sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Garotas de Lisboa



Quarteto Filipe Melo & Bruno Santos
+ Paulo Braga & Paula Oliveira
6 de Outubro de 2009, 23.00h
Hot Club de Portugal (Lisboa)

O quarteto Filipe Melo/Bruno Santos já nos habituou a apresentações periódicas com grandes nomes do jazz internacional. Um pequeno “puxar” pela memória recente traz à lembrança concertos com Donald Harrison, Herb Geller, Perico Sambeat, Sheila Jordan, Jesse Davis ou Martin Taylor, num espaço de dois anos apenas.
Coube agora a vez ao baterista brasileiro Paulo Braga, homem de vasto currículo no qual sobressaem espectáculos e gravações com nomes sonantes da música brasileira como Tom Jobim, Elis Regina, Milton Nascimento, Ivan Lins, Djavan ou Eliane Elias, entre muitos outros.
Esta experiência trouxe assim duas importantes novidades ao quarteto, face a todas as apresentações atrás mencionadas: o facto de o convidado não ser um solista (sem prejuízo de proporcionar belíssimos solos) e bem assim o de não ser, “strictu sensu”, um músico de jazz, mas antes de bossanova, samba, jazz latino, enfim aquilo que lhe quiserem chamar.
A primeira novidade impôs a saída temporária de Bruno Pedroso do grupo, substituído na bateria pelo brasileiro, e a chamada de uma cantora, no caso Paula Oliveira, que emprestou a sua bela voz aos eternos temas de Jobim e companhia.
Na verdade Paula Oliveira já gravou com Paulo Braga, em 1998 e para a editora Numérica, o disco epónimo que contou ainda com a participação de Cliff Korman e David Finck. Pelo que a sua inclusão no agora quinteto aparece com toda a naturalidade.
A segunda "obrigou" o quarteto a tocar exclusivamente o cancioneiro da “bossanova age” (porque esporadicamente sempre o tocaram).
Mas Filipe Melo, Bruno Santos e Paula Oliveira quiseram levar ainda mais longe esta viagem pelo universo musical de Jobim e, aproveitando o facto de o maestro ter deixado um grande número de arranjos para quinteto de vozes, convidaram mais cinco cantoras, Marta Hugon, Isabel e Margarida Campelo, Joana Machado e Mariana Norton, que abrilhantaram a segunda parte do espectáculo num coro memorável. De realçar que Joana Machado editou recentemente um disco dedicado precisamente a Jobim (A Casa do Óscar) pelo que o repertório não lhe era seguramente estranho…
A aposta foi plenamente conseguida.
As aptidões tropicais de Filipe Melo e Bruno Santos eram já conhecidas pois ambos participam no projecto “Casa do Óscar” de Joana Machado, à semelhança aliás do contrabaixista Bernardo Moreira. Este junta ainda a experiência recente de integrar a equipa de Flora Purim e Airto Moreira, dois dos mais reputados músicos do “jazz” verde e amarelo.
Também Marta Hugon tem visitado o repertório brasileiro nos seus discos, sendo evidente que Jobim é uma referência indelével na formação de todos estes músicos, e eu diria mesmo, de toda uma geração.
Surpreendentes para mim foram sobretudo os solos de Bruno Santos, perfeitamente integrados na lógica da bossa jazz. Criativos e enriquecedores, mostraram um enorme conhecimento da obra do mestre da Tijuca e simultaneamente uma alegria contagiante, faceta novel na música do excelente guitarrista madeirense.
Mas o maior desafio foi seguramente colocar dez pessoas no palco do Hot (adicionem ainda um piano, uma bateria, um contrabaixo e uma guitarra)!
Mas a exiguidade do espaço foi amplamente compensada pelo talento dos músicos e pelo entusiasmo do público.
Quanto a Paulo Braga esteve igual a si mesmo: insuperável na entrega, na simpatia e na enorme capacidade de enfeitiçar os ouvintes com os sedutores ritmos de Copacabana.
Uma noite memorável.
Não percam as próximas apresentações do quinteto em Bragança, Vila Real e em Braga, durante toda esta semana.

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