sábado, 6 de dezembro de 2008

25 Anos com Maria João & Mário Laginha



Maria João & Mário Laginha
Chocolate
5 de Dezembro de 2008, 21.00h
Grande Auditório do CCB (Lisboa)
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Vinte e cinco anos a cantar jazz em Portugal é obra. Ainda mais do jeito tão especial quanto Maria João e Mário Laginha nos habituaram.
Fiéis aos seus princípios de imprimirem uma indelével marca pessoal em tudo o que fazem (uma impressão digital, nas emocionadas palavras de Maria João) e de levarem até às últimas consequências a sua irreverência musical, este duo que, na verdade, nunca o foi, pois esteve sempre acompanhado por alguns dos melhores músicos que pisaram os palcos nacionais, é hoje indiscutivelmente uma instituição da música portuguesa e internacional.
Numa busca incessante de um estilo próprio de viver a música, construído a partir de uma raiz jazzística mas fortemente informado pelos sons de África, da infância de Maria João, mas também do Brasil (a que não será alheia a constante presença de Yuri Daniel e de Alexandre Frazão nos seus sucessivos trabalhos) e da música tradicional portuguesa, Maria João e Mário Laginha conseguiram vencer resistências, conformismos e preconceitos e fazer escola.
A história destes 25 anos é também a história da escola de jazz Luís Villas-Boas do Hot Club de Portugal, onde ambos se conheceram, aprenderam muito e ensinaram mais ainda. Transformaram-se nos mais mediáticos embaixadores da nova geração de músicos de jazz nacionais e numa referência incontornável para todos os que acreditam que, como eles, é possível fazer jazz de enorme qualidade em Portugal e levá-lo aos mais importantes palcos do mundo.
Neste concerto propuseram-nos um regresso às origens. Aos standards que, nas mãos de Mário Laginha e na voz de Maria João, nunca o são verdadeiramente, de tal forma se apropriam de tudo o que tocam e cantam. Maria João, como habitualmente, com as emoções à flor da pele, num autêntico carrossel de sentimentos, de ritmo e de expressão. Mário Laginha com o virtuosismo nos arranjos e no piano que lhe é reconhecido.
O regresso às origens fez-se também pela exuberância de Alexandre Frazão na bateria, parceiro maior e de sempre neste projecto. Pela imperturbável confiança de Bernardo Moreira no contrabaixo, colaborador assíduo do pianista, de há largos anos, e também ele fruto desta primeira geração da escola do Hot. E pela criatividade de Julian Argüelles nos saxofones, um músico que começa a ganhar um lugar de destaque na música portuguesa, de tal forma tem aparecido ligado aos mais relevantes projectos desenvolvidos no jazz nacional, nomeadamente os protagonizados por Mário Laginha.
Foi assim uma viagem plena de emoções. Onde ao lado dos novos temas como “I’ve Grown Accustomed to His Face” surgiram pérolas do passado como “Beatriz”, um tema composto por Chico Buarque e Edu Lobo e que se transformou num hino ao bom gosto e ao enormíssimo talento de Maria João e Mário Laginha. O momento mágico do espectáculo. Silêncio absoluto de uma plateia rendida à maravilhosa interpretação de uma das mais sublimes exibições de beleza musical que a música portuguesa conseguiu produzir.
Foi um inesquecível privilégio.
Venham os próximos 25 anos que, a avaliar pelo espectáculo desta noite, prometem celebrações com enorme pompa e circunstância.

Maria João & Mário Laginha - Beatriz


Maria João & Mário Laginha - Unravel

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