segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Jazz em Agosto 2010
Jazz am Agosto
6 a 15 de Agosto
Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa)
O outro lado do jazz
Correndo o fio da História do jazz contemporâneo na sua extraordinária riqueza e diversidade, renovando-se na oferta e acompanhando as mudanças do Planeta, o Jazz em Agosto 2010 enquadra a realidade do jazz Europeu tomado no seu sentido dialogante com o jazz Americano original.
Uma programação que se amplia na inclusão de músicos originários de outros continentes num festival urbano dimensionado com espaço e com sentido de montra de tendências criativas dirigidas às audiências actuais que procuram o conhecimento alternativo ao dominante.
John Surman e Jack DeJohnette, um duo emblemático cultivado há duas décadas, de fugazes mas não menos desejadas aparições, iniciam a sequência parafraseando o conceito. A Circulasione Totale Orchestra de Fröde Gjerstad, ensemble multinacional com forte presença europeia aproximando gerações no seu seio e também activo há duas décadas, encerra a programação que tem mais pilares em personalidades como Han Bennink, em duo com Guus Janssen e celebrado no filme biográfico Hazentijd de Jellie Dekker e Dick Lucas; o recente projecto de Louis Sclavis Lost on the Way inspirado na Odisseia de Homero, revelando em quinteto novos valores da cena de França; o Electro-Acoustic Ensemble de Evan Parker numa inédita e significativa grande formação reunindo um escol de improvisadores Americanos e Europeus; o trio Suíço Steamboat Switzerland exaltando a fórmula de power trio via orgão Hammond B3 original; o sexteto híbrido Sol 6 de Luc Ex conjugando canções de Charles Ives, Burt Bacharach, Eric Satie, Weill and Eisler com improvisação radical; Pat Thomas / Raymond Strid / Clayton Thomas, piano / contrabaixo / bateria, triangulação perene do jazz, redefinindo o formato.
Num olhar sobre a realidade Portuguesa, progressivamente a adquirir relevância, o Red Trio explora idêntica fórmula com ousadia, enquanto o Open Speech Trio realça a importância do flautista Carlos Bechegas na história da música improvisada em Portugal. Completam o Jazz em Agosto 2010 uma evocação de Albert Mangelsdorff (1928-2005) trombonista de referência do jazz Europeu, consagrado no filme documental Die Posaune des Jazz de Thorsten Jess e a presença do crítico e teórico Italiano Francesco Martinelli que fundamentará em conferência uma tese sobre o diálogo nunca interrompido do Jazz Europeu e do Jazz Americano. O Jazz em Agosto na sua 27ª edição continua a proporcionar novos horizontes para a compreensão do que é o jazz, hoje, nos seus caminhos menos convencionais e mais inventivos, o outro lado do jazz.
Rui Neves
Director Artístico do Jazz em Agosto
Programa
Sexta, 6 Ago 2010, 21:30 - Anfiteatro ao Ar Livre
JOHN SURMAN + JACK DEJOHNETTE
JOHN SURMAN (soprano, saxofone barítono, clarinete baixo, electrónica)
JACK DEJOHNETTE (bateria, piano, electrónica)
Duas figuras históricas do jazz contemporâneo que cultivam a forma introspectiva do dueto há duas décadas. A impressão deixada por ambas em variados e aplaudidos contextos, no Passado e no Presente, torna este diálogo peculiar e raro, confirmado em dois discos apenas e esporádicas aparições. Dois músicos orgânicos cuja imaginação percorre o legado do jazz, transformando-o e ampliando-o subtilmente numa teia electrónica.
Sábado, 7 Ago 2010, 18:30 - Auditório Três
Han Bennink «Hazentijd»
Documentário de Jellie Dekker e Dick Lucas (2009, 58’)
Entrada livre
Num olhar que os autores querem que seja total sobre o desenvolvimento artístico deste baterista único, estandarte de uma estética e além dos seus relevantes primórdios musicais, conhecemos também o seu trabalho visual, dando ênfase à dualidade do mundo em que vive, em contraponto, entre a Natureza e a Metrópole.
«O filme relata o desenvolvimento artístico de Han Bennink, desde os seus tempos de estudante de artes plásticas e de baterista com 19 anos a participar em conjuntos espontâneos de solistas de jazz americanos em digressão até ao improvisador implacável que é hoje em dia. O trabalho visual que vai criando solitariamente, em silêncio e rodeado pela natureza, é apresentado como um contraponto à sua vida musical cosmopolita e não raramente buliçosa. Han Bennink vive o momento. Ao principiarmos pelo genérico, compreendemos logo por que pode ser designado de índio dos Países Baixos.»
