Boom!

Júlio Resende International 4tet
11 de Setembro, 00.00h
Hot Club de Portugal (Lisboa)

Concerto integrado na segunda edição do Festival Jazz.pt e que serviu para a apresentação do novo trabalho discográfico do quarteto liderado pelo pianista Júlio Resende, denominado “Assim Falava Jazzatustra” e editado pela Clean Feed.
O International 4tet de Júlio Resende, que gravou o disco, integra o espanhol Perico Sambeat no saxofone e o norueguês Ole Morten Vagan no contrabaixo, além do baterista nacional Joel Silva. Porém ambos os não portugueses faltaram à chamada, sendo substituídos por Desidério Lázaro e João Custódio, pelo que tivemos antes uma apresentação do “quarteto nacional” do pianista…
Não obstante, ouso afirmar que as ausências não se fizeram notar, de tal modo os substitutos se mostraram à altura da tarefa. Desidério Lázaro é já um dos mais brilhantes saxofonistas portugueses, com um fraseado solto, fluente, que faz inveja a muito consagrado da nossa praça! Ainda muito jovem, compensa alguma falta de rodagem e as inevitáveis pequenas imprecisões técnicas características de um músico em início de carreira, com uma enorme criatividade e presença em palco, capaz de arrebatar o público em cada solo. Um verdadeiro young lion lusitano!
João Custódio conhece como poucos a obra de Resende e afirma-se mesmo como um suporte essencial do pianista. Experiente, dono de uma técnica soberba, o contrabaixo nas suas mãos assume a liderança rítmica do quarteto, contagiando o público com a pulsação forte e marcante que ecoa das suas cordas.
O jovem Joel Silva é a nova estrela entre os bateristas recém chegados ao circuito profissional do jazz nacional, ocupando o lugar deixado vago pela “transferência” de João Lobo para terras transalpinas (como no futebol…). Seguro, de batida firme e boa capacidade de improvisação, mostrou-se à altura de mais este chamamento, a juntar a muitos outros projectos musicais de relevo em que se viu envolvido no corrente ano. Um músico com enorme potencial.
Júlio Resende esse é já uma certeza. Não apenas como exímio pianista, mostrou-o a solo e ao lado de alguns dos melhores músicos que têm passado pelos palcos nacionais (Perico Sambeat, John Hebert, Carlos Barretto, etc), mas também e sobretudo como compositor, área em que tem ganho evidente fluência, e arranjador, líder por natureza das formações que integra.
Foi pois uma apresentação completa do novo repertório do disco “Assim Falava Jazzatustra” a que assistimos neste concerto, a que nem faltou o tema Jazz.pt, dedicado à revista e festival que foram os anfitriões nesta noite de gala no velhinho Hot Club.
Uma obra poderosa, plena de vigor contagiante, que quase punha o Hot apinhado a dançar…
Um quarteto carregado de juventude, de criatividade e em grande forma!


Júlio Resende
Assim Falava Jazzatustra
Clean Feed, 2009

Um disco carregado de energia. Forte, pulsante, pujante mesmo. O pianista algarvio Júlio Resende assume-se como porta-voz de uma nova geração de músicos, nascidos na liberdade e que assumem esse valor como referência essencial para o seu processo criativo.
Uma geração sem fronteiras, habituada a estudar e conviver com gente de todo o mundo e que, por isso, não surpreende ao recorrer a músicos de outras paragens como sidemen para os seus projectos. Acompanham o piano de Resende o saxofone do espanhol Perico Sambeat e o contrabaixo do norueguês Ole Morten Vagan, além do jovem e promissor baterista português Joel Silva, formando o denominado quarteto internacional do pianista.
Assim Falava Jazzatustra, título alusivo à sala dedicada ao filósofo alemão Friedrich Nietzsche na Fábrica Braço de Prata, onde Resende toca habitualmente e gravou, ao vivo, o presente disco (ou não fosse o pianista licenciado em Filosofia), recorre ainda ao saxofonista algarvio Desidério Lázaro, formado na Holanda e um dos mais promissores solistas actuais do jazz nacional, no tema “Caixa Registadora”, e a uma canção denominada “Ir e Voltar”, escrita pelo pianista para a cantora Manuela Azevedo (dos Clã) e gravada com João Custódio no contrabaixo, também ele um habitué do quarteto e que integrou a formação que gravou o primeiro trabalho discográfico de Resende em 2007.
Não é contudo uma obra lógica, planificada. Este trabalho surge antes como uma alegre e saudável manta de retalhos, reunindo vários temas compostos e apresentados pelo pianista nos últimos dois anos, nos mais variados contextos e ensembles. O ponto de encontro é o enorme talento de Resende e dos músicos que acompanham. É com redobrada atenção que apreciamos os novos arranjos, as roupagens de luxo com que Resende soube vestir seis originais seus e ainda uma versão de “Shine On You Crazy Diamond” dos Pink Floyd, a solo, já apresentada na sua estreia nesse formato, no Instituto Franco-Portugais, no passado mês de Janeiro.
Um disco poderoso e demonstrativo da enorme evolução técnica e criativa de Júlio Resende, um pianista de quem podemos esperar muito! Obrigatório e sério candidato ao título de melhor álbum de jazz nacional do ano.

Júlio Resende - Shine On You Crazy Diamond