domingo, 11 de abril de 2010

Labirintos Musicais


Carlos Barretto Lokomotiv
Labirintos
6 de Abril, 21.30h
Cinema São Jorge (Lisboa)

Dia de apresentação do mais recente disco do trio Lokomotiv, liderado por Carlos Barretto, indubitavelmente uma das mais criativas formações do jazz nacional.
Composto por três dos melhores tecnicistas que temos nos respectivos instrumentos, Carlos Barretto no contrabaixo, José Salgueiro na bateria e Mário Delgado na guitarra eléctrica, o lançamento de um novo trabalho deste trio é sempre um acontecimento especial para a comunidade jazzística, até porque há sete anos que o grupo não gravava em conjunto.
Por isso o São Jorge quase encheu para assistir a uma apresentação memorável, essencialmente assente no trabalho Labirintos (apenas foi tocado o tema Radio Song, no encore, do antigo repertório do trio), em que a criatividade e ousadia das composições de Barretto foram brilhantemente interpretadas, fruto do virtuosismo dos músicos envolvidos.
A riqueza rítmica do trabalho de Barretto não tem paralelo no universo jazzístico nacional, brilhantemente complementada pelos enormes recursos na percussão de José Salgueiro, sem dúvida alguma, um dos mais completos músicos no seu instrumento que pisam os palcos portugueses.
Ao seu estilo inconfundível Mário Delgado completa o trio com a sua panóplia de sons e efeitos extraídos da guitarra eléctrica, num exercício de pura liberdade criativa e ousadia melódica.
Lokomotiv é assim um projecto que se afirma, em cada trabalho, como um estilo próprio de música improvisada, que ultrapassa qualificações e géneros. Uma experimentação constante, um desafio permanente à inspiração dos músicos e aos sentidos dos ouvintes. Um labirinto de sons onde vale a pena perder-se a cada tema e a cada nova audição.
Se outras virtudes não tivesse, esta apresentação serviria ainda para desmentir categoricamente a ideia pré-concebida de que a música contemporânea improvisada, fora dos cânones do jazz tradicional, é fria e cerebral, chata e comprida usando o jargão popular, música para intelectuais.
Nas mãos destes músicos improvisação é sinónimo de ritmo, de entrega e de criatividade. A prová-lo esteve a adesão incondicional do público, demonstrativa de que a música é verdadeiramente universal, sobretudo quando tocada com a honestidade e ousadia deste trio Lokomotiv.
E foi sintomática a presença no público de muitos músicos, oriundos dos mais variados géneros músicas, a aplaudirem reconhecidamente o talento de Barretto e dos seus pares.
E a fechar a festa ouve ainda tempo para o convívio salutar no bar e varanda do São Jorge, temporariamente transformado num sucedâneo do pátio do já saudoso Hot Club.
O trio vai agora percorrer o país na apresentação do seu novo trabalho, seguindo-se já no próximo dia 29 de Abril, um concerto no Porto no Teatro Helena Sá e Costa.
A não perder!

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