sexta-feira, 15 de maio de 2009

Neblina Matinal



Avishai Cohen
Aurora
Blue Note, 2009

Avishai Cohen nasceu em Israel em 1970, no seio de uma família de tradição musical. Em criança começou por aprender piano mas mudou para o baixo eléctrico depois de descobrir a obra de Jaco Pastorius. Passou dois anos pela banda do exército e rumou a Nova Iorque, onde encontrou trabalho em bandas da jazz latino. Tocou com Danilo Perez e adquiriu um gosto e especial talento para os ritmos latinos, que ainda hoje povoam a sua música.
Fundou o seu primeiro grupo, e atraiu a atenção de Chick Corea, que o convidou não apenas para gravar pela sua editora, a Stretch Records, como também para ocupar o lugar de contrabaixista na sua nova formação, o sexteto Origin. Foi a melhor escola para o jovem Avishai Cohen. Correu mundo ao lado de Corea, desenvolveu e aprofundou os seus conhecimentos musicais, revelou-se como compositor e arranjador de raro talento. Em pouco tempo estava a ser requisitado por músicos como Alicia Keys, Bobby McFerrin, Roy Hargrove, Herbie Hancock, Nnenna Freelon, Claudia Acuña, Paquito D’Rivera e a tocar com as orquestras filarmónicas de Londres, de Israel e a Boston Pops Symphony.
Depois de quatro álbuns editados sob a chancela de Corea, Cohen seguiu o seu próprio caminho, que o levou de regresso a Israel e à fundação da sua própria editora, a Razdaz Records.
A sua música desenvolve então um percurso de redescoberta das suas origens judaicas, sem nunca renunciar à preciosa bagagem adquirida nos Estados Unidos, o jazz de Corea e o ritmo do panamiano Danilo Perez.
Cohen assume-se como um compositor de referência. Os álbuns lançados pela Razdaz, ao lado de Shai Maestro, de Amos Hoffman, de Sam Barsch e de Mark Guiliana, entre outros, são verdadeiras pérolas onde o jazz surge inovador e apelativo, casado superiormente com os ritmos do médio oriente e da América Latina. A criatividade de Cohen como compositor parece não ter limites e grava temas antológicos como Remembering ou Lo Baiom Velo Balyla, obras-primas da nova fusão ou do world jazz, se preferirem. Lyla, em 2003, At Home, em 2005, Continuo, em 2006 e Gently Disturbed, de 2007, são discos de referência que lhe valem um legião de fans por todo o mundo e o rótulo de um dos mais admirados contrabaixistas da actualidade. Pelo meio grava, também para a Razdaz e em 2007, As Is… um CD/DVD de um concerto do trio ao vivo no Blue Note, em Nova Iorque.
As expectativas são assim elevadíssimas quando Avishai Cohen apresenta um novo trabalho, Aurora, lançado já este ano e pela prestigiada Blue Note. A acompanhá-lo estão velhos companheiros de estrada como Amos Hoffman e o percussionista Itamar Doari, o jovem pianista Shai Maestro que tão bem o acompanhou em Gently Disturbed e uma novidade, a cantora Karen Malka, indicadora de que um novo rumo se traçava nesta aurora de Cohen na Blue Note. Nota-se desde logo a falta do baterista Mark Guiliana, alter ego musical de Cohen e presença importante nos trabalhos anteriores.
Mas as novidades estão longe de acabar. Depois de 5 anos de treino Cohen decide usar a sua voz e gravar um disco cantado. A segurança não é ainda muita porquanto não prescinde de uma boa voz de background, a da cantora Karen Malka. Também o repertório, pese embora assente em originais seus, acentua a viagem de regresso às origens, incidindo muito mais no universo da música popular judaica do que propriamente no jazz. Consequência directa do uso da voz.
O que dizer do resultado? Confesso que me desiludiu.
Com todo o respeito que me merece Avishai Cohen e a sua obra (eu faço indiscutivelmente parte daquela legião de fans a que aludi), o contrabaixista pode e sabe dar muito mais…
Não é que o álbum seja mau. Na verdade há alguns temas muito interessantes com uma inegável marca do compositor Avishai Cohen. Morenika é uma deliciosa balada sefardita cantada em ladino e hebraico que rivaliza na beleza com Lo Baiom Velo Balyla. Leolam é uma composição inspirada que caberia na perfeição em trabalhos anteriores. Por todo o lado surge aquela confluência de estilos que tanto marca o som de Cohen: influências árabes e andaluzas, uma enorme encruzilhada de sons e culturas que unem o Meidterrâneo às Caraíbas e à América do Norte.
Mas se estas influências já existiam em obras anteriores o que falta aqui é o jazz para lhes dar uma casa comum. Na verdade o jazz é um poderoso solvente onde se podem verter todas as músicas do mundo e ainda assim acreditar na qualidade da solução final. Retira-se o jazz e a solução torna-se enjoativa…
Este não é decididamente um disco de jazz, mesmo sendo de Avishai Cohen e editado pela Blue Note. É um interessante álbum de música hebraica, feito por músicos competentes e com um inspirado compositor e arranjador a liderar o projecto.
Interessante, mas sem o génio de obras anteriores do contrabaixista…
Fiquem ainda assim com alguns temas do disco, gravados na Fnac de Paris-Montparnasse e bem assim com um vídeo promocional do álbum em que Cohen fala do projecto e das suas motivações.
Por mim espero que Cohen reencontre rapidamente o génio patente em Gently Disturbed ou em Continuo. Talvez o reencontro com Mark Guiliana seja o primeiro passo…

Avishai Cohen – The Making of Aurora


Avishai Cohen – Leolam


Avishai Cohen – Morenika

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