terça-feira, 6 de outubro de 2009

Viva a Diversidade


Henri Texier Strada Quintet
1 de Outubro, 21.30h
Grande Auditório da Culturgest (Lisboa)

Nascido em Paris, em 1945, Henri Texier descobriu o jazz aos 12 anos de idade. A França foi, de entre todos os países europeus, aquele que mais apaixonadamente acolheu o jazz. Não apenas no entusiasmo que votou ao género negro norte-americano, mas também por ter sido aí (antes mesmo dos Estados Unidos) que primeiro se desenvolveu o seu estudo teórico e musicológico rigoroso.
Foi nesse ambiente de paixão pelo jazz que cresceu o jovem Texier. Aos 14 anos já estava integrado numa banda de Dixieland. Em 1962 ganhou um concurso de amadores e Jeff Gilson convidou-o a integrar a sua orquestra onde pontificavam nomes como Jean-Luc Ponty, Jean-Louis Chautemps, Michel Portal ou François Jeanneau. Aos 20 anos tocava em clubes parisienses ao lado de mitos como Bud Powell, Kenny Clarke, Lee Konitz, Dexter Gordon, Art Taylor ou Don Cherry. Foi quando fundou o seu primeiro quinteto de free jazz.
Na área do free jazz colaborou ainda com Phil Woods, integrando em 1968 o seu European Rythm Machine. A seguir dedicou-se ao progressive rock ao lado de Aldo Romano, com quem fundou o grupo Total Issue. Passou ainda pelo trio de Jean-Luc Ponty antes de iniciar a sua carreira a solo, em 1976.
Se há algo que ressalta desta longa carreira, que quase se confunde com a própria história do jazz europeu dos últimos 50 anos, é a enorme diversidade. A capacidade invulgar de Texier para se envolver em novos projectos e linguagens musicais, o incansável instinto de sobrevivência que lhe tem permitido acompanhar todos os movimentos musicais que atravessaram o jazz durante a sua já longa carreira, estando mesmo na vanguarda de alguns deles.
Apaixonado pela música tradicional africana, indiana, magrebina e céltica, Texier foi indiscutivelmente um precursor daquilo que hoje se costuma chamar world jazz. Compôs e interpretou música para cinema, televisão, teatro, dança, poesia, circo, artes plásticas, fotografia… Cruzou o jazz com tudo o que é fenómeno artístico, revelando um notável vanguardismo em muitas dessas experiências.
Este quinteto strada (na verdade é um sexteto, mas a ausência forçada do trombonista Gueorgui Kornazov ditou a redução do ensemble) é formado pelo filho do contrabaixista no saxofone alto e clarinete, Sébastien Texier, por François Corneloup no saxofone soprano e barítono, por Manu Codjia na guitarra e por Christophe Marguet na bateria. Um notável encontro de gerações, porquanto 30 anos separam o líder do mais jovem membro do quinteto, o guitarrista Manu Codjia.
A música de Texier bebe de toda a experiência acumulada do contrabaixista. É inovadora mas assente na tradição. É vanguardista sem esquecer a inspiração popular. É complexa sem nunca perder de vista a melodia.
Do sangue novo dos metais e da guitarra colhe a força e o arrojo interpretativo. Da maior experiência da secção rítmica recebe a inspiração e a cultural musical. Uma perfeita simbiose que se estende mesmo à composição e arranjo, partilhadas pelos vários membros do quinteto.
Continua a sentir-se uma forte inspiração étnica no repertório, perfeitamente ecléctico. Dos ragas indianos, às misteriosas melodias orientais, do Cambodja ou da China, da alegria contagiante dos Balcãs aos ritmos frenéticos célticos, tudo cabe na música de Texier, pois há sempre uma linguagem comum de fundo que une todos estes universos musicais geograficamente distantes: o jazz.
E esse é talvez o maior contributo de Texier à posteridade, a sua capacidade única de tocar jazz inspirado noutras linguagens musicais, de trilhar novos caminhos sem nunca se prender a um único universo. Sempre com enorme talento e paixão.
E viva a diversidade!

Henri Texier

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