domingo, 22 de fevereiro de 2009

Esperanza ou Certeza?



Esperanza Spalding
Esperanza
Heads Up, 2008

Autodidacta, Esperanza Spalding aos 15 anos de idade ocupava já uma posição de relevo na Chamber Music Society, do Oregon. A Berklee College of Music, em Boston, foi a etapa seguinte e aos 20 anos era a mais jovem professora assistente de sempre desta prestigiada instituição. Em 2005 recebeu a famosa bolsa da Boston Jazz Society e desde então tem trabalhado com músicos consagrados, como o pianista Michel Camilo, o vibrafonista Dave Samuels, o baixista Stanley Clarke, o guitarrista Pat Metheny, a cantora Patti Austin e os saxofonistas Donald Harrison e Joe Lovano.
Lançado em 2008 com a chancela da Heads Up, “Esperanza” é o muito aguardado álbum deste novo fenómeno do jazz numa grande editora, depois da estreia em 2006 com o disco “Junjo”, editado pela Ayva Music. Brasileira de origem mas nascida e criada nos Estados Unidos da América há apenas 23 anos, pode dizer-se que essa dicotomia está bem presente no seu trabalho, onde convivem com igual naturalidade temas pertença do fabuloso cancioneiro popular brasileiro, como “Ponta de Areia” de Milton Nascimento e Fernando Brant ou “Samba em Prelúdio” de Baden Powell e Vinicius de Moraes, com a melhor tradição musical negra norte-americana, particularmente do jazz e soul. Outros músicos brasileiros radicados nos Estados Unidos já conseguiram esse cruzamento, desde os mais antigos exemplos de Tom Jobim, Flora Purim ou Astrud Gilberto (já para não falar da luso-brasileira Carmen Miranda) até aos mais recentes de Eliane Elias ou Luciana Souza, mas nenhum o fez exactamente como Esperanza Spalding. Desde logo pela originalidade da conjugação contrabaixo/voz, um casamento difícil e, por isso mesmo, inusitado. Mas também pela pouco habitual fusão do samba com a salsa cubana, com o flamenco, com o jazz, claro está, mas também o pop e o soul, criando assim condições únicas de abordagem aos mais variados mercados, em termos de estilo e de nacionalidade, até porque Esperanza é igualmente fluente em português, espanhol e inglês!
A acompanhá-la surgem músicos de grande craveira como o guitarrista espanhol Niño Josele, os percussionistas Jammey Haddad e o cubano Horacio "El Negro" Hernández, ou ainda o saxofonista de New Orleans Donald Harrison, “the king of the nouveau swing” em pessoa. Além deles participam no disco o pianista argentino Leo Genovese (que esteve recentemente na apresentação de Esperanza Spalding no CCB, em Lisboa), a vocalista Gretchen Parlato e o baterista Otis Brown III. Esta presença hispânica reflecte-se aliás de forma particularmente interessante na sua música, que surge enriquecida com ritmos de Cuba, ecos de flamenco e a elegância do novo tango argentino, num mosaico multicultural raro e especialmente feliz (oiça-se a original versão de Body And Soul em español redenominada Cuerpo y Alma).



Se o seu nome parecia uma escolha providencial para a fase inicial de carreira que Spalding tem vivido, parece-me que surge já inadequado porquanto Esperanza é cada vez mais uma certeza do novo jazz norte-americano. Uma cantora, compositora e instrumentista verdadeiramente talhada para o sucesso.
Fiquem com a versão minimalista de “Samba em Prelúdio”, música de Banden Powell para um poema de Vinicius de Moraes, com arranjo de Esperanza Spalding para ela própria no contrabaixo e voz e para o virtuoso guitarrista de flamenco Niño Josele, na guitarra. As fotos são da autoria do fotógrafo brasileiro Márcio Machado e foram tiradas nas dunas do parque nacional dos Lençóis Maranheses. Podem vê-las em http://www.pbase.com/marciomachado/root

Esperanza Spalding – Samba em Prelúdio

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