segunda-feira, 30 de junho de 2008

Eu Gosto é do Verão...


Chegou o Verão e com ele os Festivais.
Tal como o rock, desde há alguns anos atrás, também o jazz despertou para este fenómeno estival, e esta semana vão começar, nada mais nada menos, do que quatro festivais: O histórico Estoril Jazz, o Funchal Jazz, o Cool Jazz Festival e o estreante Allgarve Jazz.

Pelos palcos (improvisados) nacionais vão passar, só nestes quatro festivais e durante o mês de Julho, artistas de renome internacional como Didier Lockwood, Phil Woods, Jean-Jacques Milteau, Rosa Passos, Chucho Valdês, Lucky Peterson, Herbie Hancock, Dee Dee Bridgewater, Manhattan Transfer, Freddy Cole, Frank Lacy, Eric Alexander, Bobby Hutcherson, Ron Carter, Karrin Allyson, Branford Marsalis, Miguel Zenón, Lizz Wright, Diana Krall, Madeleine Peyroux, Pink Martini, os nacionais Angelina, Maria João e Mário Laginha e os supreendentes Caetano Veloso, Mayra Andrade, Jorge Palma e Ana Moura (será que também vão cantar jazz?!), entre muitos outros...

E estamos em plena crise económica. Como seria se não estivéssemos?!

Parece que, à crise das editoras, devido à pirataria discográfica, sucedeu a abastança das promotoras de espectáculos, sem mãos a medir, com iniciativas em catadupa.

Será que há público para tantos espectáculos? E será esta a melhor forma de servir a música, os artistas e o seu público, desperdiçando tantas salas de qualidade, erguidas a custos avultados por todo o país, e organizando concertos de massas nas praças e jardins do nosso país? Para turista ver!

São perguntas que deixo à reflexão do estimado leitor, confiante na sua superior capacidade crítica.

Entretanto vamos fazendo contas à vida e abrindo os cordões à bolsa. É que não há subsídio de férias (para quem os recebe, entenda-se) que aguente com tanta fartura.

domingo, 29 de junho de 2008

Agenda Jazz – 30 de Junho a 6 de Julho



2ª feira 30 de Junho

20.30h – Hotel Dona Filipa (Almancil) – Orquestra de Jazz de Lagos Redux
21.00h - CCB (Lisboa) – Carta Branca a Pedro Carneiro

3ª feira 1 de Julho

22.30h – Ondajazz (Lisboa) – Big Band Reunion

4ª feira 2 de Julho

23.00h – Hot Club de Portugal (Lisboa) - LopesLaneFoni Trio

5ª feira 3 de Julho

21.30h - Jardins Quinta Magnólia (Funchal) - Quinteto de Angelina + Didier Lockwood New Generation
21.30h – Fundação Eugénio de Almeida (Évora) – Mário Laginha Trio
22.00h – Cafetaria Quadrante CCB (Lisboa) – Singularity Trio (Alípio C. Neto)
23.00h – Hot Club de Portugal (Lisboa) - LopesLaneFoni Trio
23.00h - Servartes (Porto) – Miguel Martins Trio

6ª feira 4 de Julho

21.00h – CCB (Lisboa) – Rosa Passos
21.30h – Fortaleza de Cascais - The Vanguard Jazz Orchestra
21.30h - Jardins Quinta Magnólia (Funchal) - Phil Woods & Ben Aronov & Jesper Lundgaard & Douglas Sides & Jesse Davis + J.J. Milteau Sextet
22.00h – Coliseu (Lisboa) – Djavan
22.00h – Estádio da Restinga (Portimão) – Lucky Peterson
23.00h – Hot Club de Portugal (Lisboa) - Joana Machado "A Casa do Óscar"
23.00h – Ondajazz (Lisboa) – Joel Xavier
23.30h – São Luiz (Lisboa) – Big Band do Hot Club de Portugal + Marta Hugon
00.00h – Fábrica Braço de Prata (Lisboa) – Bernardo Sassetti & Mário Laginha

Sábado 5 de Julho

19.00h – Fortaleza de Cascais – Ron Carter Foursight
21.00h – CCB (Lisboa) – António Pinho Vargas
21.30h – Cine-Teatro São Pedro (Alcanena) – Kumpania Algazarra
21.30h - Jardins Quinta Magnólia (Funchal) - Rosa Passos + Chucho Valdés Quintet
22.00h - Largo do Monumento Duarte Pacheco (Loulé) – Herbie Hancock
22.00h – Casa da Música (Porto) - Remix Ensemble/ Peter Erskine/ John Parricelli/ Martin Robertson/ Laurence Cottle «Blood on The Floor»
23.00h - 23.00h – Hot Club de Portugal (Lisboa) - Joana Machado "A Casa do Óscar"
23.30h – São Luiz (Lisboa) – Big Band do Hot Club de Portugal + Marta Hugon
23.30h – Ondajazz (Lisboa) – The Shortcuts & Mariana Norton

Domingo 6 de Julho

17.00h - Anfiteatro Keil do Amaral (Lisboa) - Hipnotica
19.00h – Fortaleza de Cascais - Quarteto de Miguel Zenon + Karrin Allyson Trio
22.00h - Jardim Marquês de Pombal (Oeiras) - Herbie Hancock
22.00h – Coliseu (Porto) – Djavan
22.00h – Fortaleza de Sagres - Maria João & Mário Laginha

sexta-feira, 27 de junho de 2008

New York - Tel Aviv



Avishai Cohen Trio
Gently Disturbed
Razdaz Records 2008
18/20

Avishai Cohen nasceu em Israel em 1970 onde estudou piano e contrabaixo na Music & Arts Academy com o Maestro Michael Klinghoffer. Em 1992 mudou-se para Nova Iorque onde frequentou o New School and Mannes College of Music. Tocou com colegas como Brad Mehldau antes de ingressar numa banda de jazz latino, com Abel Rodriguez e Ray Santiago. Esta experiência levou-o a integrar o trio do pianista latino Danilo Perez, antes de ser chamado a integrar o sexteto de Chick Corea, Origin, com quem trabalhou até 2002. Entretanto colaborou com muitos e reputados músicos, como Bobby McFerrin, Roy Hargrove, Herbie Hancock, Nnenna Freelon, Claudia Acuña, Paquito D’Rivera, e ainda a cantora de pop-soul Alicia Keys. Tocou também com a London Philharmonic Orchestra, a Israel Philharmonic Orchestra e The Boston Pops Symphony.
Como líder gravou já nove discos tendo, em 2003, fundado a sua própria editora, a Razdaz Records, com quem grava desde então (é o quarto disco pela Razdaz), depois da sua ligação à Stretch/Concord Records de Chick Corea.
Este é contudo o primeiro disco em trio e também a primeira colaboração com o jovem pianista israelita, de apenas 21 anos, Shai Maestro.
Sendo Cohen também um exímio pianista é no mínimo curiosa, no bom sentido, esta oportunidade dada ao seu jovem compatriota, com um percurso musical muito semelhante ao seu (iniciou os estudos de piano clássico em Israel antes de frequentar, através de sucessivas bolsas de estudo, o Berklee College of Music em Bóston). Já Mark Guiliana, um dos mais promissores jovens bateristas norte-americanos (conta apenas 27 anos de idade), tem um longo historial de colaborações com Cohen.
No entanto este trio anda longe dos standards do jazz norte-americano em matéria de trios de piano. Eu diria que se aproxima muito mais da abordagem europeia (particularmente nórdica) do mesmo. Claramente comandado pelo contrabaixo de Cohen, embora deixando sempre amplo espaço para a criatividade e talento dos outros músicos. A principal diferença reside no facto de Cohen não buscar influências no folclore norte-europeu, como sucede com outros projectos com abordagens similares como os Esbjorn Svensson Trio, Tord Gustavsen Trio, Nik Bartsch Ronin ou o Marcin Wasilewski Trio, mas antes no latino e mediterrânico oriental. Não obstante as semelhanças são evidentes: no que concerne à subversão dos princípios tradicionais do piano trio, às influências pop (de que poderíamos citar outros exemplos como o disco Largo de Brad Mehldau ou o projecto The Bad Plus) ou ainda às reminiscências melódicas barrocas e tradicionais. E com excelentes resultados.
Por outro lado Cohen é indiscutivelmente um extraordinário compositor e comprova-o exemplarmente neste disco. Subversivo em termos rítmicos, complexo nas harmonias e deliciosamente imprevisível nas melodias, assina neste Gently Disturbed um dos mais coerentes, impressionantes e originais registos de 2008.
Não é à toa que a Revista Downbeat lhe chamou um visionário de proporções globais!
Gently Disturbed é uma maravilhosa mistura de tradição e contemporaneidade, com um apelo melódico irresistível, a que se junta um invulgar dinamismo e originalidade na composição.
Belas e complexas melodias, de inspiração clássica, são servidas por subtis mas contínuas mudanças rítmicas e harmónicas. O resultado é um disco hipnótico, sedutor e profundo. Soberbamente interpretado.
Seguramente um dos melhores trabalhos do ano. Tema extraído do disco Gently Disturbed (Razdaz Records, 2008) com fotos de Eric Herbelin.

Festival Jazz Im Goethe-Garten JIGG 4



Por iniciativa do Goethe-Institut Portugal vai decorrer de 8 a 24 de Julho de 2008 o Festival Jazz Im Goethe-Garten JIGG 4. Durante o mês de Julho vão desfilar, às terças e quintas feiras, sempre às 19.00h, pelo jardim do Goethe Institut, no Campo Mártires da Pátria em Lisboa, alguns dos mais destacados intérpretes do novo jazz europeu, sendo cada dia dedicado a um país diferente.
Para os interessados aqui fica o programa completo:

08.07.2008
LARGO feat. Gast Waltzing (Luxemburgo)

Gast Waltzing trompete
David Laborier guitarra eléctrica
Rom A. Heck baixo eléctrico
Thomas Bracht teclados
Rainer Kind bateria

De formação clássica e com longa carreira de compositor para cinema, Gast Waltzing, trompetista virtuoso, fundador do ensino do jazz no Conservatório do Luxemburgo, materializa no projecto Largo a sua visão do jazz – eclética e eléctrica - temperando universos díspares e construindo um novo passo em relação ao que nos habituou.

