sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Por Terras Polacas I


Piotr Wyleżoł
Piano Trio, 2007

O jazz polaco permanece entre nós pouco mais do que desconhecido.
Se excluirmos o veterano Tomasz Stanko, que se transformou, nos últimos anos, numa das estrelas da ECM, com concertos um pouco por todo o mundo (esteve na Culturgest em Fevereiro de 2008, num memorável espectáculo) e os seus sidemen Marcin Wasilewski no piano, Slawomir Kurkiewicz no contrabaixo e Michal Miskiewicz na bateria, emancipados por Manfred Eicher num projecto em trio, denominado Simple Acoustic Trio, já com dois álbuns editados pela ECM (o segundo em 2009 sob o nome Marcin Wasilewski Trio), e ainda o jovem e brilhante pianista Leszek Mozdzer, apresentado ao público internacional pela também alemã ACT, em duo com o experiente contrabaixista sueco Lars Danielsson, pouco mais oriundo do jazz polaco mereceu edição portuguesa ou mesmo internacional.
Mas o jazz polaco promete muito mais, com vários jovens músicos de enorme qualidade a surgirem, após carreiras académicas impressionantes, integrados em formações internacionais.
É o caso do pianista e compositor Piotr Wyleżoł, nascido em 1976 e que, aos 10 anos de idade, já tocava concertos para piano de Mozart e Beethoven, acompanhado pela Rybnik Philharmonic Orchestra!
Concluiu em 1995 o curso de piano da escola musical de Katowice e em 2000 a licenciatura em jazz da Academia Karol Szymanowski, na mesma cidade, onde foi aluno de Wojciech Niedziela.
Em 2007 foi integrado como docente na Academia Musical de Cracóvia, como responsável pelo Departamento de Jazz e Música Contemporânea.
Desde cedo apontado como um pianista de excepção, integrou, ainda estudante, formações de destacados músicos de jazz polacos, como Janusz Muniak, Jarosław Śmietana e Marek Bałata, sendo presença assídua nos projectos actuais de Nigel Kennedy, Jarosław Śmietana, e Ewa Bem.
Entretanto fundou o seu trio, com o qual lançou um primeiro disco como líder em 2001, denominado Yearning, com Łukasz Żyta na bateria e o baixista Adam Kowalewski. A esta estreia seguiu-se, em 2006 (editado em 2007), este Piano Trio, em que Kowalewski foi substituído por Michał Barański. Já em 2009 surgiu o primeiro trabalho para uma editora estrangeira, a espanhola Fresh Sound Records, denominado Children's Episodes, em que o pianista mantém a formação de Piano Trio.
Neste disco Wyleżoł revela-se um brilhante compositor e invejável tecnicista. O álbum abre com Definitely, um tema com fortes influências do hard bop norte-americano e onde se adivinharia (erradamente) uma formação Berkleyiana… A boa influência de Bill Evans sente-se na partilha entre os músicos, com Barański e Żyta a alternarem no protagonismo do tema, revelando, também eles, qualidades assinaláveis nos respectivos instrumentos. Um jazz adulto e com o pianista e compositor a demonstrar que conhece bem as boas referências do género.
Segue-se uma balada, curiosamente denominada Mojo (uma palavra que lembra Austin Powers e Quincy Jones). Uma vez mais vêm ao de cima as assinaláveis qualidades técnicas e de composição do pianista. Bela, imaginativa, superiormente arranjada e com um desenvolvimento em crescendo que mostra capacidade de improvisação dos três músicos.
Em Taboo to Love Wyleżoł insiste nas baladas, agora com uma pulsação latina de fundo. Melódica e cativante é, uma vez mais, a herança de Evans que vem à lembrança. Um belíssimo solo de contrabaixo demonstra que este trio é muito mais do que um mero acompanhamento do virtuosismo do pianista.
À pergunta Who Am I? o pianista responde com uma inspirada composição onde o bop e a fusão se conjugam pelo virtuosismo dos solos. Seguramente recursos e cultura musical não faltam a este trio!
Lonesome Dancer regressa a uma toada mais nostálgica mas servida por uma exímia capacidade melódica e uma superior criatividade. Mais uma balada de sonho, em blues, que revitaliza os clássicos e demonstra o quanto o jazz actual è deles devedor.
Em By the Way o trio aventura-se por territórios mais ambientais, mostrando, a propósito, que o seu léxico abrange igualmente as linguagens jazzísticas norte-europeias, onde aliás se integra por direito próprio.
Mas para que a depressão se não apodere do ouvinte segue-se um regresso seguro ao universo bop, em Double Exposure. Improvisação, criatividade e swing, qb.
Há ainda tempo para uma valsa Stolen Waltz, que, se é roubada, não consta que tenham sido apresentadas queixas. Se bem que o fantasma de Bill Evans e da sua Waltz for Debby estejam à espreita… E ainda para Dr. Holmes em que o hard bop é revisitado com enorme criatividade, destacando-se a excelente composição rítmica de Żyta, a fechar com chave de ouro um disco memorável.
Um excelente trio de piano em qualquer parte do mundo.
Recomenda-se.

Piotr Wylezol Trio feat Kenny Wheeler "Where Do We Go From Here"

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