segunda-feira, 8 de março de 2010

Pathos


The Claudia Quintet
7 de Março de 2010, 22.30h
Fábrica Braço de Prata (Lisboa)

O baterista e compositor norte-americano John Hollenbeck ganhou já um estatuto junto da comunidade jazzística internacional que dispensa apresentações. Galardoado com a Guggenheim Fellowship em 2007, depois de ser apontado pela imprensa especializada como um dos mais promissores músicos da sua geração, nomeado para um Grammy em 2005, pela sua estreia à frente de uma Big Band, no projecto “ A Blessing”, Hollenbeck é hoje um valor seguro do jazz norte-americano, líder por natureza de uma série de projectos, de que este Claudia Quintet é seguramente um dos mais gravados e conhecidos, após quatro discos editados entre 2002 e 2007.
Compositor excepcional, Hollenbeck criou uma linguagem musical própria, em que o jazz se funde com a composição contemporânea de um modo experimental mas particularmente feliz.
A liderança da secção rítmica é clara nas suas obras, em que a música brota a partir das batidas ora frenéticas ora pulsantes da percussão, brilhantemente acompanhadas pelo talento de Drew Gress no contrabaixo. A música deste quinteto nasce precisamente nessa sumptuosa cama rítmica criada por Hollenbeck e Gress, onde se vão integrando, em funções manifestamente complementares, sem colocar em causa a sua relevância, os restantes instrumentos.
São eles o piano entregue a Matt Mitchell, em tarefas que alternam entre a harmonia, a melodia ocasional (quase diria incidental) e até a percussão, o inusitado acordeão, entregue a Ted Reichman, também ele um parceiro em aventuras rítmicas que esporadicamente pisa terrenos harmónicos e melódicos e, finalmente, o saxofone e clarinete de Chris Speed, o toque de jazz que integra o conjunto e assume a maioria das despesas melódicas do quinteto.
Faltou nesta apresentação o vibrafone de Tim Collins, sucedâneo nas funções desta feita desempenhadas pelo piano.
Afirmar que a música de Hollenbeck é original é subvalorizar a obra deste compositor. As suas ambições criativas vão muito além da originalidade e da simples pesquisa. A sua obra pisa terrenos refundadores do jazz contemporâneo, protagonizando a criação de uma linguagem musical nova que, pese embora não renegue as raízes populares do jazz, assenta essencialmente numa componente erudita e experimental.
Alterna a simplicidade desarmante com uma complexidade tremenda. Exibe momentos de enorme virtuosismo (sobretudo de Hollenbeck e Gress), mas sempre integrados numa lógica colectiva, em que cada instrumento e instrumentista funcionam com uma rara unidade interpretativa.
A música deste Quinteto Claudia surpreende ao manifestar uma componente quase orgânica, com a música a fluir e a crescer, naturalmente, a partir de bases rítmicas complexas e em permanente mutação. Ora em sussurros meditativos e estranhamente melódicos, ora em momentos do mais puro pathos.
Uma experiência musical única e revigorante.

The Claudia Quintet - Arabic (Jazz Baltica 2009)

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