10.07.2008
FUZZ NOIR (Áustria)

Raphael Preuschl baixo eléctrico
Michael Prowaznik bateria
Peter Rom guitarra eléctrica
Wolfgang Schniftner sax alto

O jazz da Áustria da nova geração, com identidade, enérgico e aberto, tal como um espelho concavo que reflecte, em superior interacção, campos de gravitação que explodem ocasionalmente, ancorados em formas e tecidos rítmicos complexos, assim como no desenho original das composições.

15.07.2008
SING SING PENELOPE (Polónia)

Tomasz Glazik sax tenor e barítono, flauta sint.
Rafal Gorzycki bateria
Wojciech Jachna trompete
Daniel Mackiewicz piano eléctrico, órgão, tabla, perc.
Patryk Weclawek baixo eléctrico, contrabaixo, perc.

Mais uma revelação da Polónia onde o grupo foi considerado dos melhores na categoria de novos talentos. A música de SSP explora electrónica e psicadelismo, numa linha milesdavisiana, preservando e ampliando energia e emoções, numa direcção musical claramente pós jazz de reconhecida frescura.

17.07.2008
YURI HONING WIRED PARADISE (Países Baixos)
Yuri Honing sax tenor und soprano
Paul Jan Bakker guitarra eléctrica
Frank Möbus guitarra eléctrica
Tony Overwater baixo eléctrico
Joost Lijbaart bateria

Oriundo da largamente referenciada Dutch Jazz Scene que tantas figuras de relevo deu ao jazz, o saxofonista Yuri Honing, surgido nos anos 1990, demonstra neste seu novo projecto que o jazz Europeu sabe ultrapassar a volatilidade do pós modernismo, procurando novas direcções em formas abertas e permitindo criar ao colectivismo da banda sofisticados climas musicais.

22.07.2008
MANUEL MENGIS GRUPPE 6 (Suíça)

Manuel Mengis trompete
Achim Escher sax alto
Christoph Erb sax tenor
Flo Stoffner guitarra eléctrica
Marcel Stalder baixo eléctrico
Lionel Firedli bateria

Originário de Luzern, este sexteto surgiu em 2005, desde logo destacando-se pelas suas convicções: composições originais por instrumentistas de alto nível e uma forte unidade interna numa combinação de pós Bop marcada por uma audácia em empreender intrépidas improvisações, o que permitiu exibir já dois discos na afamada label internacional Hat Hut.

24.07.2008
MATTHIAS SCHRIEFL SHREEFPUNK (Alemanha)

Matthias Schriefl trompete
Johannes Behr guitarras
Robert Landfermann contrabaixo
Jens Düppe bateria

Um trompetista que é uma das mais notáveis vozes a emergir na última década, dotado de uma habilidade e fluido discursivo originais. Instrumentista de excepção, poli facetado, Matthias Schriefl no seu projecto Shreefpunk destila, com provocação criativa, uma música abrasiva que não hesita em integrar signos referenciáveis da actual música urbana.

Os bilhetes custam 5€ e para reservas e informações contactem o Goethe-Institut Portugal.

Jeffery Davis no Hot


Jeffery Davis Quartet
25 de Junho de 2008, 23.00h
Hot Club de Portugal (Lisboa)
****

Jeffery Davis é um jovem de 28 anos nascido no Canadá mas residente em Portugal desde os 4 anos de idade. Começou cedo os seus estudos em percussão. Frequentou o Conservatório Calouste Gulbenkian, em Aveiro, sob a orientação do Professor Vasco Rodrigues, a Escola Profissional de Música de Espinho (EPME) e, em Julho de 1998, frequenta o curso de Verão da Berklee College of Music, nos E.U.A, tendo a oportunidade para trabalhar com os vibrafonistas Gary Burton, Ed Saindon, Dave Samuels e Vitor Mendoza. Ingressa na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo (ESMAE), no Porto, concluindo o curso em Novembro de 2002 com a nota máxima de 20 valores. Em Março de 2002, obtém o primeiro prémio no Concours International de Jazz, em Paris, conquistando uma bolsa de estudo para frequentar o curso na Berklee College of Music. Em Janeiro de 2003, desloca-se para os Estados Unidos, onde inicia o curso de Jazz Performance Vibraphone, na Berklee College of Music, que termina em Maio de 2006. Ganha inúmeros prémios atribuídos pela Berklee, nomeadamente, o prémio de Most Active Mallet Player, o Gary Burton Scholarship e o prémio por excelência académica Dean of Curriculum. Recebe também do IAJE (International Association for Jazz Education) o prémio de Outstanding Musicianship.
É nos Estados Unidos que tem a oportunidade de trabalhar com músicos de jazz, como Hal Crook, Joe Lovano, Gary Burton, Dave Liebman, Dave Samuels, Phil Wilson, Terence Blanchard, Michel Camilo, Steve Swallow, Bob Mintzer, Ed Saindon, Vitor Mendoza, Roswel Rudd, Alex Terrier e Brian Baker, entre outros.
Com este currículo é fácil afirmar que Jeffery Davis é um dos mais promissores músicos nacionais, preparando actualmente o seu primeiro disco, pela editora Tone of a Pitch.
Para esta apresentação no Hot escolheu para acompanhá-lo André Fernandes na guitarra, Nelson Cascais no contrabaixo e Bruno Pedroso na bateria (que substituiu o programado André Machado).
Jeffery Davis é indiscutivelmente um músico brilhante, mostrando não apenas uma técnica admirável como também uma notável e criativa capacidade de improvisação. Além disso revela talento na composição incidindo o reportório apresentado quase exclusivamente em originais seus, o que mais abona as suas inesgotáveis qualidades musicais.
Os acompanhantes mostraram-se igualmente em nível apreciável, designadamente Bruno Pedroso que, com o seu estilo peculiar de preencher cada milímetro da apresentação com variações e improvisações na bateria, enriqueceu significativamente o som do ensemble, marcando bem e de forma inspirada a sua presença.
Podemos pois concluir que, com jovens desta qualidade, o futuro do jazz nacional está não apenas assegurado mas apresenta também perspectivas risonhas de reconhecimento e internacionalização.
Um músico de que vamos, seguramente, ouvir falar muito…

terça-feira, 24 de junho de 2008

Nik Bartsch's Ronin - Modul 42



A ilustrar este minimalismo orgânico e sedutor de Nik Bartsch aqui fica o tema Modul 42, extraído do disco Holon (ECM,2008). Com Nik Bartsch no piano, Sha no sax alto e clarinete baixo, Björn Meyer no baixo, Kaspar Rast na bateria e Andi Pupato na percussão.
As fotos de relógios são uma homenagem a Dalí da autoria de Benoit Jolivet e pretendem ilustrar a precisão pulsante desta relojoaria musical suiça preconizada pelo projecto Ronin.

Minimalismo Orgânico



Nik Bärtsch´s Ronin
Holon
ECM 2008
17/20

Segundo disco pela ECM do pianista suíço Nik Bartsch e da sua banda Ronin (composta por Sha no clarinete baixo e saxofone alto, Björn Meyer no baixo, Kaspar Rast na bateria e Andi Pupato na percussão), depois de Stoa (ECM, 2005). Paralelamente Bartsch mantém outro projecto musical, o grupo Mobile, também já com obra gravada, bem como alguns projectos a solo.
Nik Bartsch nasceu em Zurique em 1971, repartindo a residência entre a sua cidade natal e Berlim. Estudou piano e percussão desde os oito anos de idade e licenciou-se em 1997 pela Musikhochschule de Zurique. Estudou ainda filosofia, linguística e musicologia na Universidade de Zurique entre 1989 e 2001.
A música dos Ronin é definida por Bartsch como Zen-funk, construída a partir de longos rituais de improvisação de onde resultam ideias, depois minuciosamente elaboradas em temas modulares, usando ritmos polimétricos e complexas interligações de padrões e motivos repetitivos. Daqui resulta uma obra profundamente original, vanguardista mesmo, edificada numa pulsação crescente, qual espiral orgânica, de onde partem variações improvisadas (e mesmo silêncios) que compõem um microcosmos musical extremamente apelativo e sedutor, na sua aparente mas riquíssima simplicidade.
Kaspar Rast, o baterista da banda, descreveu-a à revista Modern Drummer como um bio sistema musical consolidado nos mais de 150 concertos já apresentados pelo grupo e nos milhares de workshops organizados por Bartsch (designadamente no Bazillus Club em Zurich, base do grupo, onde semanalmente se encontram).
Apesar da equipa ser idêntica, dos músicos aos produtores (Manfred Eicher e Gérard de Haro) passando pelo estúdio de gravação (Studios la Buissonne em França) é contudo evidente a progressão deste Holon face ao anterior Stoa. Os músicos estão mais soltos, o estilo consolidado, as ideias mais frescas e apelativas. O projecto Ronin, até pela sua característica orgânica tão apregoada pelos músicos, ganhou obviamente muito com a estrada e os concertos que fez: tornou-se mais coeso, mais fluente, mais objectivo na concretização das ideias musicais que preconiza. Há em Holon um evidente processo colectivo de composição, que engloba a criação dos temas, os solos (pequenas variações frásicas dentro da estrutura de composição, da responsabilidade de todos os músicos envolvidos) e a própria produção do disco, numa criação verdadeiramente colectiva e quase integralmente acústica (a única excepção é o baixo eléctrico de Björn Meyer, já que o Fender Rhodes utilizado em Stoa foi agora abandonado em detrimento do piano acústico).
Este zen-funk de Bartsch (ou ritual groove music, como também lhe chama) é obviamente influenciado pelo movimento minimalista, patente na componente repetitiva das suas composições, mas recusa abertamente a integração num universo marcadamente erudito ou intelectual, antes procurando raízes na música tradicional e folclórica, nomeadamente sueca (por influência de Meyer, que esteve ligado a vários projectos folk na Suécia) e romena (esta trazida da infância de Bartsch). Não estranha assim que, por entre as pulsações minimalistas de Holon surjam reminiscências orientais, geralmente introduzidas pelo saxofone de Sha (que a mim me pareceram mais indianas que romenas, designadamente nos temas Modul 42 e Modul 45).
Em suma trata-se de um trabalho extremamente homogéneo e meritório. Um minimalismo sedutor, pulsante, envolvente, que tanto consegue transmitir perturbação como lirismo. Sobre melopeias repetitivas, minuciosas, hipnóticas e geométricas o grupo desenvolve deliciosas nuances evocativas dos mais variados ambientes e influências, ora de forma forte e dramática ora subtil e envolvente.
Este Holon é assim uma jóia soberbamente construída e que funciona com a perfeição e graciosidade de um relógio suíço.
Um disco inspirado e inspirador.

