terça-feira, 12 de outubro de 2010

Eppur si muove


Júlio Resende International Quartet
15 de Julho de 2010, 22.00h
Cafetaria Quadrante (Lisboa)

Júlio Resende, piano
Perico Sambeat, saxofone
Ole Morten Vagan, contrabaixo
Joel Silva, bateria

Confesso que ainda não tinha ouvido, ao vivo, este quarteto internacional de Júlio Resende completo. Faltou sempre na formação, por um outro motivo, o contrabaixista norueguês Ole Morten Vagan. Foi pois com especial curiosidade que respondi à chamada para este concerto, numa quinta-feira de jazz na Cafetaria Quadrante do CCB.
Sobretudo porque escassos 15 dias antes tive oportunidade de ouvir Vagan integrado no quarteto Maryland, liderado por Maria Kannegaard, neste mesmo espaço, com excelentes apontamentos, num projecto intrigante e francamente atractivo.
Seria a sua presença suficiente para renovar a sonoridade deste quarteto, com provas dadas? Considerando o profundo conhecimento mútuo e musical de João Custódio e do pianista líder da formação, estava tentado a acreditar que não.
Eppur si muove, nas famosas palavras de Galileo Galilei…
Sem querer pôr em causa minimamente o excelente trabalho de João Custódio, um dos nossos melhores executantes da sua geração, a verdade é que a presença de Morten Vagan na liderança rítmica da formação trouxe um sopro novo, um agitar nas águas cristalinas das composições de Resende.
Habituado à partilha de funções, por exemplo nos projectos de Kannegaard, onde a liderança da pianista se relega mais para funções de composição e arranjo do que propriamente para a execução das peças, Vagan consegue acrescentar algo seu à música do pianista algarvio. Seja pela irreverência que introduz na condução e acentuação rítmica das composições, seja ainda pelos recortes de classe com que pontua os acompanhamentos, Vagan faz-se notar no quarteto.
Com ele no contrabaixo, a música de Resende renova-se, encontra novas acepções para os mesmos temas, revela-se mais europeia e experimental sem nunca perder o forte recorte melódico que a caracteriza.
O quarteto assume-se assim plenamente pelo seu conjunto e não apenas como um complemento ao solista principal e compositor. As notas mais criativas sucedem-se e alternam-se, oriundas de todos os instrumentos, com a secção rítmica muito mais presente, não apenas nos solos mas em todos os momentos da apresentação. A música enriquece-se e o público agradece.
É pois com enorme expectativa que ficarei a aguardar pelo próximo trabalho em disco de Júlio Resende, a gravar muito em breve e em trio, com Morten Vagan no contrabaixo e Joel Silva na bateria. Esperam-nos seguramente momentos de puro deleite protagonizados pelo soberbo entendimento entre o pianista, cada vez mais um dos expoentes do jazz lusitano, e esta irreverente secção rítmica liderada pelo jovem norueguês.

Júlio Resende International Quartet (com João Custódio) - Filhos da Revolução

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