar da equipa ser idêntica, dos músicos aos produtores (Manfred Eicher e Gérard de Haro) passando pelo estúdio de gravação (Studios la Buissonne em França) é contudo evidente a progressão deste Holon face ao anterior Stoa. Os músicos estão mais soltos, o estilo consolidado, as ideias mais frescas e apelativas. O projecto Ronin, até pela sua característica orgânica tão apregoada pelos músicos, ganhou obviamente muito com a estrada e os concertos que fez: tornou-se mais coeso, mais fluente, mais objectivo na concretização das ideias musicais que preconiza. Há em Holon um evidente processo colectivo de composição, que engloba a criação dos temas, os solos (pequenas variações frásicas dentro da estrutura de composição, da responsabilidade de todos os músicos envolvidos) e a própria produção do disco, numa criação verdadeiramente colectiva e quase integralmente acústica (a única excepção é o baixo eléctrico de Björn Meyer, já que o Fender Rhodes utilizado em Stoa foi agora abandonado em detrimento do piano acústico).
Este zen-funk de Bartsch (ou ritual groove music, como também lhe chama) é obviamente influenciado pelo movimento minimalista, patente na componente repetitiva das suas composições, mas recusa abertamente a integração num universo marcadamente erudito ou intelectual, antes procurando raízes na música tradicional e folclórica, nomeadamente sueca (por influência de Meyer, que esteve ligado a vários projectos folk na Suécia) e romena (esta trazida da infância de Bartsch). Não estranha assim que, por entre as pulsações minimalistas de Holon surjam reminiscências orientais, geralmente introduzidas pelo saxofone de Sha (que a mim me pareceram mais indianas que romenas, designadamente nos temas Modul 42 e Modul 45).
Em suma trata-se de um trabalho extremamente homogéneo e meritório. Um minimalismo sedutor, pulsante, envolvente, que tanto consegue transmitir perturbação como lirismo. Sobre melopeias repetitivas, minuciosas, hipnóticas e geométricas o grupo desenvolve deliciosas nuances evocativas dos mais variados ambientes e influências, ora de forma forte e dramática ora subtil e envolvente.
Este Holon é assim uma jóia soberbamente construída e que funciona com a perfeição e graciosidade de um relógio suíço.
Um disco inspirado e inspirador.

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