I Could Have Done More - Antonio Faraó



Antonio Faraó é um excelente pianista italiano, nascido em 1965 e formado pelo Conservatório Giuseppe Verdi de Milão. Apesar da sua formação clássica cedo se interessou pelo jazz tendo já editado oito discos como líder, desde 1991, com músicos tão importantes quanto Franco Ambrosetti, Billy Hart, Jack Dejonnette, Chris Potter, Drew Gress ou Daniel Humair.
O tema "I Could Have Done More" é da autoria de John Williams e foi extraído da banda sonora do filme "A Lista de Schindler" de Steven Spielberg. Foi incluído por Faraó no seu disco "Next Stories" (Enja, 2002)o qual contou ainda com a participação de Ed Howard, Gene Jackson e Pibo Marquez.
A ilustrá-lo escolhi o tema das mãos... As mãos do pianista, que aqui pretendem igualmente homenagear Esbjörn Svensson, brilhantemente fotografadas por Chris Sofopoulos.
Espero que gostem...

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Esbjörn Svensson (1964-2008)



Morreu no passado dia 14 de Junho, num acidente de mergulho perto de Estocolmo, o músico sueco Esbjörn Svensson, um dos mais brilhantes pianistas e compositores do jazz europeu da actualidade. Contava apenas 44 anos de idade.
Esteve várias vezes entre nós, tendo presenteado o público lisboeta com um memorável concerto no CCB, em 22 de Julho de 2007, de que dei nota oportuna nas presentes páginas.
A música do Esbjörn Svensson Trio era original, ousada, integrando elementos oriundos de géneros tão dispares como a pop electrónica ou a música clássica, mas com toda a criatividade, improvisação e fusão que caracterizam o jazz moderno bem presentes, num estilo muito característico da escola escandinava que eles personificavam na perfeição.
Uma enorme perda que deixa o mundo da música improvisada órfão de um dos seus mais promissores autores, precisamente no auge da sua carreira, iniciada em 1993 com o disco "When Everyone Has Gone" e abruptamente terminada este mês, quando o trio ultimava a gravação de mais um trabalho discográfico.
Aqui fica a minha homenagem póstuma ao Esbjörn Svensson Trio, através do vídeo "When God Created the Coffeebreak ao vivo no festival de Jazz de Juan Les Pins, França, em 19 de Julho de 2003.
Oiçam também um dos seus "hinos" o belíssimo "Serenade for the Renegade".

domingo, 22 de junho de 2008

Maria Rita nos Coliseus



Aos 30 anos de idade, e após apenas três discos editados, Maria Rita Costa Camargo Mariano, filha da saudosa Elis Regina e do pianista e compositor César Camargo Mariano é hoje, indiscutivelmente, um ícone da canção brasileira com uma carreira internacional consolidada com a conquista de três Grammys.
Maria Rita soube esperar pelo momento certo para iniciar a sua carreira discográfica e rodear-se dos melhores músicos e compositores brasileiros pelo que não é de todo supreendente a forma como irrompeu pelos tops de vendas de todo o mundo de forma avassaladora.
Os seus críticos acusam-na de tentar imitar a mãe o que só abona o talento desta jovem cantora brasileira (como se Elis Regina fosse imitável e a forma como, por vezes, a voz de Maria Rita faz lembrar a da mãe fosse um defeito...).
Pelas reminiscências de Elis Regina na voz de Maria Rita só podemos estar gratos!
Não só a única filha de Elis canta, e muito bem, como apresenta um reportório extremamente cuidado, composto por originais dos mais conceituados compositores brasileiros e com soberbos arranjos, distintos e personalizados, que conseguem extrair dos temas e da voz da cantora o exotismo tropical da música popular brasileira, temperado por um toque de jazz e de blues que o enriquece a alarga consideravelmente o leque de públicos a que se destina.
O sucesso de Maria Rita não é um defeito mas antes o reconhecimento das suas inegáveis qualidades de cantora e do enorme profissionalismo e talento investido na sua carreira e na produção dos seus discos.
Para ser desfrutado (a preços proibitivos...) esta semana nos Coliseus de Lisboa e do Porto.

Agenda Jazz 23 a 29 de Junho


2ª feira 23 de Junho

20.30h – Hotel Dª Filipa (Almancil) – Orquestra Jazz de Lagos

3ª feira 24 de Junho

22.00h – Coliseu (Lisboa) – Maria Rita
22.30h – Ondajazz (Lisboa) – Cottas Club Jazz Band
23.00h – Hot Club (Lisboa) – Jeffery Davis Quartet

4ª feira 25 de Junho

22.00h – Coliseu (Lisboa) – Maria Rita
22.30h – Ondajazz (Lisboa) – Aga Zaryan Trio – Tributo Gualdino Barros
23.00h – Hot Club (Lisboa) – Jeffery Davis Quartet
23.00h - Braço de Prata (Lisboa) - The Lights

5ª feira 26 de Junho

22.00h – Cafetaria Quadrante-CCB (Lisboa) – LopesLaneFoni
22.00h – Centro das Artes (Sines) - Filipe Raposo Trio + Mikado Lab
22.30h - Braço de Prata (Lisboa) - Quinteto Jorge Reis
23.00h – Hot Club (Lisboa) – Sara Serpa Quinteto
23.00h – Ondajazz (Lisboa – Adriana Miki
23.00h – Servartes (Porto) - Budda Power Blues
23.30h - Braço de Prata (Lisboa) - Marta Plantier e Luis Barrigas
00.30h – Centro das Artes (Sines) – Jam Session
01.00h - Braço de Prata (Lisboa) - Pedro Madeleno "Dissidentes"

6ª feira 27 de Junho

21.30h – Jardim da Fonte Térrea (Odemira) - Astedixie Jazz Band
22.00h – Malaposta (Odivelas) - Trio de Vasco Agostinho
22.00h – Coliseu (Porto) – Maria Rita
22.00h – Centro das Artes (Sines) - Sexteto Paulo Perfeito + Carlos Barretto Trio
23.00h - Hot Club (Lisboa) – Sara Serpa Quinteto
23.00h – HotFive (Porto) - Daniela Galbin Band
23.00h – Servartes (Porto) – Trio Pagú
23.00h – Tambor Q Fala (Seixal) - Cicero Lee Trio
23.30h – Ondajazz (Lisboa) – Jorge Reis
23.30h – São Luiz (Lisboa) – Big Band do Hot Club de Portugal
23.30h – CC Vila Flor (Guimarães) - Politonia
23.30h - Braço de Prata (Lisboa) - Júlio Resende Trio
00.30h - Centro das Artes (Sines) - LopesLaneFoni

Sábado 28 de Junho

21.30h – Auditório Espinho - Jeffery Davis Quarteto
22.00h – Centro de Artes (Sines) - Vânia Fernandes & Júlio Resende + Zé Eduardo Unit
22.00h – Cine-Teatro de Alcobaça - Kenny Garrett Quartet
22.30h – Contrabaixo Bar (Mira) - António Pedro Neves 4tet
23.00h – Hot Club (Lisboa) - Sara Serpa Quinteto
23.00h – Servartes (Porto) – Trio Pagú
23.00h – Hotfive (Porto) - Confusion
23.00h – Tambor Q Fala (Seixal) - Mário Franco Trio
23.00h - Braço de Prata (Lisboa) - Mikado Lab
23.00h - Braço de Prata (Lisboa) - António Eustáquio e Carlos Barretto
23.30h – São Luiz (Lisboa) – Big Band Hot Club de Portugal
00.30h – Centro de Artes (Sines) – Jam Session
01.00h - Braço de Prata (Lisboa) - LopesLaneFoni

Domingo 29 de Junho

17.00h – Jardim do Campo Grande – Loopless
18.00h – Centro das Artes e Cultura do Tejo (V.V. Ródão) - LopesLaneFoni

Jazz Kitsch



Carlos Bica + Matéria Prima
21 de Junho de 2008, 21.30h
Grande Auditório da Culturgest (Lisboa)
*****

Uma tournée nacional de Carlos Bica, ainda para mais com um projecto musical novo, é um acontecimento digno de destaque, como já tive ocasião de expressar nestas mesmas páginas.
Dividido entre a Alemanha e Portugal, com passagens frequentes pelos mais variados palcos do mundo (ainda esta semana vai iniciar uma tournée de cinco concertos por terras canadianas, com o trio Azul, de que fazem ainda parte Frank Möbus e Jim Black), Bica é hoje um dos mais internacionais músicos de jazz portugueses e, permito-me acrescentar, de forma inteiramente merecida.
A sua abordagem da música, e do contrabaixo em particular, desenvolve-se, fruto da sua enorme criatividade e das múltiplas identidades recolhidas, de modo peculiar e extremamente original, algo raro nos tempos que correm.
Além de uma invulgar capacidade para atribuir protagonismo ao contrabaixo, garantindo-lhe importantes funções melódicas nos ensembles onde actua, frequentemente pelo uso do arco (ao que não será estranha a sua passagem por várias orquestras em Portugal e na Alemanha, como a Orquestra de Câmara de Lisboa, a Bach Kammerorchester ou a Wernecker Kammerorchester), Carlos Bica revela ainda uma assinalável capacidade para fundir os pressupostos dos mais variados géneros e estilos musicais numa linguagem própria e original, que não se intimida pelo uso de clichés ou de sonoridades estranhas ao jazz (do pop à música popular, passando pelo tango, pela polka, pela valsa e até pelo vulgar solidó, hoje impropriamente designado “pimba”).
Atrevo-me a dizer que, se Pedro Almodovar tocasse jazz, tocaria seguramente algo parecido com Carlos Bica, de tal modo me parecem semelhantes as abordagens artísticas de ambos, embora expressadas em formas de arte completamente distintas. O que os une é a rara capacidade de fazerem arte a partir do mais básico e “foleiro” das culturas urbanas onde se integram, sejam as fotonovelas de Corin Tellado, ou os clichés musicais populares da Alemanha ou de Portugal.
A música de Bica pode assim integrar-se num universo pouco explorado a que poderíamos chamar “jazz kitsch”. Mas ao contrário do que sucede frequentemente com os projectos kitsch na área do pop, a música de Bica é tudo menos simples ou minimalista. O ponto de partida podem ser três ou quatro acordes ouvidos até à exaustão nas rádios de todo o mundo mas, a partir daí, Carlos Bica consegue criar todo um universo musical rico e sedutor, onde o jazz, a música erudita contemporânea e a música popular se cruzam de modo único e apelativo, resultando em algo novo, complexo e inovador.
A acompanhá-lo neste projecto “Matéria Prima” estão João Paulo Esteves da Silva no piano, teclados e acordeão, uma colaboração antiga e prolífica (e muito curiosa pois musicalmente João Paulo parece estar nos antípodas deste universo kitsch de Carlos Bica), Mário Delgado na guitarra, um músico cuja superior técnica e capacidade de improvisação casam na perfeição com o arrojo musical de Bica, o jovem João Lobo na bateria, rigoroso e competente como é habitual, e o alemão Matthias Schriefl no trompete (e mais alguns gadgets…) complemento directo dos predicados musicais de Bica, cabendo-lhe as principais tarefas de “decomposição” musical dos clichés lançados às feras pelo grupo.
Seguramente um dos mais ousados e originais projectos musicais nacionais actualmente em curso e que, inexplicavelmente, ainda não foi gravado em disco.
Ficamos sofregamente à espera.

sábado, 21 de junho de 2008

Drucilla - Nicholas Payton Quintet



Drucilla, composta por Walter Payton (pai de Nicholas Payton) é seguramente um dos temas mais conseguidos do novo trabalho de Nicholas Payton, Into the Blue (Nonesuch Records, 2008). Esta gravação foi feita em Setembro de 2007, no Piety Street Studios em New Orleans, durante a gravação do disco. Conta com NICHOLAS PAYTON no trompete, KEVIN HAYS no piano, VICENTE ARCHER no contrabaixo, MARCUS GILMORE na bateria e DANIEL SADOWNICK na percussão.

Into the Blue



Nicholas Payton
Into the Blue
Nonesuch Records 2008
14/20

Nicholas Payton foi um menino-prodígio do trompete, profissional desde os doze anos de idade (afinal na América também há trabalho infantil), na sua cidade natal de New Orleans. Nascido numa família de músicos, o pai Walter Payton é contrabaixista e compositor (é o autor de dois dos temas inseridos neste disco, Drucilla, uma balada dedicada à mulher e mãe de Nicholas, também ela pianista e cantora de jazz e Nida) foi acompanhado, durante os anos de aprendizagem por dois grandes mestres da cidade berço do jazz: Clyde Kerr Jr. no “New Orleans Center for Creative Arts” e Ellis Marsalis na “University of New Orleans”. E foi pela mão dos Marsalis que chegou à Big Apple, mais precisamente a convite de Wynton Marsalis que o levou para o “seu” Jazz at Lincoln Center, tornando-se um habitué nas apresentações da instituição nos seus primeiros anos em Nova Iorque.
O percurso discográfico de Payton começou de modo clássico evocando os mestres da sua Louisiana natal, designadamente o trompetista Louis Armstrong, a quem dedicou vários dos seus trabalhos. Trabalhou com lendas vivas como Doc Cheatham (num duo epónimo de 1997 vencedor de um Grammy), Hank Jones, Elvin Jones, e Ray Brown. Mais tarde experimentou os sons groovy e funky em “Sonic Trance”, num jazz carregado de elementos electrónicos e de hip-hop que chocou os seus fans…
No seu primeiro disco após os 30 anos de idade, estreia igualmente pela Editora Nonesuch, escolheu Bob Belden para a produção e New Orleans para a gravação, juntando no estúdio a sua road-band composta pelo pianista Kevin Hays, que toca igualmente (em demasia…) Rhodes, o contrabaixista Vincent Archer, Marcus Gilmore (o neto de Roy Haynes) na bateria e Daniel Sadownick, na percussão.
Para este trabalho propôs-se encontrar um meio-termo entre o classicismo dos seus trabalhos iniciais e o vanguardismo da sua experiência “psicadélica” em Sonic Trance.
Infelizmente parece-me que a mediania se apoderou em demasia do disco, o qual se mostra, aparte alguma honrosas e deliciosas excepções, demasiado convencional e parco em ideias.
No princípio todas as expectativas são legítimas porquanto Drucilla revela-se uma das pérolas deste trabalho. Uma balada romântica em blues e em que o trompete domina suave, melancólico e misterioso sob os rendilhados da secção rítmica. O tema cresce e ganha em swing o que porventura perde com o abandono do lirismo inicial. Original, apelativo e muito conseguido. Let it Ride e Tryptich porém, levantam as primeiras dúvidas… Se o primeiro cativa pelo ritmo latino onde o rhodes aliás até confere um toque à Jobim que não compromete, embora estendendo-se eternamente, o segundo revela-se quase meramente ambiental, longo e abstracto, embora com um interessante trabalho na percussão. Com Chinatown, o clássico tema de Jerry Goldsmith retirado do filme homónimo de Roman Polanski, reconciliamo-nos de imediato com o trompetista. Belo e nostálgico e com Kevin Hays, agora no piano acústico, a acentuar a toada lenta e nocturnal do standard, num momento alto do disco. Daqui para a frente este trabalho desilude quase por completo. Repetitivo, sem nada de novo a acrescentar, numa toada morna, algo maçadora até, pouco ambiciosa e carregada de clichés. Payton até arrisca cantar no tema Blue, de forma claramente pouco conseguida. Um disco manifestamente aquém das capacidades dos músicos envolvidos, mormente de Payton que já deu mostras de ser capaz de muito mais e melhor.
Enfim, ficam Drucilla e Chinatown para a posteridade, porque o resto, infelizmente, não deixa muitas saudades.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Rendez Vous - Festival Jazz de Setúbal



Foi já divulgado ao público o programa definitivo do primeiro Festival de Jazz de Setúbal, denominado "Rendez-Vous" que irá decorrer nos próximos dias 10, 11 e 12 de Julho de 2008 no Fórum Municipal Luísa Todi & Soc. Musical Capricho Setubalense – na cidade de Setúbal, com organização da World Community of People - organizadora e produtora independente, em conjunto com a Câmara Municipal de Setúbal, Sociedade Musical Capricho Setubalense e Trem Azul - Jazz Store.:

1º Dia (Quinta, 10 de Julho)
21:35 – JOÃO PAULO / RICARDO DIAS / PETER EPSTEIN (Fórum Municipal Luísa Todi)
23:00 – ORQUESTRA JAZZ HUMANITÁRIA (Sociedade Musical Capricho Setubalense)
2º Dia (Sexta, 11 de Julho)
21:30 – BERNARDO SASSETTI (Fórum Municipal Luísa Todi)
00:00 – DIGGIN’ TRIO (Sociedade Musical Capricho Setubalense)
3º Dia (Sábado, 12 de Julho)
21:35 – JÚLIO RESENDE 4TETO (Fórum Municipal Luísa Todi)
00:00 – ZUULNATION (Sociedade Musical Capricho Setubalense)

Os bilhetes do Festival já estão à venda na bilheteira do Fórum Municipal Luísa Todi, e nas lojas Bliss, Fnac, Livraria Bulhosa (OeirasPark e C.C.Cidade do Porto), Lojas Viagens ABREU, Worten Postos Megarede e http://www.ticketline.pt, estando presentes nas seguintes modalidades:
Passe de 3 dias – 35€
Bilhete diário (Plateia) – 15€
Bilhetes diário (Tribuna) – 10€
Todos os bilhetes terão incluído a entrada nos after-hours.

Mais informações poderão ser obtidas em www.rendezvous.pt.vu http://www.worldcommuntiyofpeople.pt.vu e http://www.myspace.com/worldcommunityofpeople

Rendez Vous - Festival Jazz de Setúbal

terça-feira, 17 de junho de 2008

Aprés Le Jeu, o Jazz Barroco de Yusef Lateef e dos Irmãos Belmondo

Stephane & Lionel Belmondo & Yusef Lateef - Aprés le Jeu


Yusef Lateef (nasceu William Emanuel Huddleston, mas mudou de nome nos anos 50 ao converter-se ao islamismo Ahmad) é um dos mais antigos saxofonistas e flautistas norte-americanos, com um passado que remonta à suas colaborações com Dizzy Gillespie, nos já longínquos anos 40. Apesar de octogenário gravou em 2005 um belíssimo trabalho com os irmãos Lionel e Stéphane Belmondo, denominado "Influence" (B Flat Recordings) onde o ambiente world-jazz que há muito caracteriza a sua música (particulamente as influências orientais) se cruzou magistralmente com a música barroca, originando uma obra ímpar e extremamente bela.
A ilustrá-lo aqui fica o tema "Aprés le Jeu" com Lateef na flauta, Lionel Belmondo no sax, Stéphane Belmondo no trompete, Glenn Ferris no trombone, Laurent Fickelson no piano, Paul Imm no contrabaixo e Dre Pallemaerte na bateria. As fotos são da autoria de Wenche Aune. Podem vê-las em http://www.pbase.com/wenche_46/nature_bw

domingo, 15 de junho de 2008

Azul é o Mar - Carlos Bica & Azul



Enquanto esperamos pelos temas do novo trabalho podemos ouvir as gravações do Trio Azul, com Carlos Bica no contrabaixo, Frank Möbus na guitarra e Jim Black na bateria.
O tema é "Azul é o Mar", extraído do disco Azul (Universal, 1996).

