quarta-feira, 12 de maio de 2010

Pois É!


Júlio Resende International Quartet
19 de Abril de 2010, 22.30h
Teatro São Luiz (Lisboa)
Festa do Jazz

Ainda não foi desta que ouvi o quarteto internacional de Júlio Resende completo, isto é, com o contrabaixista norueguês Ole Morten Vägan.
A culpa foi de um vulcão islandês que semeou o caos nas ligações aéreas da Europa e impediu a presença do músico na festa do jazz do São Luiz.
Não obstante, assistimos a uma exibição notável deste quarteto que, de internacional, acabou apenas por contar com o espanhol Perico Sambeat no saxofone alto e soprano. João Custódio substituiu com naturalidade Vägan no contrabaixo e até pudemos ouvir Manuela Azevedo interpretar dois temas, “Ir e Voltar”, da autoria de Resende e incluído no segundo disco do pianista, Assim Falava Jazzatustra, e também uma versão, por sinal magnífica, adaptada pelo pianista, do sucesso dos Clã “Pois é”.
Sobre este quarteto e sobre o último disco de Resende já muito escrevi nestas páginas pelo que remeto o leitor para os respectivos artigos.
Quanto a esta apresentação não posso deixar de realçar o facto de Júlio Resende, indiscutivelmente um dos mais promissores músicos da sua geração, nos ter brindado com novas versões de quase todos os temas tocados. A ocasião era de festa e o facto de a formação ter sido chamada ao palco principal do São Luiz em horário nobre da noite de sábado só confirma o reconhecimento já conquistado, pela enorme qualidade do projecto, apesar da juventude da maioria dos seus membros, a começar pelo pianista e compositor.
A excepção foi Sambeat, um saxofonista de enorme fluência e de outra geração, que conseguiu contudo integrar-se na perfeição, à semelhança aliás do sucedido em ocasiões anteriores.
A música de Resende é extraordinariamente criativa, gera amplos espaços de improvisação para os músicos e consegue comunicar com o público de modo fácil e directo, fruto do permanente respeito pela melodia. Não subverte mas também não se conforma. Recria com enorme perspicácia.
Ritmicamente evoluída (e continuo sem ouvir Vägan, senão no disco), transpira autenticidade quando evoca raízes afro-latinas, sobretudo ibéricas, mas não renega as boas influências do jazz norte-americano mais recente, particularmente de Mehldau (com quem Sambeat aliás, já gravou).
Júlio Resende é assim um dos principais estandartes de uma nova geração de músicos de jazz em Portugal, capaz de beber influências na tradição lusitana e da lusofonia e simultaneamente nas referências do jazz da sua geração, do lado de cá e de lá do Atlântico.
Um projecto carregado de virtudes amplamente confirmadas neste excelente concerto na Festa do Jazz do São Luiz.

Júlio Resende International Quartet – Boom

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