domingo, 28 de março de 2010

Vinicio Wonder


Vinicio Capossela
Solo Show
24 de Março 2010, 21.30h
Grande Auditório da Culturgest (Lisboa)

Vinicio Capossela é um caso ímpar no panorama musical actual. Um daqueles músicos que escapa a qualquer tentativa de catalogação, embora possa facilmente vislumbrar-se influências ou inspirações.
E a sua música vive essencialmente disso, de inspiração. Com uma facilidade admirável, Capossela bebe de tudo o que ouve, preferencialmente daquilo que já todos ouviram milhares de vezes, e dá-lhe a volta… O resultado gera uma empatia quase imediata do público mas consegue igualmente satisfazer críticos, porquanto a tal volta, o toque de Capossela, é frequentemente suficiente para que o italiano se aproprie com pertinências dessas sonoridades comuns, encontradas ao sabor do acaso nos palcos do mundo (há de tudo um pouco, mornas, polcas, rock n’roll, havaianas, tarantellas, valsas, rancheras, tangos, em suma, referências populares oriundas das mais variadas regiões do mundo), e as transforme num repertório criativo, inquestionavelmente da sua autoria.
É um dom invejável!
Claro que por vezes lembra Tom Waits (e que boa lembrança esta…), mas longe de imitar o génio do norte-americano, a lembrança surge pelo timbre rouco e incaracterístico da voz, mas também pela assombrosa manta de retalhos que constitui o repertório de ambos.
E claro está, pela irreverência, que em Waits percorre sobretudo o cancioneiro (e o imaginário) norte-americano, e em Capossela o globalizado dos dias que correm.
Solo Show está longe de ser um concerto a solo. Está longe até de ser apenas um concerto, porquanto a ousadia do italiano transformou cada apresentação do seu espectáculo numa obra multidisciplinar de cariz popular, onde a música se funde com as artes cénicas, com o humor, a magia das ilusões, sejam elas protagonizadas pelo delicioso Christopher Wonder (o feiticeiro, a pinhata humana e entertainer para todo o serviço), seja pelos músicos e restantes colaboradores de Vinicio, que vestem a pele dos mais variados personagens ao longo da apresentação, ao sabor das evocações surrealistas dos textos do compositor.
A espectacularidade das apresentações, aliada à empatia das composições de raiz popular de Capossela, justifica amplamente a sua popularidade, por vezes comparável a uma estrela do rock.
A seriedade, o apuro técnico e a qualidade do seu trabalho justificam amplamente a boa receptividade da crítica.
Depois de um concerto de grande sucesso em 2007, neste mesmo auditório da Culturgest, o mago italiano regressou agora para uma mini tour de quatro concertos em Portugal (com os bilhetes a esgotarem na Culturgest).
Se ainda não foi desta que testemunhou a experiência única que é um concerto de Capossela, não desespere. O italiano seguramente regressará, no futuro, para mais espectáculos. A sua crescente legião de fãs vai certamente exigi-los.

Vinicio Capossela - All'una e trentacinque circa

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