Carlos Bica & Matéria Prima



Entre os músicos de jazz nacionais, Carlos Bica é seguramente um dos mais reputados, dentro e fora do país, fruto dos inúmeros projectos em que se envolveu, designadamente com o guitarrista alemão Frank Möbus e o baterista norte-americano Jim Black, com quem formou o seu trio Azul. Ao álbum de estreia "Azul" em 1996, seguiram-se "Twist" em 1999, "Look what they've done to my song" em 2003 e "Believer" em 2006, o primeiro com a chancela da Universal/Emarcy e os restantes da Enja. A estes juntam-se o disco "Single" (Bor Land, 2005) a solo e "Diz" (Enja, 2000) com Ana Brandão e João Paulo. Como sideman gravou ainda com Sven Klammer, Kalle Kalima, Kristiina Tuomi, Carsten Daerr, John Ruocco, Tino Derado, Gebhard Ullman, Jens Thomas, Paul Brody, Andreas Schmidt, Michael Griener, Rainer Winch, Peter Epstein, João Paulo Esteves da Silva, Maria João, Mário Laginha, José Peixoto, José Salgueiro, Martin Fredebeul, Gilson de Assis, entre outros.
Carlos Bica é actualmente uma das figuras mais importantes do jazz nacional (e do alemão, também...). È pois um acontecimento maior o que vamos testemunhar esta semana: a apresentação de um novo projecto musical de Carlos Bica, denominado "Matéria Prima" e que conta com alguns dos melhores músicos nacionais. Para além de Bica no contrabaixo, o projecto conta com João Paulo no piano, Mário Delgado na guitarra, João Lobo na bateria (a afirmar-se, cada vez mais como uma referência na bateria, depois dos projectos com Júlio Resende e Enrico Rava) e Matthias Schriefl no trompete e fliscórnio.
Para ouvir esta semana, por todo o país: dia 19 em Faro, 20 no Porto e 21 em Lisboa.

Agenda Jazz 16 a 22 de Junho


2ª feira 16 de Junho

22.00h – Crew Hassan (Lisboa) – Thollem Mcdonas

3ª feira 17 de Junho

19.30h – Trem Azul (Lisboa) - Thollem Mcdonas
22.30h – Ondajazz (Lisboa) – Big Band Reunion

4ª feira 18 de Junho

22.00h – Teatro Viriato (Viseu) – Joe Fonda
22.00h – Casino da Figueira da Foz – António Pinho Vargas & Zé Nogueira
22.30h – Ondajazz (Lisboa) – Triângulo

5ª feira 19 de Junho

21.30h – Livraria Trama (Lisboa) – Box of Blues
21.30h – Centro de Artes Performativas do Algarve (Faro) – Carlos Bica & Matéria Prima
22.00h – Cafetaria Quadrante-CCB (Lisboa) - Peter Brötzmann & Zlatko Kaucic Duo
22.00h – Braço de Prata (Lisboa) - Thollem Mcdonas & Duassemicolcheiasinvertidas
23.00h – Maxime (Lisboa) – Jorge Ferraz Trio
23.00h – HotFive (Porto) – João Guimarães, Damien Cabaud & Bruno Pedroso

6ª feira 20 de Junho

21.30h – Jardim da Fonte Térrea (Odemira) – JazzTaParta (Tassjazz)
22.00h – Sítio das Fontes (Estombar – Lagoa) – J. D. Walker Quartet
22.00h – Casa da Música (Porto) – Carlos Bica Quarteto
22.00h – Espaço Cultural Pedro Remy (Braga) – Sara Serpa Quinteto
23.00h – HotFive (Porto) – Budda Power Blues
23.30h – Ondajazz (Lisboa) – Transatlantistas
23.30h – CC Vila Flor (Guimarães) – Gonçalo Marques Trio
00.00h – Maus Hábitos (Porto) – Susana Santos Silva Quinteto

Sábado 21 de Junho

21.30h – Culturgest (Lisboa) – Carlos Bica & Matéria Prima
22.00h - Sítio das Fontes (Estombar – Lagoa) – Septeto de Victor Zamora
23.00h – Tambor Q Fala (Seixal) – Dudas “Ficções”
23.00h – HotFive (Porto) – Budda Power Blues
23.00h – Servartes (Porto) – Sara Serpa
23.30h – Ondajazz (Lisboa) – Sofia Vitória e Júlio Resende

Domingo 22 de Junho

17.00h – Jardim do Campo Grande (Lisboa) – Cross Currents
22.00h - Sítio das Fontes (Estombar – Lagoa) – Steve Nelson Quartet

sexta-feira, 13 de junho de 2008

James Carter - Pour Que Ma Vie Demeure



Um dos mais belos temas incluídos no disco "Present Tense". Um original de Django Reinhardt, com fotos de Nova Iorque, da autoria de Dave Beckerman.

A Contemporaneidade dos Clássicos


James Carter
Present Tense
Emarcy/Universal 2008
16/20

James Carter nasceu em Detroit em 1969 e começou a tocar saxofone com 11 anos de idade. Cresceu numa família de músicos, a mãe tocava piano e violino, o seu irmão Kevin era guitarrista e outro irmão Robert, vocalista na banda de soul Nature’s Divine. É primo da violinista Regina Carter, com quem aliás gravou em 2000 o disco “Chasin’ the Gypsy”, de homenagem a Django Reinhardt.
Ainda adolescente frequentou as escolas Blue Lake Fine Arts e Interlachen Classical Music. Como membro do Blue Lake Jazz Ensemble (um combo de alunos da escola) fez uma tournée pela Escandinávia em 1985 e depois por toda a Europa com a Blue Lake Monster, uma banda da faculdade. Foi o suficiente para despertar o interesse de Wynton Marsalis que o convidou, em 1986, para substituir o seu irmão Branford no grupo que liderava. Em 1988 conheceu Lester Bowie e mudou-se para Nova Iorque, integrando o Lester Bowie's Organ Ensemble. Mas foi só em 1993 que gravou o seu primeiro disco como líder, “J.C. On the Set” pela Columbia. Em 1996 estreou-se como actor de cinema (interpretando precisamente um saxofonista de jazz nos anos 40, personagem inspirada em Ben Webster) no filme Kansas City de Robert Altman.
Este Present Tense interrompe um período de três anos sem gravar e é o seu disco de estreia pela Emarcy/Universal. Conta com Dwight Adams no trompete e fliscórnio, D.D. Jackson no piano, James Genus no contrabaixo, Victor Lewis na bateria e ainda com as participações de Rodney Jones na guitarra e de Eli Fountain na percussão, em três temas cada um.
Duas notas ressaltam de imediato da audição atenta deste trabalho: a enorme versatilidade de Carter que, praticamente, salta de instrumento em instrumento ao longo do disco com uma técnica invejável. Saxofone soprano, tenor e barítono, flauta e clarinete baixo sucedem-se ao longo do disco com enorme coerência e superior interpretação por James Carter, ao sabor daquilo que os temas lhe pedem e inspiram. Mas mais impressionante ainda do que a sua versatilidade instrumental é a capacidade revelada para mergulhar na história do jazz e construir, nas suas raízes mais profundas, a sua música. Além de três originais, curiosamente um samba e um bossanova de ar retro e profundamente imbuídos na cultura musical norte-americana (Sussa Nita, um samba-jazz com algumas influências cubanas, e Bossa J.C., uma bossanova ao estilo Jobim mas com um solo de sax bastante improvisado, brilhando também em ambas a guitarra de Rodney Jones e a percussão de Eli Fountain) e ainda um blues, Bro. Dolphy, de homenagem ao saxofonista e clarinetista Eric Dolphy, tocado no clarinete baixo, encontramos uma séria de pérolas perdidas da história do jazz, às quais Carter introduz sangue novo com um toque de contemporaneidade, mas sempre em profundo respeito pela sua identidade e legado. São elas "Rapid Shave", um tema hard bop do trompetista Dave Burns, o clássico "Pour Que Ma Vie Demeure", balada escrita (e curiosamente nunca gravada) por Django Reinhardt, o tema "Song of Delilah", escrita por Victor Young para o filme de 1949, Sansão e Dalila, que Carter deconstrói num free-bop, com alguns traços de hip-hop na percussão, o delicioso Dodo’s Bounce do pianista dos anos 40, Dodo Marmarosa, carregado de swing e que Carter interpreta superiormente na flauta (também com um belíssimo solo de guitarra de Rodney Jones), Shadowy Sands, outra balada latina interpretada no clarinete baixo, composta nos anos 40 pelo pianista Jimmy Jones, e Hymn of the Orient, tema de puro e divertido (ainda que pouco oriental) bop, da autoria do saxofonista Gigi Gryce (que tocou nos anos 40 com Clifford Brown). A fechar o disco um standard em estilo clássico e elegante, "Tenderly" de Walter Gross, composto em 1946 quando este integrava a orquestra de Paul Whiteman.
O universo musical de Carter revelado neste disco é assim fortemente influenciado pela estética bopista dos anos 40. Não obstante, o saxofonista (e flautista, e clarinetista…) constrói algo de novo nesses seguros alicerces, com um olho no futuro e outro no passado… Apesar de revelar uma técnica superior e uma inquestionável capacidade de inovar, Carter parece ser um tradicionalista no coração (a que a presença de Wynton Marsalis na sua formação poderá não ser totalmente alheia).
Desta dualidade resulta um notável trabalho de recuperação dos clássicos esquecidos do jazz, mas sempre com os ecos da contemporaneidade a seduzirem o ouvinte.
Coisa rara nos tempos que correm: um músico tão versátil na história do jazz como na escolha e técnica instrumental.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Charlie Haden - For Turiya



Charlie Haden é um dos mais reputados contrabaixistas norte-americanos com um passado que o liga a Portugal. Desde as memoráveis passagens pelo Estoril Jazz (algumas que o levaram até à Rua António Maria Cardoso, às ordens da PIDE) até à colaboração com Carlos Paredes, Charlie Haden passou muito tempo e fez muitas amizades entre nós. Este tema é uma composição sua escrita nos anos 70 e objecto de várias gravações, com Jan Garbarek, Egberto Gismonti ou mais recentemente com o guitarrista italiano Antonio Forcione. Esta versão contudo foi incluída no disco "First Song" (Soul Note, 1990) com Enrico Pieranunzi no piano e Billy Higgins na bateria e é, para mim, a mais bela de todas. Com fotos de Bart Aldrich.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Onanismo Musical


