sábado, 2 de janeiro de 2010
Camel Walk
Maria Kannegaard Trio
Camel Walk
Jazzland, 2008
Nascida em 1970, em Copenhaga, mas criada na Noruega desde os 10 anos de idade, Maria Kannegaard começou cedo os seus estudos no piano, logo aos 5 anos. Aos 6 iniciou-se na composição.
Após um início clássico, rapidamente começou a interessar-se pelo jazz, sobretudo por influência de pianistas como Keith Jarret e Bill Evans, que lhe abriram um novo mundo de possibilidades harmónicas. O seu interesse pela harmonia levou-a a estudar aprofundadamente pianistas não melódicos, como Geri Allen ou Herbie Nichols, este último objecto da sua tese final de curso.
Aluna do Conservatório de Trondheim em 1992, acabaria o curso em 1997, ano em que formou igualmente o seu trio com Mats Eilertesen no contrabaixo e Thomas Stronen na bateria. A estreia discográfica ocorreria em 2000, através da editora alemã ACT, com o álbum Breaking the Surface.
Seguir-se-iam Quiet Joy, em 2005, editado pela Jazzland, Maryland em 2007, com chancela da Moserobie, onde Kannegaard junta ao trio o saxofone de Hakon Kornstad e, finalmente, este Camel Walk, editado em 2008 pela Jazzland. Nas gravações mais recentes Ole Morten Vagan (o mesmo que gravou recentemente com o pianista português Júlio Resende) e Hakon MjaJohansen tomaram o lugar, respectivamente, de Eilertsen e Stronen no contrabaixo e bateria.
A música de Kannegaard constitui uma abordagem muito pessoal do jazz. Longe de delinear preciosamente solos e improvisações, a sua música é feita de pequenas nuances, de evoluções graduais e por vezes quase hipnóticas, de composições da sua autoria, numa abordagem colectiva e interactiva.
Maria constrói, a partir de melodias relativamente simples, temas circulares, repetitivos, num claro apelo a uma estética abstracta e, frequentemente, minimalista. Mas não se fica por aqui. Sobre o tema desenvolve então as suas ideias musicais, em cumplicidade com os restantes membros do trio, privilegiando quase sempre o ritmo e sobretudo a harmonia, à melodia.
O resultado é um jazz acústico, frequentemente ambiental, onde as imagens se vão sucedendo. Cada música é quase um quadro, uma fotografia, uma impressão sonora de um tempo e de um espaço. Cada nota uma cor, uma pincelada, uma sombra.
Em Camel Walks as impressões sucedem-se sugeridas até pelos títulos inequívocos: contemplativos como Drifting Down the Nile, A Cup of Coffee and Some Danish Pastries ou Traveling Pass, enérgicos como Haunted ou Camel Walk ou minimalistas como Bits ou Sliding Doors.
Maria Kannegaard desafia assim os fundamentos do tradicional trio de piano sem recorrer a estéticas pop ou ao puro vanguardismo conceptual. A sua música é livre, inconvencional, mas segura, assente nas bases sólidas da tradição jazzística. E por isso consegue atravessar convenções a surgir apelativa a vários tipos de público.
Gostei.
Maria Kannegaard Trio
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