segunda-feira, 22 de março de 2010

Destaques na Nova Temporada da Culturgest


RED Trio + John Butcher
Ciclo “Isto é Jazz?” Comissário: Pedro Costa
7 de Abril, 21.30h
Pequeno Auditório (Lisboa)

Piano Rodrigo Pinheiro Contrabaixo Hernâni Faustino
Bateria Gabriel Ferrandini Saxofones tenor e soprano John Butcher

O RED Trio é uma das mais agradáveis surpresas na improvisação em Portugal dos últimos anos. A sua música reflecte os percursos musicais, os gostos, os credos de cada membro do grupo. No RED Trio tudo é denso, por vezes visceral. A sua estética aproxima-se do free jazz para dele se distanciar logo de seguida. Bebe na tradição da improvisação europeia mas é muito mais do que isso.
No seu segundo ano de existência e no lançamento do seu primeiro álbum intitulado RED Trio, a banda apresenta-se em formação expandida: convidou para se juntar a ela um dos músicos favoritos dos seus elementos, o saxofonista britânico John Butcher.
O RED Trio foi formado em 2007 por Rodrigo Pinheiro no piano, Hernâni Faustino no contrabaixo e Gabriel Ferrandini na bateria, todos eles destacados elementos da nova geração de músicos da cena portuguesa de improvisação livre. Partindo do clássico trio de piano, o RED Trio afasta-se deste paradigma colocando no mesmo plano de importância sonora todos os instrumentos que o constituem, todos eles tendo uma participação forte no som do grupo. É das intersecções, confluências, perturbações e utilização de técnicas extensivas que surge o discurso único do grupo: uma gama dinâmica que vai do quase silêncio até descargas de energia sónica plenas de violência. Com mais de dez concertos em Portugal desde a sua criação (Hot Clube, Moagem, Teatro Viriato, Teatro Académico Gil Vicente, Zoom Cineclube, entre outros) vê, agora, a regularidade e qualidade dos seus concertos premiada com a edição do seu primeiro álbum editado pela Clean Feed.
Numa entrevista à revista italiana Alter Musiche, John Butcher afirmava que nos seus concertos preferia, em vez de sobrepor a sua voz à do conjunto, tocar entre o discurso dos outros músicos, e com pequenas ideias subtis mudar todo o sentido e direcção da música produzida. Este conceito acaba por ser a definição perfeita do estilo e da abordagem com que Butcher e os elementos do RED Trio encaram o processo de criação musical em tempo real. É desta comunhão de ideias que este novo quarteto, que agora se apresenta na Culturgest, promete uma música de forte personalidade e de resultados surpreendentes.

Red Trio - 2008 (Moagem)

RED Trio - Moagem 1 from Rodrigo Pinheiro on Vimeo.




Ted Nash Quarteto
The Mancini Project
Programador: Manuel Jorge Veloso
13 de Abril, 21.30h
Grande Auditório (Lisboa)

Saxofones Ted Nash Piano Frank Kimbrough
Contrabaixo Jay Anderson Bateria Ali Jackson

Competentíssimo músico de estante e solista de mérito da Lincoln Center Jazz Orchestra, dirigida por Wynton Marsalis, o saxofonista norte-americano Ted Nash está desde há muito apostado numa carreira individual, liderando formações instrumentais de constituição muito diversa para a concretização de projectos musicais próprios e altamente individualizados. Para além disso, foi membro fundador e elemento muito activo do Jazz Composers Collective, um conjunto de músicos radicados em Nova Iorque, todos eles instrumentistas e compositores de primeiro plano e que muito têm contribuído para a renovação do jazz contemporâneo.
Entretanto, o projecto que Ted Nash vai apresentar neste concerto da temporada de jazz da Culturgest distingue-se pela escolha de um repertório que não é da sua autoria mas que saiu da talentosa pena de Henry Mancini, um dos compositores mais importantes e prolíficos do cinema norte-americano, com cerca de duas centenas de filmes no seu activo.
Mancini não deve apenas ser circunscrito à música para o cinema popular ou mais ou menos sofisticado, como a série Pink Panther (iniciada em 1963) ou Breakfast at Tiffany’s (1961) mas ainda como compositor ligado a obras de maior fôlego na história do cinema, como a obra-prima Touch of Evil (Orson Welles, 1958) ou ainda Charade (Stanley Donen, 1963) e The Glass Menagerie (Paul Newman, 1987), para apenas referir estes, ou mesmo a série policial televisiva Peter Gunn, que ficou famosa na passagem dos anos 60 para os anos 70.
Interessante é que a ligação de Ted Nash às partituras de Henry Mancini não é apenas de carácter musical mas também sentimental e familiar, uma vez que o jovem Ted costumava frequentar os estúdios onde essas bandas sonoras eram gravadas, porque das orquestras faziam parte o seu tio e o seu próprio pai.
Enfim, um concerto que pode ser ainda reconfortante para o imaginário e a memória cinematográfica do espectador.