Twines of Colesion
Michaël Attias Quintet

9 de Junho de 2008, 21.30h
Pequeno Auditório da Culturgest (Lisboa)
***

Pedro Costa propôs-nos mais uma provocação com este Twines of Colesion. Partindo de uma formação clássica em quinteto de jazz (aos dois saxofones de Michael Attias e Tony Malaby, juntou-se o piano de Russ Lossing, o contrabaixo de John Hebert e a bateria minimal de Satoshi Takeishi) este grupo liderado pelo israelita Michael Attias deconstrói o jazz.
Apesar de todos eles possuírem sólida formação jazzística, Attias foi aluno de Lee Konitz e tocou com músicos tão importantes quanto Marc Ribot, Anthony Coleman, Marc Helias, Paul Motian ou Tom Rainey, Malaby foi membro da Liberation Music Orchestra de Charlie Haden, Lossing tem formação clássica e tocou com Dave Liebman, Mat Maneri ou Mark Dresser, Hebert trabalhou décadas com Andrew Hill e faz parte da Maria Schneider Orchestra e Takeishi com Ray Barretto, Anthony Braxton, Randy Brecker ou Rabih Abou-Khalil, o seu trabalho viaja pelas fronteiras musicais, particularmente pelas do jazz.
Não se trata aqui de buscar a ressonância natural do cosmos, como em Sei Miguel, mas antes de pegar nas sonoridades tradicionais do jazz e revertê-las, abdicando quase integralmente da melodia, e construindo sucessivas harmonias e ritmos, que embora ambientais, evocam inequivocamente o universo do jazz e ocasionalmente também a música do médio oriente (ou não fosse Attias israelita de ascendência marroquina).
Para tal fazem uso dos seus esplêndidos dotes técnicos e sem nunca cair no minimalismo. A música de Attias é cheia e preenchida, pelos seus solos virtuosos no sax alto, pelos de Tony Malaby no sax soprano e tenor, pelas soberbas improvisações de Hebert no contrabaixo e pelas poderosas arrancadas de Takeishi na bateria (que apesar de minimalmente composta por uma caixa, um bombo e dois pratos, produz mais ritmo do que um concerto de hard rock!). Apenas a presença de Russ Lossing no piano teve laivos de minimalismo, com uma abordagem mais conceptual e contemporânea, claramente complementar relativamente aos restantes músicos e rejeitando intencionalmente o protagonismo (que ainda assim surgiu em dois ou três solos interessantes).
O resultado é interessante mas talvez demasiado cerebral… Ocasionalmente o jazz emerge deste anti-ensemble, enérgico e vivo, apesar de puramente ambiental. No entanto não posso deixar de pensar como soariam estes excelentes músicos em circunstâncias menos conceptuais (aliás não é preciso pensar muito pois todos eles tocam inseridos em diferentes projectos e ainda recentemente admirei as qualidades de Hebert integrado no quarteto de Marc Copland).
O experimentalismo é essencial no processo criativo. Ele permite abrir novos caminhos ao desenvolvimento musical. Mas se levado ao limite, cristalizado numa linguagem musical puramente conceptual, torna-se frio e cerebral. Vira-se para o próprio umbigo do intérprete/criador e falha no contacto com o público, razão última e essencial da criação artística.
Aplaudo a ousadia e o talento destes músicos, todos eles soberbos tecnicistas dos respectivos instrumentos. Preferiria contudo apreciá-las, ainda que recorrendo a muitos dos elementos experimentais testados neste Twines of Colesion, num ambiente mais melódico e porventura convencional…
Talvez desse menos “pica” aos músicos, mas o público seguramente agradecia.
Tocado assim o jazz converte-se num mero prazer onanístico dos músicos…

V Festival Internacional de Dixieland de Cantanhede



De 12 a 15 de Junho 2008 Cantanhede é a capital mundial do jazz popular. New Orleans vai mudar-se para o distrito de Coimbra com a participação de onze bandas, seis das quais internacionais. São elas: Always Drinking Marching Band (Espanha), The Juggets Jazz Band (Holanda), Dixieman Four (Alemanha), Dixieland Crackerjacks (Holanda), Tiger Dixie Band (Itália), Remember Swing (Espanha), e as portuguesas Dixie Boys, Desbundixie Jazz Band, Castiço Jazz Band, Astedixie e Funfarra. O festival contará ainda com a participação especial da Maria João.
Se estiver pela região centro não perca! Senão, aproveite os feriados e dê uma saltada a Cantanhede... Vai ver que não se arrepende.

Agenda Jazz 9 a 15 de Junho


4ª Feira 11 de Junho
20.00 – Bacalhoeiro (Lisboa) – Trio de Música Improvisada (Liz Albee, Ernesto Rodrigues e Carlos Santos)
21.30 – Centro Comercial de Cascais – Trupe Vocal
21.30 – Jazz ao Norte – Susana Santos Silva Quinteto
23.00 – Hot Five (Porto) – Jam Session Porto Allstars

5ª Feira 12 de Junho
18.00 – Cantenhede – V Festival Internacional de Dixieland de Cantanhede
21.30 – Teatro Académico Gil Vicente (Coimbra) - Michael Attias Quintet
21.30 – Convento dos Capuchos (Costa da Caparica) - Ravish Momin's Trio Tarana
22.45 – Cafetaria Quadrante CCB (Lisboa) – Opus What?
23.00 – Zé dos Bois (Lisboa) - São Paulo Underground
23.55 – Salão Brazil (Coimbra) - Alberto Pinton & Chant

6ª Feira 13 de Junho
17.30 – Cantanhede - V Festival Internacional de Dixieland de Cantanhede
21.30 – Convento Capuchos (Costa da Caparica) - Hélène Labarrière Quartet Les Temps Changent
21.30 - Jardim da Fonte Férrea (Odemira) – André Fernandes Quinteto
22.00 – Escada do Quebra Costas (Coimbra) - Ravish Momin’s Trio Tarana
22.30 – Cantanhede – Maria João & Always Drinking Marching Band
23.00 – Braço de Prata (Lisboa) - Júlio Resende Quarteto & John Herbert
23.00 – Tambor Que Fala (Seixal) - Rão Kyao
23.55 – Salão Brazil (Coimbra) - Alberto Pinton & Chant
00.00 – Maus Hábitos (Porto) - Carlos Zíngaro

Sáb 14 de Junho
21.30 – Convento dos Capuchos (Costa da Caparica) - Júlio Resende 4tet feat. John Hebert
22.00 – Escadas do Quebra Costas (Coimbra) - Hélène Labarrière Quartet
22.00 – ACERT (Tondela) - Fran Pérez NARF & Manecas Costa
23.00 – Tambor Que Fala (Seixal) - Sofia Vitória
23.00 – Bejazz (Barreiro) – Old Blues Band
23.55 – Salão Brazil (Coimbra) - Alberto Pinton & Chant

Dom 15 de Junho
17.00 – FNAC (Cascais) - Couple Coffee & Band

Rosa



O tema Rosa, de Pixinguinha, extraído do último disco de Maria João (João, Universal 2007), com belos rostos asiáticos fotografados por Manuel Libres Librodo. Destaca-se a presença de Eleonor Picas na harpa.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Uma Noite Para Comemorar












Dois Duetos
Maria João & João Farinha
Paula Oliveira & Leo Tardin
7 de Junho de 2008, 23.00h
Hot Club de Portugal – Lisboa
*****

As duas melhores vozes do jazz nacional, de seguida e simplesmente acompanhadas de piano, no palco do Hot é, no mínimo, um acontecimento impar!
Se as expectativas eram, naturalmente, elevadas só posso dizer que as mesmas foram amplamente superadas.
Desde logo porque assistir, olhos nos olhos (com uma proximidade quase pornográfica), a tamanha demonstração de entrega e virtuosismo não pode deixar ninguém indiferente, muito menos o conhecedor público do Hot, constituído quase exclusivamente por músicos e melómanos experimentados. Mas também porque a configuração minimalista da apresentação, com as cantoras apenas acompanhadas pelo piano ou rhodes, permitiu realçar de forma vincada as superiores capacidades vocais de cada uma delas. Finalmente porque o ambiente familiar da sala (apesar de cheia, como se impunha) permitiu uma comunicação e interacção invulgar dos músicos com o público, sublinhando o carácter especial da apresentação.
Em noite de celebração pela entrada vitoriosa da selecção nacional no Euro 2008, não saberia vislumbrar melhor forma de comemorar…
A noite começou com Maria João acompanhada pelo jovem João Farinha.
Não posso deixar de realçar esta surpreendente prova de humildade e solidariedade para com os jovens músicos, demonstrada pela insuperável Maria João. Uma cantora experiente e consagrada, habituada a pisar os mais prestigiados palcos do mundo e a ser acompanhada pelos mais importantes músicos da sua geração escolheu, ousadamente, para a acompanhar um jovem pianista da escola do Hot, praticamente a fazer a sua estreia no “metier”… Que honra e, simultaneamente, que responsabilidade para João Farinha! Ele correspondeu como pôde, mostrando inegáveis potencialidades (ainda que com algum, e natural, nervosismo) e sem comprometer, de modo algum, a apresentação. Até porque Maria João estava numa noite inspirada. Agarrou na apresentação como só ela sabe, com aquela garra fenomenal dos privilegiados e as emoções à flor da pele, e deslumbrou os presentes passeando a sua enorme classe por standards modernos, de Zeca Afonso a Dave Matthews, passando por Egberto Gismonti, Tom Jobim, George Harrison, espirituais norte-americanos e sem esquecer o “seu” Beatriz, tema que se transformou, inquestionavelmente, num hino ao seu impar talento. Durante hora e meia fomos convidados privilegiados de um concerto quase privado de Maria João… E vontade havia, da parte da cantora e do público, para outro tanto! Sublime.
Após o intervalo, o cigarro (no pátio…) e as conversas em dia, sobretudo à volta da enorme demonstração de talento evidenciada por Maria João, houve ainda tempo para ouvir Paula Oliveira e o suíço Leo Tardin. Paula Oliveira mostrou o rigor e a enorme sensibilidade que entrega a cada tema que interpreta, num reportório que começou pelos seus originais incluídos nos dois últimos discos e prosseguiu com Jobim, Ivan Lins, Kenny Wheeler e Norma Winstone (dos Return to Forever, lembram-se) e terminou em apoteose e a quatro, com Maria João e João Farinha também em palco, uma vez mais com Zeca Afonso e o tema Que Amor Não Me Engana.
Leo Tardin mostrou outra enorme dose de talento no piano, colorindo, com as suas invulgares capacidades de improvisação e domínio dos teclados, a inspirada apresentação de Paula Oliveira.
E ali estivemos, extasiados, até perto das três da madrugada…
Como canta Mafalda Veiga, esta foi seguramente, uma noite para comemorar…

sábado, 7 de junho de 2008

O Fado, por Mário Laginha


Mário Laginha é indiscutivelmente um dos melhores pianistas nacionais, seguramente o maior de entre os que cultivam o jazz como género de eleição. Em 2006 editou o disco a solo Canções e Fugas (Universal)onde incluiu este seu original denominado Fado, que tive o privilégio de conhecer interpretado pelo seu trio, com Bernardo Moreira e Alexandre Frazão, na apresentação do seu último trabalho, Espaço, em 2007 no Cabaret Maxime. Aqui fica um video de "Fado" acompanhado de belas fotos da Lisboa (fadista) de outrora.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Concha, La Magnífica




Buika editou três discos. Aqui ficam os singles que tiveram a responsabilidade de promover cada um deles: New Afrospanish Colective; Mi Niña Lola e La Falsa Moneda (do disco Niña de Fuego, adaptação do clássico cantado por Imperio Argentina no filme Morena Clara de 1936).

Buika de Fogo


Buika
Niña de Fuego
Limón Records 2008
15,5/20

Concha Buika nasceu em Palma de Maiorca em 1972 numa família emigrante originária da Guiné Equatorial. Ao ritmo africano que lhe corria no sangue juntou o lamento flamenco, que corria nas ruas maiorquinas, e assim nasceu o maior fenómeno actual da música espanhola.
Depois de cantar em bares e clubes de Palma de Maiorca e de uma colaboração esporádica com os “Fura del Baus”, rumou em 2000 (não sabe muito bem como, nem porquê…) até Las Vegas, onde dobrou Tina Turner e as Supremes e acabou convidada por Rachelle Farrel para actuar no Blue Note.
De regresso a Madrid começou a sua fulgurante carreira. Depois de um primeiro disco de excelentes indicações, surgiu “Mi Niña Lola”, produzido por Javier Limón, e com ele a consagração e os prémios internacionais. Nascia uma estrela que passou a correr mundo, cantando este novo flamenco “africano”, e a esgotar os adjectivos dos críticos de todo o mundo (do El País ao New York Times, passando pelo Le Monde, Libération, pelo Daily News, Sunday Times sem esquecer a imprensa alemã, japonesa ou mexicana – que a elevou à alma gémea de Chavela Vargas, o ícone da canção mexicana), bem como as salas de espectáculo por onde passa.
Depois da consagração vem a responsabilidade e sobre este disco, uma vez mais produzido por Limón (que escreve também boa parte das letras e toca primorosamente guitarra flamenca) com o cubano Horacio “el Negro” Hernández, na percussão, Carlos Sarduy no trompete e Iván “Melón” Lewis no piano, cai a pesada responsabilidade de dar continuidade ao fenómeno Buika.
Áparte o sensacionalismo da nudez na capa (realçando a enorme sensualidade de Concha, já bem patente na sua enorme voz) podemos dizer que é uma aposta conseguida. Por um lado porque alarga os horizontes do universo musical de Buika do afro-flamenco, evidenciado em Mi Niña Lola, para as Rancheras mexicanas (a aproximação de Buika a Conchela Vargas é notória, apelidando-a aquela de “a sua filha negra”), ainda que puxando a um ambiente kitsch que Almodôvar não desdenharia, às influências cubanas e até africanas (com muito pouco flamenco) evidentes em Mentirosa (um tema que parece um semba angolano e que ficaria bem na voz de Paulo Flores ou Carlos Burity). Por outro lado podemos vislumbrar um aligeirar do flamenco em busca de um maior público, sendo várias as ocasiões em que o universo romântico e ligeiro de Alejándro Sánz aparece por entre as coplas, bulerías e rumbas marcadas na guitarra-flamenca de Javier Limón.
Mas mais dos que as influências, os piscares de olho ao sucesso comercial, as flamejantes arrancadas na guitarra de Limón, ou o calor caribenho introduzido pela percussão de “el negro” ou pelo trompete de Sarduy, o que fica sobretudo deste disco é a magnífica voz de Concha Buika, com o seu característico salero exótico, que remete para terras africanas, e uma rouquidão melodiosa e quente, de grande sensualidade.
Só por ela vale a pena ouvir e deliciar-se com esta “Niña de Fuego”.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Remembering - Avishai Cohen



Sem outra justificação senão a beleza do tema e o prazer que me proporciona a sua partilha com outros melómanos interessados nestas músicas que não passam no Rock in Rio, aqui fica um video que elaborei a partir de uma composição do contrabaixista israelita Avishai Cohen, incluída no seu trabalho de 2004, At Home (SunnySide Records). As belíssimas fotos são da autoria de Joost Bossuyt. Enjoy...

Bugge Wesseltoft - Min By



Gravado na apresentação do disco IM em Oslo (Outubro de 2007).

Minimalismo Simbólico


Bugge Wesseltoft
IM
Jazzland Records 2008
13/20

Bugge Wesseltoft nasceu na Noruega, em 1964, filho do guitarrista de jazz Erik Wesseltoft. Apesar da tradição musical familiar e do contacto com o piano desde os 3 anos de idade, mostrou sempre uma especial aversão pelo ensino, tendo aprendido quase tudo o que sabe pela via da experiência, como auto-didacta. Tocou tuba na banda da escola, fundou grupos de punk-rock e maravilhou-se com a electrónica e os sintetizadores. No final dos anos 80 estava ligado a vários projectos de rock na Noruega e começou a ser reconhecido como pianista. Em 1989 teve o primeiro contacto com o jazz ao tocar com o Knut Risnæs Quartet no clube “Oslo Jazzhouse” e pouco depois conheceu Arild Andersen e Jan Garbarek. Integrou os projectos musicais destes e gravou com ambos a partir de 1990. Em 1991, juntou-se a Nils Petter Molvær, Bjørn Kjellemyr e Audun Kleive, integrando igualmente o quinteto de Terje Rypdal. Em 1992 tocou com Jon Eberson na Jazzpunkensemble. Em 1993 já liderava os seus próprios projectos de jazz, integrando músicos como Terje Rypdal, Jon Christensen, Bjørn Kjellemyr, Nils Petter Molvaer, Vidar Johansen e Rune Arnesen. Depois disso o seu percurso é bem mais conhecido. Fundou um duo de sucesso com Sidsel Endresen (com três discos gravados por ambos, mais dois dela com Bugge a colaborar) que correu o mundo em concertos. Formou o projecto vanguardista “New Conception of Jazz”, de fusão do jazz, house, techno, música ambiental, ruído e livre improvisação, que levou o jazz electrónico às discotecas e aos tops de vendas entre 1994 e 2005. Criou a editora Jazzland Records que passou a editar os seus discos e os de muitos jovens talentos da Noruega. Mais recentemente fundiu o seu jazz-techno com a música indiana no projecto Bugge Ragatronics, com os indianos Vivek Rajgopalan (mrindigam), Shrikanth Sriram, no baixo e flauta e Dhruba Gosh no sarangi e voz. Desde 2004 dedicou-se a projectos a solo, de que este IM faz, indiscutivelmente, parte.
Este trabalho é dedicado e foi inspirado pelos trágicos acontecimentos no Rwanda, particulamente pela experiência vivida por Zawadi Mongane, uma jovem congolesa que Bugge ouviu num entrevista da BBC. Profundamente interessado e envolvido pelo drama social africano, Bugge compôs uma obra na qual procurou exprimir a sua tristeza e revolta pela indiferença internacional perante os massacres do Rwanda. E fê-lo de modo intimista mas profundamente negro. De um minimalismo por vezes sufocante, este projecto vive essencialmente do piano de Wesseltoft, mas conta também com a presença esporádica de Mari Boine, a carismática porta-voz do povo Sami, na voz e na percussão. Na primeira adiciona rumores, litanias e ladainhas tribais aos melancólicos sons do piano. Na segunda constrói texturas, pulsações e cadências que intensificam o dramatismo pretendido e alcançado pelo pianista, o qual colabora nessa função transformando por vezes o Steinway num instrumento de percussão. Aliás o experimentalismo não se fica por aí sendo o piano várias vezes “trabalhado” de modo a emudecer ou, pelo contrário, ecoar os seus sons, ao sabor da inspiração do pianista.
Trata-se contudo de uma obra quase totalmente acústica. Os efeitos electrónicos tão do agrado de Wesseltoft ficaram desta feita guardados, à excepção do tema Joi, onde aos motivos tribais de Boine Wasseltoft contrapõe uma pusalção funky, característica do R&B.
Não é uma obra fácil, longe disso, mas ocasionalmente consegue ser apelativa pela profundidade dos temas, exponencialmente alargada pelas pulsações dramáticas e contagiantes da percussão. A música aqui aparece nua, puramente ambiental, expressiva, dramática mas melódica, ainda que modal. A melodia anda sempre por lá, furtiva, esporádica, por vezes meramente esboçada mas quase sempre presente.
Além do mais é um trabalho de grande simbolismo bem patente no tema Wy, onde sob o ruído de fundo oriundo das televisões e rádios, surge uma melodia nua e silenciosa, simbolizando o drama silenciado pelo demasiado ruído que pulula pela sociedade da informação em que vivemos. Ao calar do ruído sucedem as palavras de angústia de Zawadi Mongane, sob a cadência pulsante e intensamente dramática do piano de Wesseltoft.
É um trabalho bem intencionado e com momentos de enorme profundidade. Porém demasiado minimalista, musicalmente falando... Nem facilita a tarefa do ouvinte nem aumenta a voz das muitas Zawadi Mongane que proliferam pelo mundo…
Mas ao menos lembra-as.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Alice Ricciardi - Who Cares (as long as you care for me)

