domingo, 18 de janeiro de 2009

Nostálgico



Rui Caetano Trio
Reflexos
Ed. Autor, 2008

Rui Caetano é um jovem pianista português, formado pela New School University de Nova Iorque em Jazz e Música Contemporânea, onde viveu entre 1998 e 2001. Entre os seus professores contam-se nomes como Armen Donnelian, Bruce Barth, Peter Zack, Phil Markowitz, Hal Galper, Cecil Mcbee, Rory Stuart, Joe Chambers e Chico Hamilton. Regressado a Portugal tem-se dedicado à composição, ao ensino e claro está aos espectáculos, nomeadamente acompanhando a cantora Jacinta nos seus mais recentes projectos musicais.
Reflexos é o seu primeiro trabalho em disco. Uma edição de autor com oito temas originais da sua autoria, produzidos igualmente por si e gravados nos dias 4 e 5 de Fevereiro de 2006 na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
A acompanhá-lo estão Bernardo Moreira no contrabaixo e Marco Franco na bateria, dois músicos experientes e perfeccionistas capazes de garantir uma enorme consistência a esta obra de estreia, auspiciosamente composta exclusivamente por originais do pianista.
Com um estilo verdadeiro e poético a música de Rui Caetano dá mostras de uma invejável maturidade criativa e de um apurado sentido estético, numa obra de estreia surpreendentemente consistente e personalizada. Inspirado nas suas experiências de vida e com um evidente esforço de aperfeiçoamento constante, numa louvável busca metódica e perfeccionista, Rui Caetano produziu um disco inspirado e inspirador, pleno de emoções.
O caminho seguido é marcadamente contemporâneo, da escola ECM se me é permitida a comparação. Um jazz de câmara onde a música clássica e contemporânea se fundem num estilo pessoal e acentuadamente lírico. Aqui não há grande espaço para experimentalismo. Abundam antes as expressões profundas de sentimentos e emoções, numa toada lenta e expressiva, bem característica da escola latina, nomeadamente da italiana (de Enrico Pieranunzi, Stefano Battaglia ou Paolo Paliaga). E nisso se distingue de outros projectos musicais nacionais, designadamente dos protagonizados ao piano. Aqui não há a exuberância tecnicista de um Mário Laginha, nem o minimalismo deconstrutivo de um Bernardo Sassetti. Não há o blues de Filipe Melo nem a evocação libertária de um Júlio Resende. Não há a elegância saudosista de um André Sarbib nem tão pouco a livre improvisação de um Rodrigo Gonçalves. Há sim um estilo próprio, elegante, nostálgico, de um rigor nórdico mas com uma inspiração latina, melódico mas por vezes negro, sentimental sem nunca ser delicodoce.
Rui Caetano conseguiu ser autêntico e simultaneamente introduzir no universo jazzístico português uma nova linguagem musical, construída de elementos contemporâneos importados das melhores proveniências internacionais, a que juntou aquele toque de lirismo mediterrânico, aquela saudade melódica que só os povos do sul conseguem sentir.
Nessa viagem soube acompanhar-se de dois grandes músicos, dificilmente superáveis nessa tarefa. Experientes mas perfeccionistas. Tecnicistas mas reservados. Metódicos mas de enorme talento. Bernardo Moreira e Marco Franco assumem-se assim como parceiros maiores deste excelente trabalho protagonizado por Rui Caetano.
Uma surpresa muito agradável!



Fiquem com o tema Luísa, original de Rui Caetano extraído do disco Reflexos (2008) com fotos da pequena cidade de Dungeness, na província de Kent (Grã-Bretanha) da autoria do fotógrafo inglês Stu Egan. Podem ver a sua obra em http://www.pbase.com/stuegan/dungeness

Rui Caetano Trio – Luísa

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