terça-feira, 1 de setembro de 2009

Rodrigo Gonçalves no Ondajazz


Rodrigo Gonçalves Quinteto
Tribology Vol. 2
27 de Agosto de 2009, 23.00h
Ondajazz (Lisboa)

Rodrigo Gonçalves é um dos mais talentosos pianistas do jazz português. Nascido em 1972 inicia a formação musical logo aos 6 anos de idade com a Professora Ana Domingues do Conservatório Nacional, que complementa frequentando o Instituto Gregoriano de Lisboa entre 1984 e 1990. Decide então enveredar pelo estudo do jazz, frequentando o I seminário Internacional ProJazz, dirigido por Rufus Reid, Kenny Burrell e Clark Terry. É docente na escola de jazz do Hot Club de Portugal entre 1993 e 2003. Integra o quarteto de Carlos Barretto em 1995 e 1996.
Entre as suas múltiplas colaborações destacam-se trabalhos com grandes músicos internacionais como Avishai Cohen, Dave O’Higgins, Marcello di Leonardo, Stefano D’Anna, Art Themen, François Theberge, Mike Zwerin, John Ellis, Antonio Sanchez, Mark Turner e os lendários Von Freeman e Benny Golson.
A sua estreia em gravações como líder ocorre em 2004 com este projecto Tribology, que reuniu a participação de Mário Delgado, Paco Charlín, Alexandre Frazão e os saxofonistas Mark Turner e Perico Sambeat. Para esta segunda edição do projecto mantém a guitarra de Delgado e junta-lhe o contrabaixo de Bernardo Moreira, a bateria de Carlos Miguel e o saxofone do valenciano Jesus Santandreu.
Como já tinha sucedido no primeiro volume do projecto, este Tribology II é constituído exclusivamente por composições originais da autoria do pianista. Um sinal claro de maturidade e confiança. E foi uma aposta ganhadora porquanto Rodrigo Gonçalves se revela um exímio compositor, de ideias bem assentes, excelente criatividade e com um apurado sentido melódico. Mostrando uma liderança segura no piano, deixa contudo amplo espaço para a criatividade dos excelentes músicos que o acompanham, experientes e líderes dos seus próprios projectos musicais, com particular destaque para a guitarra de Mário Delgado (é sempre um prazer constatar a facilidade com que o guitarrista se adapta, com brilhantismo, aos mais variados ambientes musicais) e para o saxofone de Santandreu.
As influências são diversas. Se por vezes surgem notas de flamenco-jazz (algo raro no jazz português mas com vasta escola entre os músicos de Espanha), noutras ocasiões ouvem-se ecos do jazz latino-americano e da bossa nova. Ocasionalmente surgem ainda referências ao blues, bem servidas pelo virtuosismo de Mário Delgado e pela majestática presença de Bernardo Moreira, uma referência de qualidade, garante da solidez de qualquer formação que integre. Já o fraseado solto e criativo de Jesus Santandreu no saxofone remete para ambiências mais hard-bop, bem servidas pela batida forte e contagiante de Carlos Miguel na bateria.
Sem monopolizar as atenções, Rodrigo Gonçalves exibe uma técnica notável, sempre ao serviço da composição, da melodia e da consistência da formação. Mais do que um solista, que também o foi em momentos de raro brilhantismo, o pianista afirma-se neste projecto Tribology como um líder e um compositor. Algo bem mais difícil e que geralmente deixa uma marca forte e duradoura.
É pois mais um projecto revelador do bom momento que atravessa o jazz nacional, recheado de enormes valores. Os young lions lusitanos, formados pela escola do Hot nos anos 80 e 90 (e por outras que entretanto foram abrindo, com destaque para a ESMAE do Porto) estão agora em plena maturidade criativa, capazes de nos surpreender em cada novo trabalho.
Um crescendo qualitativo que é evidente e se saúda e onde cabe na perfeição este novo belíssimo trabalho de Rodrigo Gonçalves.

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