quinta-feira, 5 de junho de 2008
Buika de Fogo
Buika
Niña de Fuego
Limón Records 2008
15,5/20
Concha Buika nasceu em Palma de Maiorca em 1972 numa família emigrante originária da Guiné Equatorial. Ao ritmo africano que lhe corria no sangue juntou o lamento flamenco, que corria nas ruas maiorquinas, e assim nasceu o maior fenómeno actual da música espanhola.
Depois de cantar em bares e clubes de Palma de Maiorca e de uma colaboração esporádica com os “Fura del Baus”, rumou em 2000 (não sabe muito bem como, nem porquê…) até Las Vegas, onde dobrou Tina Turner e as Supremes e acabou convidada por Rachelle Farrel para actuar no Blue Note.
De regresso a Madrid começou a sua fulgurante carreira. Depois de um primeiro disco de excelentes indicações, surgiu “Mi Niña Lola”, produzido por Javier Limón, e com ele a consagração e os prémios internacionais. Nascia uma estrela que passou a correr mundo, cantando este novo flamenco “africano”, e a esgotar os adjectivos dos críticos de todo o mundo (do El País ao New York Times, passando pelo Le Monde, Libération, pelo Daily News, Sunday Times sem esquecer a imprensa alemã, japonesa ou mexicana – que a elevou à alma gémea de Chavela Vargas, o ícone da canção mexicana), bem como as salas de espectáculo por onde passa.
Depois da consagração vem a responsabilidade e sobre este disco, uma vez mais produzido por Limón (que escreve também boa parte das letras e toca primorosamente guitarra flamenca) com o cubano Horacio “el Negro” Hernández, na percussão, Carlos Sarduy no trompete e Iván “Melón” Lewis no piano, cai a pesada responsabilidade de dar continuidade ao fenómeno Buika.
Áparte o sensacionalismo da nudez na capa (realçando a enorme sensualidade de Concha, já bem patente na sua enorme voz) podemos dizer que é uma aposta conseguida. Por um lado porque alarga os horizontes do universo musical de Buika do afro-flamenco, evidenciado em Mi Niña Lola, para as Rancheras mexicanas (a aproximação de Buika a Conchela Vargas é notória, apelidando-a aquela de “a sua filha negra”), ainda que puxando a um ambiente kitsch que Almodôvar não desdenharia, às influências cubanas e até africanas (com muito pouco flamenco) evidentes em Mentirosa (um tema que parece um semba angolano e que ficaria bem na voz de Paulo Flores ou Carlos Burity). Por outro lado podemos vislumbrar um aligeirar do flamenco em busca de um maior público, sendo várias as ocasiões em que o universo romântico e ligeiro de Alejándro Sánz aparece por entre as coplas, bulerías e rumbas marcadas na guitarra-flamenca de Javier Limón.
Mas mais dos que as influências, os piscares de olho ao sucesso comercial, as flamejantes arrancadas na guitarra de Limón, ou o calor caribenho introduzido pela percussão de “el negro” ou pelo trompete de Sarduy, o que fica sobretudo deste disco é a magnífica voz de Concha Buika, com o seu característico salero exótico, que remete para terras africanas, e uma rouquidão melodiosa e quente, de grande sensualidade.
Só por ela vale a pena ouvir e deliciar-se com esta “Niña de Fuego”.
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