domingo, 25 de outubro de 2009
Revelador
George Colligan Trio
23 de Outubro de 2009, 23.30h
Auditório Municipal do Seixal
Confesso que sou um apaixonado pelo trio de piano. Desde que Bill Evans revolucionou o modelo, já lá vai meio século, que o trio de piano se impôs como um dos mais criativos e elegantes modos de tocar jazz.
Desde o trio clássico norte-americano, onde o swing impera, até aos experimentalismos de câmara norte-europeus, há sempre algo que me atrai especialmente nesta combinação totalmente acústica, em que não só os dotes técnicos e artísticos do pianista vêm com maior evidência à tona, como a elegância do piano abre oportunidades únicas de protagonismo à secção rítmica, numa rara simbiose de puro deleite para o ouvinte atento.
George Colling é um ilustre desconhecido entre nós. Não obstante já gravou nada menos do que 19 discos com o seu nome e mais de 70 como sideman!
Temos andado muito distraídos…
A sua técnica é notável. Revelou-se um exímio conhecedor do piano e um compositor inspirado, intercalando vários temas da sua autoria por entre standards mais ou menos conhecidos do american jazz songbook.
Com uma sensibilidade apurada, soube reinterpretar, com uma fortíssima nota pessoal, a noção do trio de piano, abrindo frequentes pontes para o protagonismo dos seus acompanhantes, no caso o alemão Johannes Weidenmuller no contrabaixo e o norte-americano Rudy Royston na bateria.
Se Weidenmuller se mostrou um pouco menos integrado no repertório, produzindo um quanto baste de protagonismo, sobretudo se atendermos ao seu invejável currículo, já Royston esteve totalmente à altura do chamamento com solos de grande qualidade e demonstrando uma técnica soberba.
Se George Colligan era um dos segredos mais bem guardados do jazz norte-americano, deixou de o ser entre nós, após esta notável exibição de talento e criatividade.
Nascido em 1969, em Maryland, mudou-se nos anos 90 para a cidade de Nova Iorque, onde as suas qualidades como pianista não passaram despercebidas a músicos de relevo como Gary Bartz, Benny Golson, Steve Coleman, Ravi Coltrane, Michael Brecker, Nicholas Payton, Christian McBride, Mark Turner, Lee Konitz, Don Byron ou Stefon Harris, que com ele colaboraram. Acompanhou ainda cantoras como Sheila Jordan, Cassandra Wilson, Vanessa Rubin ou Jane Monheit.
Foi só nos últimos anos que Colligan desenvolveu uma profunda experiência como solista e compositor trabalhando os temas de forma quase exaustiva, num fraseado intenso e completo, imaginativo e revelador de técnica soberba.
A sua estreia aconteceu em 1996, com o disco “Activism”, editado pela Steeplechase Records, e o mais recente trabalho discográfico, “Come Together”, foi editado pela Sunnyside já este ano. Gravado em trio, ao lado de Boris Kozlov no contrabaixo e de Donald Edwards, na bateria, toma o velho tema de Lennon & McCartney como mote para revelar oito temas originais de Colligan e um cover do clássico “The Shadow of Your Smile” de Johnny Mandel. Foi este precisamente o repertório que esteve na base desta apresentação no Seixal Jazz.
Um grande pianista a descobrir com urgência.
George Colligan Trio – Seixal Jazz 2009
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