Sábado, 7 Ago 2010, 21:30 - Anfiteatro ao Ar Livre
STEAMBOAT SWITZERLAND
DOMINIK BLUM (órgão Hammond B-3, electrónica analógica)
MARINO PLIAKAS (baixo eléctrico, electrónica)
LUCAS NIGGLI (bateria, percussão)
Steamboat Switzerland conta com a força de um órgão Hammond B-3 com a corda toda, um baixo eléctrico distorcido até ficar irreconhecível e tambores duros como pregos. Impulsionado pela mistura altamente explosiva, feita de riffs metálicos, material sonoro contemporâneo e improvisação livre, este barco a vapor resolve os seus ruídos cruzados em harmonias estranhamente comoventes. Atenção à sala de máquinas com as suas explosões, guinadas e guinchos matreiros.
«Haverá algures no mundo um lugar para uma música destas? Duvido. Demasiado arrebatada pelas propriedades transcendentes da amplificação para os circuitos do jazz e da música improvisada, demasiado aérea e volátil para as comunidades de rock alternativo, anexadas pela academia clássica para longe dos mundos paralelos do som sonhados por Iannis Xenakis and Edgar Varèse, existe num lugar vibrante mas que está a encolher, afastada de toda a busca, madura para ser descoberta.» (The Wire)
Domingo, 8 Ago 2010, 15:30 - Auditório Dois
OPEN SPEECH TRIO
CARLOS BECHEGAS (flautas, processamento sinal)
ULRICH MITZLAFF (violoncelo, electrónica)
MIGUEL FERASO CABRAL (percussão, objectos)
Músico de referência da cena nacional da música improvisada e um dos seus pioneiros, prolífero e exímio flautista, detonador de encontros internacionais marcantes, Carlos Bechegas encontra nesta associação cúmplice um veículo eficaz da sua visão onde a electrónica e a experimentação são preponderantes.
Domingo, 8 Ago 2010, 18:30 - Auditório Dois
GUUS JANSSEN + HAN BENNINK
GUUS JANSSEN (piano)
HAN BENNINK (bateria)
Dois faróis da vívida cena de improvisação de Amesterdão, denominada New Dutch Swing, exibindo empatia consumada de forte sentido jubilatório e equilibrando, com sapiência, acalmia e explosão. Um conhecimento enciclopédico da bateria jazz + um piano de técnica prodigiosa, propensos tanto ao swing como à composição espontânea, à abstracção e mesmo à sátira, constituem linhas de força.
Domingo, 8 Ago 2010, 21:30 - Anfiteatro ao Ar Livre
EVAN PARKER ELECTRO-ACOUSTIC ENSEMBLE
EVAN PARKER (saxofone soprano)
PETER EVANS (trompete, trompete piccolo)
KO ISHIKAWA (shô)
NED ROTHENBERG (clarinete, clarinete baixo, flauta shakuhachi)
PHILIPP WACHSMANN (violino, electrónica)
AGUSTÍ FERNÁNDEZ (piano, piano preparado)
BARRY GUY (contrabaixo)
PAUL LYTTON (percussão, electrónica)
JOHN RUSSELL (guitarra acústica)
PETER VAN BERGEN (contrabaixo, clarinete piccolo)
ALEKS KOLKOWSKI (stroh viola, musical saw)
LAWRENCE CASSERLEY (processamento sinal)
JOEL RYAN (sample, processamento sinal)
WALTER PRATI (processamento sinal)
RICHARD BARRETT (electrónica)
PAUL OBERMAYER (electrónica)
IKUE MORI (electrónica)
MARCO VECCHI (projecção som)
KJELL BJØRGEENGEN (projecção imagem)
As inovações de Evan Parker no campo electroacústico continuam em expansão desde o seu sexteto anunciador em 1997. A recente versão do EAE atinge, neste concerto, a dimensão máxima de 18 músicos superlativos per se e uma dimensão multimédia. A pletora de sons do colectivo casa tecnologia e instrumentação convencional com clareza e em superior manifestação conceptual do saxofonista.
Sexta, 13 Ago 2010, 21:30 - Anfiteatro ao Ar Livre
LOUIS SCLAVIS «LOST ON THE WAY»
LOUIS SCLAVIS (clarinete, clarinete baixo, saxofone soprano)
MATTHIEU METZGER (saxofone soprano, saxofone alto)
MAXIME DELPIERRE (guitarra eléctrica)
OLIVIER LÉTÉ (baixo eléctrico)
FRANÇOIS MERVILLE (bateria)
Linhas melódicas complexas, cerebrais, angulares, caracterizam a linguagem de Sclavis no clarinete, dotando-o de uma identidade musical reconhecida, não de todo afastado dos padrões americanos. Na sequência de outros, o recente projecto inspirado na Odisseia de Homero, incidindo em Ulisses e revelando uma nova geração do jazz Francês, comprova que as suas infatigáveis aspirações continuam a validar-se.
