terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O Grande Bollani


Stefano Bollani Trio
Stone in the water
10 de Janeiro de 2010, 21.30h
Grande Auditório da Culturgest

Stefano Bollani é um dos mais versáteis pianistas do jazz contemporâneo, aventurando-se com igual facilidade em territórios de fusão, no denominado jazz mainstream ou ainda na música contemporânea, mais ou menos improvisada.
Com este trio que ora se apresentou em Lisboa, em que ao lado do pianista italiano surgem os dinamarqueses Jesper Bodilsen no contrabaixo e Morten Lund na bateria, gravou já três discos, Mi Ritorni in Mente, em 2003, e Gleda, Songs From Scandinavia, em 2005, ambos para a Stunt Records e ainda o álbum que dá nome ao espectáculo, gravado em 2008 e editado no ano seguinte pela alemã ECM.
Para a comunidade jazzística Stefano Bollani é conhecido sobretudo pelas suas colaborações com o trompetista Enrico Rava, com quem gravou Easy Living, Tati, The Third Man e New York Days, todos para a ECM, mas os seus compatriotas conhecem-no mais pelas suas incursões no pop, pelos extremos virtuosismo e versatilidade e pelas notórias capacidades de comunicação em palco, onde se assume como um completo entertainer.
Menino-prodígio do piano (começou a tocar como profissional aos 15 anos de idade, já licenciado em piano pelo Conservatório Luigi Cherubini em Florença) Bollani é um fenómeno. Pela técnica soberba, pela entrega única, pela superior capacidade de improvisação. Um verdadeiro animal de palco!
Stone in the water afigura-se assim, no disco, como uma obra de notável contenção, porquanto a sua atmosfera bucólica, nostálgica, por vezes quase ambiental contrasta em absoluto com a irreverência e exuberância naturais do pianista. Dir-se-ia que Manfred Eicher “domou” o génio de Bollani, encaixando-o na perfeição no estilo minimalista da sua editora.
Não que o álbum não deixe transparecer as notáveis qualidades do pianista. Longe disso! A técnica e a criatividade de Stefano Bollani estão lá bem evidentes. Apenas um decibéis abaixo do que seria expectável, numa clara opção estética pela pureza do som ECM.
Ao vivo tudo muda de figura.
Bollani solta-se e com ele também os músicos que o acompanham, com especial evidência para o bateria Morten Lund, o único com verdadeira pedalada para os desafios permanentemente lançados pelo pianista. A ponto de o espectáculo desenvolver um lado manifestamente lúdico que muito contribui para a conquista do público.
Ganha-se em energia e entrega o que porventura se perde em rigor.
Mas Stefano Bollani é assim mesmo, um desafio permanente, para quem o escuta como para quem o acompanha.
A título comparativo oiça-se I’m In The Mood For Love, o álbum que Bollani gravou apenas um ano antes com o seu trio italiano, composto por Ares Tavolazzi e Walter Paoli para a editora japonesa Venus. É outro músico. Os temas surgem com uma irreverência e criatividade tipicamente latinas. O lado negro que percorre as gravações de Eicher desaparece para dar lugar a uma alegria e um swing contagiantes.
Foi esse Bollani que surgiu em palco na Culturgest. Extrovertido, deconcertante, irreverente.
E ainda bem. Pois pudemos presenciar uma apresentação notável de um grande pianista de jazz.

Stefano Bollani Danish Trio

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