quinta-feira, 1 de abril de 2010

Recital a Solo


Fred Hersch
Recital a solo
26 de Março de 2010, 21.30h
Grande Auditório da Culturgest (Lisboa)

Fred Hersch é um dos mais brilhantes músicos da sua geração, sideman, desde a década de 70, de alguns notáveis do jazz, como Joe Henderson, Art Farmer ou Stan Getz, e líder dos seus próprios e variados projectos desde então, que lhe valeram um Guggenheim Memorial Fellowship e três nomeações para os Grammy.
Pianista e compositor exímio, marcou também através de parcerias memoráveis com músicos como Christopher O’Riley, Bill Frisell, Toots Thielemans ou Charlie Haden.
Mas foi a solo que ganhou, talvez, maior projecção, sendo notáveis as suas gravações de originais e ainda as dedicadas a compositores consagrados como Cole Porter, Billy Strayhorn, Jonhnny Mandel, Thelonious Monk ou António Carlos Jobim.
Foi precisamente um vislumbre deste vasto e riquíssimo repertório que nos foi apresentado neste recital, no grande auditório da Culturgest. Com tanto material a solo, gravado e arranjado, Hersch limitou-se a deixar-se levar, ao sabor dele, intercalando originais com temas clássicos de Jobim, Monk ou Powell.
Tecnicamente soberbo, foi no entanto contido, num estilo característico que assenta perfeitamente no título encontrado para a apresentação. Lírico e preciosista, mais do que empolgante, Hersch demorou a conquistar o público, o que aliás só sucedeu em dois temas bopistas, quando parafraseou o génio de Thelonious Monk e Bud Powell.
De resto foi uma noite morna, embalada pelo impressionismo nostálgico das suas composições.
É o risco inerente às apresentações a solo e, mais do que isso, da transformação do jazz num recital de piano. O jazz é muito mais do que isso. É vida, é sangue que corre nas veias, é ritmo, quer se dance, quer não. Por isso sente-se muito melhor nos bares e nos clubes, do que nas salas de concerto.
Assim, o pianista legou-nos um híbrido.
Muito bem tocado é certo, mas nem foi carne, nem peixe.

Fred Hersch – Let Yourself Go (trailer)

Sem comentários: