domingo, 4 de julho de 2010
Jamie Baum em Oeiras
Photo Enid Farber, 2005
Jamie Baum Septet
22 de Maio, 22.00h
Auditório Eunice Muñoz (Oeiras)
Som da Surpresa, Ciclo Internacional de Jazz de Oeiras 2010
JAMIE BAUM – flautas, direcção
TAYLOR HASKINS – trompete
DOUG YATES – clarinete baixo, saxofone alto
CHRIS KOMER – trompa
GEORGE COLLIGAN – piano
JOHANNES WEIDENMULLER – contrabaixo
JEFF HIRSHFIELD – bateria
Jamie Baum é um caso único no jazz contemporâneo.
Pelo facto de ser flautista, um instrumento que, sem ser completamente estranho ao jazz, não é de todo o mais usual, mas também pela ousadia de apresentar-se em septeto, como líder, e tocando exclusivamente composições originais, da sua autoria.
Mas a sua originalidade não fica por aqui, porquanto a música que toca, longe de seguir padrões convencionais, segue caminhos exploratórios de fusão com a música clássica e étnica, algo que não sucede frequentemente na cena jazzística nova-iorquina, de onde provém a flautista, apresentando-se antes como um grupo de jazz de câmara, em que a composição e os arranjos se impõem, abrindo no entanto amplos espaços para a improvisação nos solos, aí residindo a sua ligação principal à linguagem do jazz.
Até pela extensão do conjunto, um septeto, não surpreende o carácter elaborado das composições e arranjos apresentados pela flautista. No entanto, comparativamente com outras formações de dimensão semelhante oriundas do jazz norte-americano e até europeu, a música de Baum exibe uma intimidade com a música erudita pouco habitual, mesmo quando bebe inspiração em fontes populares como o blues, e até externas, oriundas da Índia, do Brasil ou das Caraíbas.
As influências contemporâneas fundem-se com notas impressionistas, e o blues, o grande contributo da América à música, surge mais inspirado no nacionalismo de compositores como Charles Ives ou Aaron Copland, do que na espontaneidade de um Duke Ellington ou Cole Porter.
Estamos portanto perante um universo musical híbrido, que mais do que tocar jazz, se serve dele.
A consciência da riqueza do género, nascido nos campos de algodão do delta do Mississípi, tem motivado as mais elaboradas construções musicais, de natureza erudita, por parte dos compositores norte-americanos, desde que Gershwin se lembrou de o orquestrar e colocar nas salas de concerto, seguindo aliás aquilo que, ao tempo, era norma também na Europa, com o movimento nacionalista.
Este septeto de Jamie Baum surge assim como uma das mais modernas declinações desses mesmos princípios, adaptados é certo a uma inegável contemporaneidade, em que o próprio jazz se arroga o direito próprio à erudição, sem carecer da chancela sinfónica ou operática.
O resultado é intelectualmente estimulante, mas friamente académico.
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