terça-feira, 6 de outubro de 2009

Over the Rainbow


Jane Monheit
4 de Outubro de 2009, 21.00h
Grande Auditório do CCB (Lisboa)

Com apenas 32 anos de idade, Jane Monheit leva já 12 anos de carreira, desde que, em 1998, irrompeu na cena jazzística norte-americana ao classificar-se em segundo lugar no prestigiado Thelonious Monk International Jazz Competition, perante ilustres juradas como Dee Dee Bridgewater, Diana Krall, Nnenna Freelom ou Dianne Reeves (a primeira classificada foi a veterana Teri Thornton, falecida dois anos depois, e a terceira a italiana Roberta Gambarini).
De então para cá gravou oito álbuns, um deles ao vivo, lançou uma colectânea de sucessos em 2005, diversos DVD e correu o mundo em espectáculos com as mais variadas formações.
Monheit nasceu numa família de músicos e iniciou a sua formação musical pelo clarinete. Foi apenas aos 17 anos de idade que se dedicou ao canto na New York's Manhattan School of Music, pela mão de Peter Eldridge, o fundador do grupo New York Voices. Ainda durante os estudos começou a cantar pelos clubes novaiorquinos em Greenwich Village, acompanhada pelo baterista Ricky Montalbano, seu colega de escola, namorado e actual marido, o pianista David Berkman, o saxofonista Paul Boothe e o contrabaixista Orlando Le Fleming.
Após ter sido descoberta por Carl Griffin, o patrão da N2K, gravou o primeiro disco em 1999, Never Never Land, ao lado de músicos como Kenny Barron, Ron Carter, Lewis Nash, Bucky Pizzarelli, Hank Crawford e David "Fathead" Newman, como “presente” de fim de curso. Ao mesmo tempo assina pela Jazz Tree, de Mary Ann Topper, a agente responsável pelo lançamento da carreira de artistas como Diana Krall ou Joshua Redman.
Monheit é dona de uma das mais doces, redondas e perfeitas vozes do jazz actual, que impressiona não apenas pela amplitude mas também pela subtil capacidade interpretativa. É contudo notória a evolução desde os primeiros tempos de Never Never Land. À doçura rigorosa e académica sucedeu uma notável capacidade de improvisação e um amadurecimento sensível, que lhe permite arriscar substancialmente mais e, dessa forma, aproximar-se mais resolutamente da estética jazzística.
Aliás Jane Monheit começou essencialmente pelo cabaret, pelo repertório dos musicais da Broadway. Foi a influência de Ricky Montalbano e mais tarde a oportunidade surgida no Thelonious Monk Competition que a adaptaram ao jazz. E em boa hora porquanto está uma cantora de enorme qualidade.
A acompanhá-la nesta terceira visita ao nosso país, no corrente ano, estiveram o baterista Ricky Montalbano, o pianista Michael Kamen e o contrabaixista Neal Miner.
E aqui reside talvez a principal crítica a este espectáculo. Se Kamen é um excelente pianista (mais famoso contudo pelas inúmeras bandas sonoras que compôs para o cinema e televisão e que incluem filmes como a Arma Mortífera, Die Hard e 007, Licence to Kill), Miner e Montalbano estão claramente abaixo do nível interpretativo da cantora.
Daqui resulta um trio manifestamente desequilibrado, com uma supremacia desmesurada da voz e do piano e uma presença discreta da secção rítmica. Ao invés de puxarem pelos solistas são frequentemente lançados às feras em oportunidades perdidas de solo e em que os aplausos pedidos pela cantora manifestam uma generosidade que o público nem sempre partilha.
Tal como Diana Krall, convertida nos últimos anos ao bossanova, também Jane Monheit mostra uma apetência particular pela música brasileira, especialmente pelas composições de Ivan Lins que não hesita em apelidar do seu compositor favorito, de todos os tempos. Esta paixão levou-a a interpretar dois temas em português, à semelhança aliás do que sucedeu nas respectivas versões gravadas.
Jane Monheit é ainda muito jovem e não faltarão seguramente oportunidades de a ouvir em contextos bem mais elaborados. Para já deixou uma simpatia quase tão grande quanto a sua belíssima voz e uma vontade enorme de a voltar a ouvir, agora acompanhada de músicos de jazz do outro gabarito, que saibam responder aos seus improvisos (até scat singing a cantora já arrisca em espectáculo), com igual destreza e criatividade.

Jane Monheit - Começar de Novo

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