sábado, 8 de maio de 2010

Movimentos Orgânicos


Bernardo Sassetti Trio
19 de Abril de 2010, 21.00h
Teatro Municipal São Luiz (Lisboa)
Festa do Jazz 2010

Integrado no programa do segundo dia da Festa do Jazz, coube ao trio do pianista Bernardo Sassetti apresentar o seu mais recente trabalho discográfico, denominado Motion e editado já este ano pela Clean Feed, no “horário nobre” das 21.00h da sala principal do São Luiz.
Um prémio inteiramente merecido, diga-se em abono da verdade, pois não só este trio reúne alguns dos nossos melhores músicos (o pianista é acompanhado pelos magistrais Carlos Barretto no contrabaixo e Alexandre Frazão na bateria), como leva já mais de uma década de existência e de experiência na exploração dos notáveis recursos musicais dos seus membros.
A somar a tudo devemos ainda considerar a inegável qualidade do mais recente trabalho do trio, ao qual já tive ocasião de dedicar algumas notas nas presentes páginas.
Sem querer repetir as impressões colhidas aquando da audição do disco, reafirmo que a música de Sassetti se assume cada vez mais ambiental e com um onirismo que busca inspiração na imagética cinematográfica, decorrente aliás da assumida paixão do pianista pela fotografia e pelo cinema.
Esta interdisciplinaridade da obra de Sassetti é uma busca antiga do compositor, patente nas muitas bandas sonoras que tem composto para o cinema e também na irreverência de projectos multidisciplinares como o magnífico Unreal Sidewalk Cartoon, a que tive o privilégio de assistir, em Dezembro de 2006, nesta mesma sala.
Mas devo confessar que a apresentação ao vivo de Motion permitiu uma leitura nova, mais ampla e irreverente, desta imagética musical de Sassetti.
Não podemos esquecer que estamos perante três grandes improvisadores, capazes de colorir diversamente cada nova apresentação do seu trabalho. Por isso nada há de estranho na descoberta de leituras alternativas na obra musical do trio, nas suas sucessivas apresentações em público.
Esta foi seguramente mais jovial, informal e descontraída. Sem com isto querer pôr minimamente em causa os atributos qualitativos da obra ou a entrega dos músicos.
Pelo contrário, se o próprio Sassetti por vezes questiona (sem se preocupar muito com a resposta, é certo) se aquilo que toca ainda é jazz, eu direi que poucos tiveram dúvidas nesta apresentação no São Luiz. O véu negro e solene com que por vezes cobre as suas composições, caiu por diversas vezes neste concerto, revelando três músicos de jazz criativos e capazes de conquistar pela capacidade técnica e de improvisação, o público conhecedor, de uma festa que se define como de Jazz.
Claro que o som neo-romântico do piano de Sassetti esteve presente, bem como os contrastantes rendilhados quase expressionistas de Barretto no contrabaixo e a interminável paleta de texturas da bateria de Frazão, convertido em percussionista neste projecto. Mas esteve também algo imperceptível no disco, um organicismo próprio da música, e particularmente do jazz, tocada ao vivo.
Nas mãos criativas deste trio a música ganhou vida, cresceu e reproduziu-se ao sabor do momento e da inspiração. Mesmo quando as coisas correram menos bem.

Bernardo Sassetti - Músico e compositor from Gustavo da Luz on Vimeo.

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