domingo, 8 de fevereiro de 2009
OGRE
Ogre
6 de Fevereiro de 2009, 23.00h
Hot Club de Portugal (Lisboa)
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O Ogre é um novo projecto musical nascido da imaginação de Maria João e João Farinha. Para o concretizar foram buscar o pianista Júlio Resende, um dos mais talentosos músicos nacionais da sua geração e com vasta prática na elaboração de arranjos para vozes do jazz (Vânia Fernandes, Lydie Carell, Sofia Vitória, Elisa Rodrigues, entre outras). Para completar o projecto, Júlio Resende trouxe consigo o baterista Joel Silva e o técnico de sons (será DJ, cibernauta, músico virtual?!!) André Nascimento, o homem dos computadores.
A ideia é simples: pegar no repertório de Maria João, construído ao longo de 25 anos de carreira, e dar-lhe um toque de modernidade através do uso da electrónica. Se possível, criar algo de novo nesse processo.
Confesso a minha alergia à electrónica musical, sobretudo quando aplicada ao jazz. Mas ainda assim reconheço potencialidades à ideia. Quando usada na dose certa pode alargar os horizontes criativos de uma composição e incutir alma nova num tema visto e revisto ao longo de décadas. Pelo menos esta fórmula tem sido aplicada até à exaustão noutros géneros musicais, como o Hip Hop ou a Techno Music, com resultados discutíveis mas de reconhecido sucesso. Mesmo no jazz há quem tenha criado projectos válidos e extremamente criativos a partir da electrónica, como os noruegueses Terje Rypdal e Nils Peter Molvaer ou o francês Erik Truffaz. Até em Portugal têm surgido projectos interessantes de casamento entre o jazz e a electrónica, como o Mikado Lab.
Não é propriamente a minha onda (chamem-me conservador, mas não há nada tão belo quanto o acústico…), mas são projectos de mérito incontestável.
Este OGRE tem assim pernas para andar. Talento há de sobra, mas é necessário pôr esta equipa a funcionar…
Esta apresentação serviu desde logo para pôr a nu a juventude do projecto. Por enquanto é apenas uma ideia a que falta ainda um rumo certo e inequívoco. Por vezes funcionou muito bem (o melhor exemplo foi a nova versão de Parrots and Lions), noutras nem por isso…
Falta-lhe uma liderança firme e determinada. Uma verdadeira direcção musical que aproveite os enormes talentos envolvidos e dê forma ao projecto, que para já surge disperso, nem sempre coerente.
Maria João tem uma voz e uma expressão únicas. Mas se há algo que os seus 25 anos de carreira demonstraram é que os mais sublimes exemplos do seu talento surgiram sob uma direcção musical clara e precisa. Na maioria das vezes essa tarefa coube a Mário Laginha. Mas também Mário Delgado deu mostras, recentemente, de saber “domar” esta força da natureza chamada Maria João que, quando deixada à solta, tende a perder-se em demonstrações mais ou menos gratuitas dos seus inegáveis talentos.
Neste OGRE sente-se uma liderança difusa. Há momentos em que o toque de Júlio Resende emerge inequívoco. Há outros em que o mote é dado pelos teclados de João Farinha. Há outros ainda em que Maria João é deixada um pouco sozinha, entregue aos seus infindáveis recursos vocais. Com os computadores de André Nascimento sempre como pano de fundo, por vezes sem nada de novo a acrescentar…
A esta crise de liderança junta-se alguma indefinição do som, que alterna entre a electrónica pura dos computadores e a acústica do piano e da bateria. Uma dualidade que nem sempre resulta em pleno.
Enfim, o OGRE tem pernas para andar, mas para isso precisa de crescer como projecto e sobretudo de encontrar um rumo que ainda permanece algo obscuro.
Para já soube a pouco, atendendo à qualidade reconhecida de alguns dos músicos intervenientes.
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