domingo, 1 de novembro de 2009

Revelação


Rosario Giuliani Quartet
30 de Outubro, 22.00h
Auditório Municipal Ruy de Carvalho (Carnaxide-Oeiras)

Confesso que pouco conhecia de Rosario Giuliani antes deste concerto. No entanto a Itália desde há muito demonstrou ser um precioso viveiro de talentos do jazz, de Enrico Rava a Enrico Pieranunzi, de Paolo Fresu a Gianluca Petrella, entre tantos outros.
Pelo que foi com curiosidade e elevada expectativa que me desloquei ao simpático auditório Ruy de Carvalho, em Carnaxide, onde, desde há alguns anos a esta parte, decorre o Ciclo Internacional de Jazz de Oeiras, numa organização conjunta do município local e da produtora Som da Surpresa, de Paulo Gil, um dos decanos do jazz nacional.
E se as expectativas eram altas, estas foram amplamente superadas pelo virtuosismo do saxofonista. E nem a ausência forçada do contrabaixista Darryl Hall (parece que uma epidemia assolou os músicos de jazz nas últimas semanas, depois de Robert Glasper ter faltado ao Seixal Jazz e Ray Anderson ao Festival da Alta Estremadura, ambos por motivos de saúde, eis agora o Ciclo Internacional de Oeiras a registar as ausências de Darryl Hall e de Enrico Rava, pelos mesmos motivos!) ensombrou a actuação do italiano, substituindo-o à última hora pelo “nosso” argentino Demian Cabaud que, com apenas uma tarde para se adaptar ao repertório do quarteto, rubricou uma actuação notável, de se lhe tirar o chapéu! Um contrabaixista que, concerto após concerto, vai-se afirmando com um dos maiores músicos de jazz a actuar no nosso país.
Giuliani é quase um auto-didacta. Nasceu na pequena cidade de Terracina, no Lácio, onde, segundo as suas próprias palavras, o jazz não existia.
Descobriu a sua paixão numa partitura de Charlie Parker o qual, aos doze anos de idade, se converteu de imediato numa referência musical para a vida. Afinal de contas, se o jazz não era uma opção entre os seus conterrâneos, a música essa, está bem entranhada na alma e na história latina.
A sua formação musical ocorreu no Conservatório L. Refice, em Frosinone, uma pequena cidade vizinha. Talento e tenacidade fizeram o resto, revelando Giuliani primeiro ao público francês e depois ao mundo, através da Orquestra de Jazz Europeia de Jovens Talentos, da emissora nacional italiana.
É de tal modo fluente no saxofone que muitos ousam compará-lo a Julian “Cannonball” Adderley, a Art Pepper ou mesmo ao mítico John Coltrane.
A sua obra passou pelo cinema, com colaborações relevantes com compositores como Ennio Morricone, Luis Bacalov, Armando Trovaioli, Manuel de Sica, Nicola Piovani ou Ritz Ortolani, mas também pelo circuito internacional do jazz, onde a sua notoriedade o levou aos palcos e aos estúdios ao lado de músicos como Kenny Wheeler, Randy Brecker, Bob Mintzer, Cedar Walton, Biréli Lagréne, Joe Locke, Donald Harrison, Phil Woods, Marc Johnson, Joey Baron, Guy Barker, Charlie Haden, Gonzalo Rubalcaba e Richard Galliano, além dos seus compatriotas Enrico Pieranunzi, Enrico Rava, Franco D’Andrea, Roberto Gatto e Giovanni Tommaso.
Ao público português foi revelado no ano passado, também pela mão de Paulo Gil, integrando a Big Band de Guy Barker que actuou na edição de 2008 do Seixal Jazz.
Desde 2000 que Giuliani tem contrato com a editora fracesa Dreyfus Jazz, para a qual já gravou quatro discos: Luggage (2001), Mr. Dodo (2002), More Than Ever (2004) e Anything Else (2007).
Uma força da natureza este Rosario Giuliani. Com um fraseado solto, límpido e fluente, cativa facilmente as audiências pelo virtuosismo demonstrado e bem assim pela enorme energia que transmite nas suas actuações. Claramente inspirado pelo bop do seu ídolo Charlie Parker, Giuliani junta-lhe um característico toque latino, melódico e por vezes mesmo sentimental, que claramente revela as suas origens. Poderosa e bela, a sua música.
A acompanhá-lo, além de Demian Cabaud, que esteve soberbo (sobretudo se atendermos à urgência da chamada), estiveram ainda o pianista romano Pietro Lusso e o baterista parisiense Benjamin Henocq. Se o primeiro primou por uma competente mas discreta elegância, já o francês rubricou uma exibição notável, plena de energia, o único que mostrou verdadeiramente “pedalada” para acompanhar o ritmo assombroso do saxofone. Outra belíssima surpresa.
Agora já não há desculpas… Um grande saxofonista de jazz revelou-se ao público português!

Rosario Giuliani & Italian Supersax - Salt Peanuts, de Dizzy Gillespie


Entrevista a Rosario Giuliani – Umbria Jazz 2008

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