
Esperanza Spalding
Esperanza
Heads Up, 2008
Autodidacta, Esperanza Spalding aos 15 anos de idade ocupava já uma posição de relevo na Chamber Music Society, do Oregon. A Berklee College of Music, em Boston, foi a etapa seguinte e aos 20 anos era a mais jovem professora assistente de sempre desta prestigiada instituição. Em 2005 recebeu a famosa bolsa da Boston Jazz Society e desde então tem trabalhado com músicos consagrados, como o pianista Michel Camilo, o vibrafonista Dave Samuels, o baixista Stanley Clarke, o guitarrista Pat Metheny, a cantora Patti Austin e os saxofonistas Donald Harrison e Joe Lovano.
Lançado em 2008 com a chancela da Heads Up, “Esperanza” é o muito aguardado álbum deste novo fenómeno do jazz numa grande editora, depois da estreia em 2006 com o disco “Junjo”, editado pela Ayva Music. Brasileira de origem mas nascida e criada nos Estados Unidos da América há apenas 23 anos, pode dizer-se que essa dicotomia está bem presente no seu trabalho, onde convivem com igual naturalidade temas pertença do fabuloso cancioneiro popular brasileiro, como “Ponta de Areia” de Milton Nascimento e Fernando Brant ou “Samba em Prelúdio” de Baden Powell e Vinicius de Moraes, com a melhor tradição musical negra norte-americana, particularmente do jazz e soul. Outros músicos brasileiros radicados nos Estados Unidos já conseguiram esse cruzamento, desde os mais antigos exemplos de Tom Jobim, Flora Purim ou Astrud Gilberto (já para não falar da luso-brasileira Carmen Miranda) até aos mais recentes de Eliane Elias ou Luciana Souza, mas nenhum o fez exactamente como Esperanza Spalding. Desde logo pela originalidade da conjugação contrabaixo/voz, um casamento difícil e, por isso mesmo, inusitado. Mas também pela pouco habitual fusão do samba com a salsa cubana, com o flamenco, com o jazz, claro está, mas também o pop e o soul, criando assim condições únicas de abordagem aos mais variados mercados, em termos de estilo e de nacionalidade, até porque Esperanza é igualmente fluente em português, espanhol e inglês!
A acompanhá-la surgem músicos de grande craveira como o guitarrista espanhol Niño Josele, os percussionistas Jammey Haddad e o cubano Horacio "El Negro" Hernández, ou ainda o saxofonista de New Orleans Donald Harrison, “the king of the nouveau swing” em pessoa. Além deles participam no disco o pianista argentino Leo Genovese (que esteve recentemente na apresentação de Esperanza Spalding no CCB, em Lisboa), a vocalista Gretchen Parlato e o baterista Otis Brown III. Esta presença hispânica reflecte-se aliás de forma particularmente interessante na sua música, que surge enriquecida com ritmos de Cuba, ecos de flamenco e a elegância do novo tango argentino, num mosaico multicultural raro e especialmente feliz (oiça-se a original versão de Body And Soul em español redenominada Cuerpo y Alma).

Se o seu nome parecia uma escolha providencial para a fase inicial de carreira que Spalding tem vivido, parece-me que surge já inadequado porquanto Esperanza é cada vez mais uma certeza do novo jazz norte-americano. Uma cantora, compositora e instrumentista verdadeiramente talhada para o sucesso.
Fiquem com a versão minimalista de “Samba em Prelúdio”, música de Banden Powell para um poema de Vinicius de Moraes, com arranjo de Esperanza Spalding para ela própria no contrabaixo e voz e para o virtuoso guitarrista de flamenco Niño Josele, na guitarra. As fotos são da autoria do fotógrafo brasileiro Márcio Machado e foram tiradas nas dunas do parque nacional dos Lençóis Maranheses. Podem vê-las em http://www.pbase.com/marciomachado/root
Esperanza Spalding – Samba em Prelúdio
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