domingo, 11 de outubro de 2009
Pecados
The Bad Plus
10 de Outubro de 2009, 21.30h
Auditório do Museu do Oriente (Lisboa)
Não é seguramente todos os dias que podemos assistir a um concerto que começa em Stravinski e acaba em Nirvana, passando por Ornette Coleman, Aphex Twin e Rodgers & Hart!
O mínimo que se poderá afirmar da música dos Bad Plus é que é estranhamente ecléctica.
E no entanto o tratamento aplicado por este trio de Minneapolis garante um denominador comum a material tão diverso.
A uma estética de indie rock o grupo junta-lhe a criatividade do jazz e uma dose enorme de irreverência, tudo servido num ambiente exclusivamente acústico.
O resultado é um fenómeno de sucesso que levou a banda de Ethan Iverson, Reid Anderson e David King ao estrelato, atravessando transversalmente públicos e gerações.
Nas palavras felizes de um crítico do britânico The Guardian, se os irmãos Cohen tocassem jazz, fariam algo assim, em que o cómico anda de mãos dadas com o dramático.
Os três membros desta banda são do Midwest e conhecem-se desde a adolescência. Porém seguiram percursos formativos diversos. King integrou a banda de jazz independente Happy Apple. Iverson foi director musical do Mark Morris Dance Group. Anderson conseguiu singrar na cena jazzística novaiorquina. Juntaram-se em 2000 para um fim-de-semana de concertos num clube de Minneapolis. A química foi tão evidente que originou um disco na editora independente Fresh Sound Records.
Assim nasceram os Bad Plus.
Em 2003 mudam-se para a major Columbia e lançam “These Are the Vistas”, álbum responsável pela internacionalização do trio. Seguiu-se-lhe Give, em 2004, Suspicious Activity? e Blunt Object - Live in Tokyo, em 2005, Prog, em 2006 e For All I Care, em 2007, os dois últimos trabalhos editados com a chancela da Heads Up/Universal.
Ao longo destes discos os Bad Plus assumiram claramente uma postura de rotura com os rótulos e géneros musicais. O trio rejeita a separação entre a música erudita e popular, homenageando com os seus arranjos compositores de épocas e ambientes musicais diversos, unidos pelo reconhecimento e respeito da banda, pela relevância da sua obra.
No seu trabalho mais recente, For All I Care, surgem obras de compositores eruditos como Györgi Ligeti, Milton Babbitt e Igor Stravinsky, ao lado de canções oriundas do universo do pop/rock de grupos como os Pink Floyd ("Comfortably Numb"), Yes ("Long Distance Runaround"), Bee Gees ("How Deep is Your Love") e Heart ("Barracuda"). Nos trabalhos anteriores já se tinham cruzado sucessos dos Blondie, Nirvana, Vangelis, David Bowie ou Queen, com jazz standards e sobretudo, muitos originais do trio.
A fórmula é evidente. Uma aproximação ecléctica e irreverente à música que, pegando na linguagem acústica e criativa do jazz, seduza múltiplos gostos e gerações, num estilo directo e original, característico do indie rock norte-americano. Aliás é notável a adaptação de Wendy Lewis ao repertório da banda, uma cantora de indie rock conterrânea do trio, que empresta a sua voz rouca e incisiva aos temas de For All I Care, sem que nalgum momento se sinta a ausência das guitarras eléctricas…
Ainda assim há algo de novo no som dos Bad Plus. Algo que permite a discos essencialmente de jazz a presença assídua em tabelas de vendas. Que assegura a venda de T-shirts à porta dos concertos, como nos festivais de rock. Que leva às salas de espectáculo adolescentes e quarentões, unidos pela sedutora originalidade dos arranjos do grupo.
O sucesso não é seguramente pecado. Sobretudo se for alcançado com a criatividade e irreverência dos Bad Plus!
The Bad Plus - Variation d'Appollon
The Bad Plus – Semi Simple Variations
The Bad Plus - How Deep Is Your Love
The Bad Plus - The Making Of For All I Care
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário