sábado, 6 de fevereiro de 2010

O Hot em casa emprestada



Kari Ikonen Quartet
4 de Fevereiro de 2009, 23.00h
Cabaret Maxime

Enquanto a solução para o Hot tarda, o clube quis honrar compromissos assumidos com músicos estrangeiros, com actuações marcadas para a histórica sala da Praça da Alegria, e marcou para os dias 4, 5 e 6 de Fevereiro concertos com o quarteto sueco-finlandês do pianista Kari Ikonen, em casa emprestada.
O primeiro concerto decorreu no Cabaret Maxime, quase paredes meias com o clube, e serviu para um salutar reencontro dos habituais frequentadores do mais antigo clube de jazz do mundo (dizem, eu não confirmei…).
Coube ao pianista finlandês Kari Ikonen a honra de reunir, em casa emprestada, a tribo do jazz lisboeta.
Ikonen que tem uma ligação estreita ao jazz português. Além de várias actuações no Hot, passou pela escola do clube, viveu em Lisboa durante três meses, ao abrigo de uma bolsa de estudo, tocou e compôs com diversos músicos nacionais. Pelo que foi igualmente com emoção que o finlandês encarou este seu regresso a Lisboa.
A acompanhá-lo estiveram outro finlandês no contrabaixo, Marko Lohikari, e dois suecos, o saxofonista Fredrik Carlquist e o baterista André Sumelius (um sueco de apelido finlandês).
A Escandinávia há muito se assumiu como um dos expoentes máximos do jazz europeu. Nela convivem várias sensibilidades de viver o jazz. A escola norueguesa liderada pelo pianista russo Misha Alperin e onde se inserem músicos como Tord Gustavsen ou Christian Wallumrod cultiva uma estética ECM de fusão entre o jazz e a música erudita, que inclui também alguns músicos suecos como Bobo Stenson ou Lars Danielsson. Outros músicos preferem a fusão entre o jazz e a música popular escandinava, como Jan Garbarek ou Jonas Knutsson. Há ainda uma escola de jazz mais próxima do “mainstream”, construída nos legados de Orsted Pedersen ou na experiência de Arild Andersen, Palle Danielsson ou Jon Christensen. E outra ainda que busca a fusão do jazz com o pop ou a música electrónica, onde pontificam músicos como o falecido pianista Esbjorn Svensson, o guitarrista Terje Rypdal ou o trompetista Nils Petter Molvaer.
Kari Ikonen, apesar de ter iniciado a sua abordagem da música pelo heavy metal, parece hoje mais próximo da estética “mainstream”, embora não enjeite a possibilidade de incluir alguns elementos do rock ou da música erudita nas suas elaboradas composições.
Pianista exemplar, dotado de uma técnica notável e de um apurado sentido de improvisação, distingue-se ainda pela inspiração das suas composições, personalizadas e de elevado rasgo tecnicista.
Entre os músicos que o acompanharam o destaque vai sobretudo para o saxofonista Fredrik Carlquist, dono de um fraseado imaginativo e pleno de swing, capaz não apenas de interpretar, com manifesto à vontade, o elaborado repertório de Ikonen, como até de lhe juntar um fortíssimo cunho pessoal, fruto do perfeito domínio demonstrado do instrumento, para muitos considerado como o “rei” dos instrumentos do jazz.
Foi uma noite de sentimentos à flor da pele, abrilhantada por músicos de enorme valia.
Enquanto esperamos pelo regresso do “nosso” Hot, vale a pena ouvir este quarteto escandinavo e matar saudades das noites de jazz da Praça da Alegria.
Esta noite será a vez do Ondajazz, em Alfama, acolher Kari Ikonen e os seus pares.
Não percam.

Fredrik Carlquist , no clarinete e saxofone, acompanhado por Dave Mitchell e Garry Fimister, interpreta;
"Peace" de Horace Silver (Barcelona, 2008)


I'll Close My Eyes

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