Matisse Jazz, bu Ted Nash



Jamie Baum Septeto
Solace
Programador: Manuel Jorge Veloso
21 de Maio, 21.30h
Grande Auditório (Lisboa)

Flautas Jamie Baum Trompete Ralph Alessi ou Taylor HaskinsTrompa Chris Komer Sax-alto, clarinete-baixo Doug Yates Piano e teclados George Colligan Contrabaixo Johannes Weidenmüller Bateria Jeff Hirshfield

Não anda propriamente nas bocas do mundo esta Jamie Baum, talentosa flautista do jazz contemporâneo; mas os observadores e conhecedores atentos da cena do jazz norte-‑americano vêem na sua trajectória musical um percurso altamente inovador em termos instrumentais e composicionais. Revelando um apurado conhecimento das possibilidades expressivas dos instrumentos que compõem o seu septeto – e escolhendo como intérpretes a nata do melhor jazz actual – Jamie Baum tem vindo a impor-se como uma criadora que sabe tirar partido da componente escrita do jazz (um aspecto primordial da sua música), mas sem que os rigores da composição limitem a liberdade de improvisação e a harmoniosa inserção desta na música pré-determinada. Estudiosa dos compositores eruditos – e, acima de tudo, influenciada pelos grandes autores seus compatriotas – Jamie Baum sabe evocar, como poucos, essas influências, tornando o seu jazz particularmente original e exigente. É por isso que o seu projecto mais recente (Solace) mais uma vez reflecte esses princípios de composição, não apenas nas suas próprias obras como ainda na assim intitulada The Ives Suite, peça inspirada em duas obras-chave do repertório de Charles Ives, cujos processos de instrumentação e inovações orquestrais a deixaram completamente rendida e cuja interpretação estará certamente presente neste concerto.

Jamie Baum Septet - Solace (Nova Iorque, 2009)



Mostly Other People Do the Killing
Ciclo “Isto é Jazz?” Comissário: Pedro Costa
26 de Maio, 21.30h
Pequeno Auditório (Lisboa)~

Trompete Peter Evans Saxofone alto Jon Irabagon
Contrabaixo Moppa Elliott Bateria Kevin Shea
Dos Mostly Other People Do the Killing (MOPDTK), sediados em Nova Iorque com 4 CD’s editados, diz Moppa Elliott, líder do grupo: “mais do que confinar a música a um só estilo ou período histórico, os MOPDTK fundem todo o espectro do jazz e das várias formas da música improvisada numa só costura sem pontos vísiveis, um Uber-Jass (n.t. para além do Jazz)”. Eles próprios auto-intitulam-se como “New York’s Terrorist Be-Bop Uber-Jass Quartet”.
Elliott cresceu numa família de académicos e a banda sonora da sua infância foi o vasto catálogo de gravações de jazz que o seu pai ouvia constantemente. Para além de o expor directamente à música, o seu pai, com frequência, em vez de histórias de embalar contava-lhe pequenas anedotas do mundo do jazz. Dessa forma o humor e o Jazz sempre estiveram ligados para Elliott.
Habitualmente comparados às extravagantes bandas holandesas ICP ou o Willem Breuker Kollektief ou até mesmo aos nova-iorquinos Sex Mob pela acutilância e humor das composições e arranjos, a verdade é que a música dos MOPDTK difere bastante no tipo de abordagem e até na execução que acaba por estar muito mais próxima do bebop, por um lado, e da livre improvisação, por outro.
A riqueza da música dos MOPDTK vem de todos os membros do grupo, gozando todos eles de total liberdade para se aproximarem ou distanciarem do tema a todo o momento numa técnica que eles próprios apelidam de “light-switch jazz”.
Os músicos dos MOPDTK fazem exactamente o oposto do habitual, isto é, tentar camuflar influências e criar algo novo. O que eles procuram é tentar descobrir o que é o quê a uma velocidade vertiginosa. A realidade é que se todos estamos completamente submersos em informação, porque não usar isso na música?
Com isto criaram os MOPDTK uma música original, divertida e progressiva como nunca se viu.

Mostly Other People Do The Killing - Baden



José Miguel Wisnike convidados
18 de Junho, 21.30h
Grande Auditório (Lisboa)

Voz, piano José Miguel Wisnik Voz Celso Sim Violão Arthur Nestrovski Teclado, sanfona, piano Marcelo Jeneci

Professor universitário, escritor, pianista, compositor e cantor, autor de livros, de canções e de bandas sonoras para teatro, cinema e dança, José Miguel Wisnik é hoje um artista no qual a música e a poesia encontraram um ponto de confluência maduro e original. Dialogando com a melhor tradição da canção brasileira, indo do samba à vanguarda paulista, de parceiros como Chico Buarque e Caetano Veloso a Guinga e Luiz Tatit, José Miguel é acompanhado neste espectáculo por um grupo diferenciado de instrumentistas e colaboradores.
No violão, Arthur Nestrovski, seu companheiro de anos que, além de ser um magnífico intérprete, é também compositor, escritor e, actualmente, director artístico da Orquestra Sinfónica do Estado de São Paulo. Swami Junior, no violão de sete cordas, compositor e produtor musical, tem acompanhado internacionalmente a cantora cubana Omara Portuondo. Marcelo Jeneci, pianista, tecladista e acordeonista, desponta como um dos mais talentosos e promissores compositores da nova geração. Sérgio Reze desenvolve na percussão uma linguagem inteiramente pessoal, surpreendendo pela gama subtil dos timbres, em que os ritmos se combinam com sons afinados. Completa o grupo um cantor surpreendente, Celso Sim.
O repertório do espectáculo mistura canções já conhecidas de José Miguel Wisnik com outras inéditas, como Os ilhéus, em parceria com Antonio Cícero, Feito pra acabar, em parceria com Marcelo Jeneci e Paulo Neves, e Tenho dó das estrelas, sobre poema de Fernando Pessoa.
Wisnik esteve na Culturgest em Junho de 2007, num espectáculo que ficou na memória de quem a ele assistiu. Entretanto, veio a Lisboa mais duas vezes, convidado pela Casa Fernando Pessoa, sempre com lotação esgotada, alargando o número de fãs em Portugal. Volta agora ao nosso Grande Auditório num concerto que confirmará a excelência e a beleza da sua música.

José Miguel Wisnik - Pérolas aos Poucos



Susan Alcorn
2 de Julho, 22.00h
Culturgest (Porto)

Susan Alcorn (EUA, 1953) tem um trajecto raro para alguém que, como ela, tenta continuamente transcender as fronteiras da expressão sonora e do léxico musical. Começando por tocar guitarra slide, aquando de um encontro fortuito no início da sua carreira com Muddy Waters, que lhe indicou o instrumento como sendo o adequado para os seus intuitos da época, ia igualmente dividindo o seu tempo no dobro, influenciada por mestres como Josh Graves ou Tut Taylor.
Aos 21 anos toma a decisão de pegar na guitarra pedal steel, um instrumento principalmente conotado com a música country & western em que estava imersa. É nesse universo que se mantém concentrada durante largos anos, como uma cotadíssima música de acompanhamento, onde aprende milhares de temas do cancioneiro sulista norte-americano. Paralelamente, começa um estudo sério de formas extraordinariamente diferentes, dedicando-se a Roberta Flack, Mercedes Sosa, Penderecki, Messiaen, John Coltrane e Ornette Coleman, figuras que começaram a permear-se no seu vocabulário.
É em correspondência com o pianista Paul Bley no final dos anos 1980 que o seu trabalho solista começa a desenhar-se nas formas que conhecemos hoje, quando Bley sugere a Alcorn que esse seria o momento em que devia começar a processar e aglutinar toda essa informação estética, e a desenvolver um discurso próprio concordante com a aprendizagem que vinha fazendo. Estará precisamente aí uma das virtudes preciosas de Susan Alcorn, que a separam – com a excepção dos músicos provenientes do jazz – da vasta maioria dos criativos que habitam as regiões da improvisação, bem como da composição mais livre e longínqua de trâmites académicos. É a abrangência da cultura, técnica e abertura estrutural e lexical de Alcorn, que conhece como poucos a história cada vez mais insular da country, e que se estende até à música contínua de Pauline Oliveros, ao jazz existencialmente mais ambicioso, à música gamelã, à canção libertária sul e centro-americana, à composição contemporânea e inclusivamente à história da própria improvisação.
Em 2007 editou o seu mais recente trabalho a solo, And I Await... The Resurrection of the Pedal Steel Guitar (Olde English Spelling Bee). Um tratado essencial das possibilidades discursivas, tonais, texturais, espaciais e anímicas de um instrumento que, tocado por Alcorn, se revela ser.

Susan Alcorn - El Arado

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