Alice no País das Maravilhas


Alice Ricciardi
Comes Love
Blue Note 2008
16/20

Nascida em Milão em 1975, estudou no conservatório Giuseppe Verdi violino e piano antes de iniciar aulas de canto com Francesca Oliveri, Laura Conti, Roberta Gambarini, Tiziana Ghiglioni e Rachel Gould. Assim nasceu uma bela voz… límpida, expressiva e carregada de swing. Claríssima mas forte e segura. Trabalhada mas autêntica. Este é o seu primeiro disco e é sintomático que um trabalho de estreia seja editado pela emblemática Blue Note…
Composto unicamente por standards, não é por isso que perde brilho. Desde logo por evidenciar uma criteriosa escolha de temas, numa homenagem sentida e muito conseguida dos anos dourados do musical norte-americano. São muitos os clássicos dos anos 30 incluídos neste trabalho como Comes Love (de 1939, cantado inicialmente por Judy Garland para o musical Yokel Boy), I Was Doing Allright (composto em 1937 pelos irmãos Gershwin para o filme Goldwyn Follies), Who Cares (também escrito pelos Gershwin em 1931 para o musical Of Thee I Sing), If I Should Lose You (de Ralph Granger estreado no filme Rose of The Rancho e imortalizado por Frank Sinatra, Billie Holiday e mais recentemente por Nina Simone); Ghost of Yesterday (tema emblemático de Billie Holiday), Here Lies Love (um clássico de 1932 cantado no cinema por Bing Crosby), By Myself (escrito em 1937 por Arthur Schwartz e Howard Dietz para o musical Between the Devil). Mas também os anos 40 estão bem representados com Give Me The Simple Life (de Harry Ruby e Rube Bloom estreado no fime Wake Up And Dream de 1945), The Boy Next Door (estreado por Judy Garland em 1944 no filme Meet Me In St. Louis) e I Remember April (de 1942 e da autoria de Gene de Paul, também mais tarde gravado por Judy Garland). Os temas mais recentes são Summer Song, composto por Dave Brubeck em 1961, I’m Gonna Laugh You Right Out Of My Life de Cy Coleman também composto nos anos 60 e o clássico italiano Le Tue Mani de Pino Spotti gravado em 1956 por Jula de Palma.
Uma selecção que percorre transversalmente a história do jazz entre 1931 e 1961.
A acompanhá-la nesta viagem pelo musical norte-americano (com uma breve paragem no Festival de San Remo de 1956) estão músicos de excelente qualidade: Roberto Tarenzi no piano que assegura a regência e os arranjos e bem assim a fidelidade dos mesmos ao objectivo proposto, conseguindo conciliar um poderoso swing com a elegância e mesmo um toque de blues que os temas e a voz de Alice exigiam; Marco Bovi na guitarra, que rubrica solos de grande qualidade nomeadamente nos temas I Was Doing Allright, Who Cares? (um belíssimo solo manouche em jeito de homenagem ao contemporâneo Django Reinhardt), The Boy Next Door e Le Tue Mani; Paolo Benedettini no contrabaixo, responsável juntamente com o baterista Will Terrill, pelo extraordinário swing que percorre todo o disco e com trabalho de destaque nos temas Give Me The Simple Life, I’m Gonna Laugh You Right Out Of My Life e sobretudo em By Myself; Fabrizio Bosso no trompete com solos assinaláveis em I’m Gonna Laugh You Right Out Of My Life (a puxar para o blues) e By Myself (mais swingado); Gaetano Partipilo no sax e sobretudo na flauta, que consegue introduzir um som característico dos sixties, cheio de swing, sobretudo dos temas I Was Doing Allright, The Boy Next Door (no sax), e I’ll Remember April; e sobretudo por Pasquale Bardaro no vibrafone, em cujo trabalho reside uma das principais razões do sucesso deste projecto, com solos memoráveis em Who Cares?, I’ll Remember April, Ghost of Yesterday e Le tue mani.
Comes Love não é apenas mais um disco de standards mas antes uma verdadeira homenagem aos anos dourados do musical americano. Os temas são revisitados no mais profundo respeito pelos originais e pelo espírito musical da época. Aqui não há experimentalismos gratuitos ou originalidades forçadas, apenas swing a colorir belíssimas melodias. Alice Ricciardi assume-se assim, despretensiosamente, como uma reencarnação de Ella Fitzgerald, Billie Holiday ou Judy Garland (embora a comparação vocal fosse mais pertinente com Sarah Vaughn ou Carmen McRae). E com um rigor e à-vontade como há pouco quem faça actualmente, apesar dos discos de standards se acumularem nas prateleiras das lojas.
E não esqueçamos que estamos perante um primeiro disco… Fico com enorme expectativa à espera dos próximos!

domingo, 1 de junho de 2008

Anoushka Shankar no CCB



Anoushka Shankar é uma celebridade. Nascida em 1981, filha do famoso guru do ex-beatle George Harrison e mestre da cítara Ravi Shankar e irmã (por parte do pai) da estrela Norah Jones foi instruída na tradição musical indiana e na cítara pelo pai, desde os oito anos de idade. A sua estreia em disco aconteceu logo aos 13 anos no álbum de tributo ao seu pai “In Celebration”. Em 1998 gravou o seu primeiro disco a solo. Nesse mesmo ano recebeu do Parlamento inglês o “House of Commons Shield”, prémio pela primeira vez atribuído a uma mulher tornando-se igualmente a mais jovem galardoada. Em 2001 recebeu a sua primeira nomeação para os Grammys pelo álbum gravado ao vivo no Carnegie Hall, a mais jovem nomeação até à data na categoria de World Music. Em 2002 liderou a apresentação de uma nova composição do pai, “Arpan”, ao lado de Eric Clapton, no concerto de homenagem a George Harrison, em Londres. Nesse mesmo ano editou uma biografia do pai, complementada por um documentário, produzido pela BBC, sobre a nova estrela da cítara indiana. Foi capa da revista Time, dando cara à nova geração de heróis asiáticos. Em 2004 foi nomeada como melhor actriz secundária pela India's National Film Awards (os Óscares indianos) pela sua participação no filme Dance Like a Man da realizadora Pamela Rooks, logo na sua estreia como actriz. Em 2005 editou o seu quarto álbum Rise (Angel Records), totalmente composto, produzido e arranjado por si. Neste trabalho Anoushka conseguiu fundir os universos musicais indiano e ocidental, utilizando simultaneamente instrumentos acústicos e eléctricos, o que lhe valeu nova nomeação para os Grammys e a oportunidade de actuar na respectiva cerimónia (honra pela primeira vez atribuída a um artista indiano).
É pois uma estrela em ascensão que vamos poder ouvir esta segunda-feira no CCB, esperando que esteja totalmente reabilitada da doença que a obrigou a cancelar a maior parte da sua agenda de concertos para Maio.

"...I am waiting for the time when I will be called Anoushka's father... Anoushka has indeed a rare talent... there is something spiritual in the way she plays... she feels the music and gives in to it.
Ravi Shankar numa entrevista a Maya Bahir, Yedioth (Israel)

Agenda Jazz 2 a 8 de Junho


2ª feira 2 de Junho
21.00 – CCB (Lisboa) – The Anoushka Shankar Project

3ª feira 3 de Junho
21.30h – Instituto Franco-Português (Lisboa) – Yamandú Costa
22.30h – Ondajazz (Lisboa) – Big Band Reunion
23.00h – Hot Club (Lisboa) - Júlio Resende Quarteto feat. John Hebert

4ª feira 4 de Junho
21.30h – Auditório de Espinho – Sara Serpa Quarteto
22.00h – Foyer Teatro Viriato (Viseu) – Jazz Trio - MariaJoão Matos, Nuno Correia e Sérgio Pelágio
23.00h – Hot Club (Lisboa) - Júlio Resende Quarteto feat. John Hebert

5º feira 5 de Junho

22.00h – Ateneu (Coimbra) - ZFP Quartet (Carlos Zíngaro, Simon Fell, Márcio Mattos, Mark Sanders)
22.45h – CCB Cafetaria Quadrante (Lisboa) – Sara Serpa
23.00h – Hot Club (Lisboa) - Nuno Marinho Trio
23.55h – Salão Brazil (Coimbra) - Michaël Attias Quintet: Twines of Colesion

6ª feira 6 de Junho
22.00h – Teatro Académico Gil Vicente (Coimbra) - Júlio Resende Quarteto feat. John Hebert
22.00h – Jazz ao Norte (Porto) - Yeti Project
22.00h – Douro Blues (Gaia) - Albie Donnlly's Supercharge
22.30h – Contrabaixo (Mira) - Miguel Martins Trio
23.00h – Hot Club (Lisboa) - "2 Duetos" (Maria João e Paula Oliveira)
23.30h – Ondajazz (Lisboa) – Luiz Avellar Trio (com Yuri Daniel e Alexandre Frazão)
23.55h – Salão Brazil (Coimbra) - Michaël Attias Quintet: Twines of Colesion

Sábado 7 de Junho
22.00 h - Teatro Académico Gil Vicente (Coimbra) - Agustí Fernández / Barry Guy / Ramón López “Aurora”
22.00h – Douro Blues (Gaia) - Down Home
22.00h – Largo Santo António (Torres Vedras) - Marta Hugon «Story Teller»
22.30h – Contrabaixo (Mira) - Miguel Martins Trio
23.00h – Teatro Municipal da Guarda - ENSEMBLE GRANULAR
23.00h – Hot Club (Lisboa) - "2 Duetos" (Maria João e Paula Oliveira)
23.30h – Ondajazz (Lisboa) - The Shortcuts 5tet
23.55h – Salão Brazil (Coimbra) - Michaël Attias Quintet: Twines of Colesion

Domingo 8 de Junho
17.00h – Jardim Campo Grande (Lisboa) - João Lencastre Group
22.00h – Casa da Música (Porto) - Michael Attias Quartet