Sábado, 14 Ago 2010, 17:00 - Auditório Três
Albert Mangelsdorff «Die Posaune des Jazz» (O Trombone do Jazz)
Documentário de Thorsten Jess (2005, 52’)
Entrada livre
Ícone do jazz Europeu e mundial, pelo seu contributo definitivo às técnicas expandidas do trombone, Albert Mangelsdorff (1928-2005) foi parte activa das mais importantes manifestações do jazz avantgarde a partir dos anos 1960. Neste filme documenta-se com rigor o riquíssimo percurso artístico de um músico de referência.
Sábado, 14 Ago 2010, 18:30 - Auditório Dois
RED TRIO
RODRIGO PINHEIRO (piano, piano preparado)
HERNÂNI FAUSTINO (contrabaixo)
GABRIEL FERRANDINI (bateria)
Um trio português recém-chegado à cena que explora com invenção e audácia a fórmula consagrada de piano/contrabaixo/bateria, conservando laços evidentes com o jazz e cultivando técnicas instrumentais não ortodoxas; os desenvolvimentos, em sólido equilíbrio, criam novos horizontes sónicos.
Sábado, 14 Ago 2010, 21:30 - Anfiteatro ao Ar Livre
SOL 6
VERYAN WESTON (piano, voz)
LUC EX (guitarra baixo acústico)
INGRID LAUBROCK (saxofone tenor, voz)
HANNAH MARSHALL (violoncelo, voz)
MANDY DRUMMOND (viola, voz)
TONY BUCK (bateria)
O novo projecto de Luc Ex sintetiza uma vasta experiência de situações musicais da sua carreira, materializando-se num grupo de câmara híbrido onde coabitam diversos géneros: cabaret, punk, groove, jazz e improvisação. Com uma organização instrumental inusitada, o sexteto é singular no seu adstringente lirismo constantemente fracturado por incursões fora de normas.
Domingo, 15 Ago 2010, 17:00 - Auditório Três
Conferência por Francesco Martinelli
Tema: «Jazz Europeu e Jazz Americano: um diálogo não interrompido»
Entrada livre
Jornalista, historiador, produtor e promotor, Francesco Martinelli, natural de Pisa (n.1954) onde se licenciou em Química, detém largo espólio editado sobre modos de pensar o jazz contemporâneo em maior profundidade. Esta conferência, assente num permanente intercâmbio entre dois continentes, fundamenta a concepção da programação do Jazz em Agosto 2010.
Domingo, 15 Ago 2010, 18:30 - Auditório Dois
THOMAS + STRID + THOMAS
PAT THOMAS (piano, electrónica)
RAYMOND STRID (bateria)
CLAYTON THOMAS (contrabaixo)
Três consumados e reconhecidos improvisadores para os quais o jazz não está longínquo e que, pela via do trio clássico, em profunda interacção e contínuo estímulo criativo, assumem as suas marcadas individualidades num todo.
Domingo, 15 Ago 2010, 21:30 - Anfiteatro ao Ar Livre
CIRCULASIONE TOTALE ORCHESTRA
LOUIS MOHOLO-MOHOLO (bateria)
FRÖDE GJERSTAD (saxofone alto, clarinete)
MORTEN J. OLSEN (electrónica, percussão)
ANDERS HANA (guitarra eléctrica)
NICK STEPHENS (contrabaixo)
PAAL NILSSEN-LOVE (bateria)
INGEBRIGT HÅKER FLATEN (baixo eléctrico)
BØRRE MØLSTAD (tuba)
SABIR MATEEN (saxofone alto, clarinete)
BOBBY BRADFORD (trompete)
KEVIN NORTON (vibrafone)
LASSE MARHAUG (electrónica)
JOHN HEGRE (desenho som)
Formada em 1984 por Fröde Gjerstad a CTO é um colectivo multinacional e multidimensional reunindo gerações e adoptando o signo da evolução permanente em forma livre. A excelência dos seus músicos, onde avultam figuras históricas a par de uma nova geração já reconhecida, constrói um corpo cuidadosamente organizado mas passível de todas as transgressões, enquanto o seu carácter poderoso e expansivo constitui um adequado encerramento do Jazz em Agosto 2010.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário