domingo, 27 de junho de 2010
Estoril Jazz 2010
Estoril Jazz 2010
2 a 4 e 9 a 11 de Julho
Casino do Estoril
É já esta semana que se inicia mais uma edição do Estoril Jazz, um dos mais importantes eventos do jazz em Portugal, desta feita no palco do Casino do Estoril.
Aqui fica o programa para este ano onde se destaca uma especial atenção ao jazz no feminino, com a presença de Renee Rosnes, Grace Kelly, Dee Dee Bridgewater e Esperanza Spalding.
Renee Rosnes Quarteto
2 de Julho, 22.00h
Renee Rosnes - piano
Steve Nelson - vibrafone
Peter Washington - contrabaixo
Lewis Nash - bateria
Canadiana de nascimento mas há anos radicada nos EUA, Renee Rosnes é uma das mais talentosas pianistas do actual jazz moderno de raíz clássica e, para além de líder dos seus próprios grupos, tem sido membro influente das formações de outras personalidades reputadas, realizando digressões internacionais e participando ao longo dos anos em obras discográficas de músicos como Wayne Shorter e Joe Henderson, James Moody e Bobby Hutcherson, JonFaddis e a Carnegie Hall Jazz Band.
Tendo publicado mais de uma dúzia de discos em seu nome, alguns dos quais em editoras de prestígio como a Blue Note, e recebendo por estas gravações vários Juno Awards – o equivalente canadiano dos célebres Grammy –, Renee Rosnes vem integrando mais recentemente o S.F. Jazz Collective, ao lado de grandes músicos como Joe Lovano, Joshua Redman, Miguel Zenón, Dave Douglas ou Nicholas Payton, entre outros, revelando-se então aos ouvidos de muitos (entre os quais os espectadores do Estoril Jazz 2007) como uma notável compositora para largos conjuntos instrumentais e arranjadora para obras de Thelonius Monk, Wayne Shorter e McCoy Tyner.
Hoje casada com o pianista Bill Charlap, com o qual forma um duo, Renee Rosnes prossegue uma carreira própria traduzida na presença em festivais um pouco por todo o mundo, tendo recentemente realizado gravações no Japão e editado um último disco, Black Narcissus, no qual presta homenagem à música do extraordinário saxofonista e compositor Joe Henderson e que tem, como sidemen, excelentes músicos há muito seus colaboradores, como os notáveis Peter Washington (contrabaixo) ou Lewis Nash (bateria) que, em conjunto com o original vibrafonista Steve Nelson, agora se apresentam a seu lado no palco do Estoril Jazz deste ano.
Renee Rosnes & JJ Johnson - Autumn Leaves
Grace Kelly Quinteto
3 de Julho, 22.00h
Grace Kelly - sax alto, tenor
Jason Palmer - trompete
Doug Johnson - piano
Evan Gregor - contrabaixo
Jordan Perlson - bateria
Outra surpreendente presença feminina no Estoril Jazz deste ano é a da saxofonista norte-americana Grace Kelly, nascida Grace Chung em Wellesley (Massachussets) e filha de pais coreanos mas cujo nome artístico (para além das insólitas associações de ideias que sempre provoca) não está entre os mais conhecidos quando hoje falamos dos músicos em relevo na cena internacional, o que é natural pois ainda vai nos 18 anos de idade.
Apesar de tudo, tendo desde muito cedo estudado música e praticado o saxofone, Grace foi-se inserindo no mundo do jazz que logo abraçou, revelando os seus talentos que vão muito além do da simples “menina prodígio” pois, a ser assim, dificilmente poderia ter já tocado ao lado de músicos mais jovens mas outros também com larga história, como Phil Woods, Hank Jones, Wynton Marsalis, Kenny Barron, Cedar Walton, Rufus Reid, Matt Wilson, Adam Rogers, Billy Hart, Ronnie Matthews ou Ray Drummond, para apenas citar alguns dos mais célebres e conhecidos, e ainda Lee Konitz, Jerry Bergonzi ou Allan Chase, estes últimos seus professores, tendo sido a mais jovem aluna a completar os Estudos de Jazz da New England Conservatory Prep School.
Além de actuar em clubes de jazz e de já ter participado em gravações discográficas, tocando toda a família de saxofones (excepto o barítono), Grace Kelly estuda presentemente composição, arranjo, flauta e piano e, para além do jazz, interessa-se pelo rock, pelo funk e pelos blues, formando o seu próprio quinteto com a participação de Doug Johnson (piano), Evan Gregor (contrabaixo), Jordan Perlson (bateria) e ainda Jason Palmer (trompete), o qual sem dúvida se destaca nos nossos dias como uma das mais firmes certezas do trompete moderno, em termos instrumentais e conceptuais.
Grace Kelly Quintet - Summertime
Wallace Roney Quinteto
3 de Julho, 24.00h
Wallace Roney - trompete
Antoine Roney - sax alto, soprano, clarinete bx
Aruan Ortiz - piano
Rashaan Carter - contrabaixo
Kush Abadey - bateria
Aqueles que viram as imagens e os sons da derradeira actuação em palco do genial Miles Davis – num concerto dirigido por Quincy Jones e realizado em sua homenagem durante o Festival de Jazz de Montreux de 1991 – recordar-se-ão, certamente, de um jovem trompetista que timidamente se colocava à frente da orquestra e ao lado do mestre, tocando por vezes algumas das partes solísticas que lhe estavam reservadas quando o mestre, já diminuído por um frágil estado de saúde que antecipava de alguns meses o seu desaparecimento, estava impedido de tocar por dificuldades de respiração.
Ensinado e tutelado pelo próprio Miles Davis desde que, em 1983, este o ouviu tocar na sua gala de aniversário no Carnegie Hall de Nova Iorque, Wallace Roney desde muito antes conquistara a admiração dos seus pares quando, apenas com 16 anos de idade, surgira nos meios do jazz dando os seus primeiros passos numa carreira que depois se tornaria profissional e que se desenvolveria ao lado de músicos famosos, como Art Blakey, Elvin Jones, Walter Davis Jr., McCoy Tyner, Sonny Rollins, Curtis Fuller ou ainda Dizzy Gillespie.
Pela sua especial ligação à música, ao som e à técnica e expressividade instrumental de Miles Davis, Wallace Roney foi naturalmente convidado por Herbie Hancock quando, após a morte do mestre, o pianista reconstituiu o seu famoso quinteto com Ron Carter, Wayne Shorter e Tony Williams para uma digressão internacional de homenagem ao génio do grande trompetista, que chegou a incluir Portugal no seu trajecto.
Hoje casado com a pianista Geri Allen, Wallace Roney prossegue a sua carreira individual com actuações em clube e festivais nacionais e internacionais, trazendo consigo ao XXIX Estoril Jazz um quinteto formado por seu irmão Antoine Roney (saxofones, clarinete-baixo), Aruan Ortiz (piano), Rashaan Carter (contrabaixo) e Kush Abadey (bateria).
Wallace Roney, Herbie Hancock, Ron Carter, Wayne Shorter & Tony Williams perform - "So What"
Charles Lloyd Quarteto
4 de Julho, 19.00h
Charles Lloyd - sax tenor, soprano
Jason Moran - piano
Reuben Rogers - contrabaixo
Eric Harland- bateria
Não poderia terminar de melhor maneira a primeira parte do Estoril Jazz deste ano: a actuação do quarteto de Charles Lloyd, não apenas pelo que o grande saxofonista representa na história do jazz moderno como pela notável colaboração que os seus mais jovens pares trazem a este notável grupo, constituirá sem dúvida (tal como sempre acontece quando Lloyd se desloca a Portugal) um dos mais importantes concertos da presente temporada.
Com especiais ligações sentimentais a Cascais (e a este festival em particular), não é demais recordar as memoráveis noites que, em meados dos anos 60, Charles Lloyd iluminou durante as suas actuações no Luisiana Jazz Clube, então dirigido por Luiz Villas-Boas e Jean-Pierre Gebler, com o histórico quarteto que à época incluia nada menos que Keith Jarrett, Cecil McBee e Jack DeJohnette, bem como a posterior passagem pelo Parque Palmela na edição do Estoril Jazz 2001.
Considerado um dos mais talentosos continuadores de uma certa espiritualidade que ficou a marcar a derradeira fase da trajectória criativa de Coltrane mas logo criando uma linguagem própria matizada pelos sons, pelas ideias e pela música popular ligada aos movimentos políticos e sociais da juventude norte-americana nos anos 60, Charles Lloyd jamais deixaria de estar presente na memória dos amadores de jazz; e o seu regresso, em plenos anos 80, a uma renovada actividade profissional constituiria um dos notórios acontecimentos neste domínio musical.
Agora à frente do seu novo quarteto – que os ouvidos deste cronista viu nascer num primeiríssimo encontro realizado na Casa da Música (Porto) em 2007, no início de uma digressão europeia – Charles Lloyd certamente não poderia ter encontrado outros músicos que melhor compreendessem (e ajudassem a recriar) uma linguagem musical e instrumental tão personalizada, sempre com os pés assentes em várias tradições do jazz e nas músicas do mundo mas ao mesmo tempo buscando os caminhos da modernidade. Neste sentido, os contributos de Reuben Rogers e Eric Harland são ainda o melhor incentivo à evidência de uma segunda forte personalidade neste quarteto, a do pianista Jason Moran, sem dúvida um dos mais originais criadores do jazz actual.
Charles Lloyd New Quartet
Dee Dee Bridgewater Quinteto
9 de Julho, 22.00h
Dee Dee Bridgewater - voz
Edsel Gomez - piano
Kenny Davis - contrabaixo
Lewis Nash - bateria
Craig Handy - sax tenor
Detentora de uma voz poderosa e de grande amplitude e, ao mesmo tempo, de uma capacidade histriónica que lhe tem permitido orientar a sua carreira como cantora transversal a todos os públicos, Dee Dee Bridgewater não esconde, no seu estilo, no seu vibrato, no calor das suas interpretações e na forma de se movimentar em palco, a sua paixão pelas actuações em público. Por isso estas faculdades lhe permitem não apenas exercer o seu métier como uma pura cantora de jazz mas também como entertainer de espectro mais versátil com relevo para alguns projectos específicos e de certo impacte espectacular que ultrapassam as fronteiras do próprio jazz, como tem sido patente em inúmeros shows temáticos que tem criado nos últimos anos.
Entretanto, a circunstância de Dee Dee se apresentar no Estoril Jazz num concerto subordinado ao título To Billie With Love: A Celebration of Lady Day leva a depreender que se trata de um projecto bem arreigado ao espírito do jazz e, mais ainda, de uma séria e comovente homenagem a Billie Holiday, um dos vultos maiores da voz feminina no jazz, na sequência aliás do disco que já este ano publicou com semelhante dedicatória: Eleanora Fagan (1915-1959): To Billie with Love from Dee Dee (Decca, 2010).
Não é de resto a primeira vez que Dee Dee Bridgewater se interessa pela voz inconfundível de Billie Holiday e pela vida dramática daquela que foi um dos maiores ícones do jazz de todos os tempos, pois já representara a vida desta no teatro ao cantar em palco, nos anos 80, a personagem principal do musical Lady Day. Mas neste disco, a cantora não opta por qualquer evocação mais directa da voz de Billie, antes nos propõe uma recriação moderna de algum do repertório mais fascinante da sua homenageada, como Mother’s Son-in-Law, Fine and Mellow, Don’t Explain, God Bless the Child ou Strange Fruit que certamente ouviremos também em palco.
Dee Dee Bridgewater apresentar-se-á no XXIX Estoril Jazz com um quarteto de excelentes músicos, liderados pelo brilhante pianista porto-riquenho Edsel Gomez, respondável pelos arranjos, e ainda constituído pelos pendulares Kenny Davis (contrabaixo) e Lewis Nash (bateria) e pelo caloroso saxofonista-tenor Craig Handy.
Dee Dee Bridgewater - Speak Low
Trio 3: Oliver Lake, Reggie Workman e Andrew Cyrille
10 de Julho, 22.00h
Oliver Lake - saxofones
Reggie Workman - contrabaixo
Andrew Cyrille - bateria
As três personalidades que esta noite pisam o palco do Estoril Jazz representam a evocação de um certo espírito vanguardista que, durante os anos 60, 70 e seguintes, deu corpo a uma das mutações mais radicais no jazz moderno.
Perfilando-se como alguns dos instrumentistas que, nesse tempo, mais se destacaram em diversos contextos musicais, basta dizer que, para além das suas carreiras individuais ou dos seus estilos pessoais, todos eles estiveram ligados a grupos ou projectos que então emergiram como dos mais importantes da época: o saxofonista Oliver Lake, como membro co-fundador do célebre World Saxophone Quartet; o contrabaixista Regie Workman como membro do quarteto de John Coltrane; o baterista Andrew Cyrille como colaborador dos grupos de Cecil Taylor, Marion Brown, Grachan Moncur III ou Jimmy Giuffre.
Improvisador impetuoso, mesclando no seu estilo a modernidade de um Eric Dolphy ou o apego aos blues de um Maceo Parker, Oliver Lake liderou, com Julius Hemphill e Charles “Bobo” Shaw, entre outros, um colectivo de músicos afro-americanos, The Black Artist’s Group. Companheiro do mesmo Hemphill e ainda de Hamiet Bluiett e David Murray no já referido World Saxophone Quartet, Lake contribuiu para a inegável popularidade deste grupo durante mais de duas décadas.
Já Regie Workman, o mais “clássico” destes três modernistas, tornou-se conhecido na sua carreira como sideman de músicos esteticamente tão diversos como Gigi Gryce, Red Garland ou Roy Haynes, ocupando a estante de contrabaixista (após ter deixado o quarteto de Coltrane) dos grupos de Art Blakey, Yusef Lateef, Sam Rivers, David Murray ou dirigindo o seu próprio Reggie Workman Ensemble.
Quanto a Andrew Cyrille, a sua carreira atingiu o ponto mais alto nos anos 80 e 90, como um dos mais musicais e tecnicistas de todos os bateristas herdeiros do movimento free jazz, mas colaborando noutro tipo de formações como as de Mary Lou Williams, Roland Hanna, Coleman Hawkins, David S. Ware, Ted Daniel, Don Moye, John Carter ou Muhal Richard Abrams.
Por tudo isto, em termos musicais, o concerto pelo trio destes veteranos de peso perfila-se como um dos menos previsíveis do festival deste ano.
Trio 3
Esperanza Spalding Quarteto
11 de Julho, 22.00h
Esperanza Spalding - contrabaixo e voz
Leo Genovese - piano
Ricardo Vogt - guitarra
Dana Hawkins - bateria
Um palminho de cara de traço exótico e um perfil elegante aconchegando um instrumento imprevisível – o contrabaixo – terão sido porventura decisivos para a popularidade de que hoje goza na cena do jazz actual a “latina” Esperanza Spalding. Mas a sua própria prática musical e as companhias com quem tem andado a tocar (e a cantar), bem como algumas das obras discográficas que já foi gravando ou nas quais participou nos últimos anos, ajudam a perceber que a musicalidade natural e a polivalência do seu talento nato desempenham um papel não menos imprescindível na crescente notoriedade da sua ainda curta carreira.
Nascida em 1984 e vivendo a sua difícil adolescência nas vizinhanças de Portland, Oregon, tendo de trabalhar em vários e duros ofícios para ajudar à subsistência de um lar mono-parental, Esperanza Spalding viu despertar nela a paixão pela música desde muito cedo, aprendendo violino e participando na Sociedade de Música de Câmara de Oregon, uma orquestra comunitária na qual tinham assento, enquanto amadores e profissionais, tanto músicos jovens como músicos adultos. Por volta dos 15 anos de idade, mesmo depois de ter sido 1ª. violino (concertino) da orquestra, Esperanza decidiu dedicar-se ao estudo do contrabaixo, estendendo os seus interesses musicais a outros domínios onde o instrumento podia impor-se, como os blues, o funk, o hip-hop e, numa sequência natural, o jazz de maior ou menor ascendência latina.
A partida para Boston e a frequência do Berklee College of Music seria entretanto decisiva para a escolha de uma via musical mais definida, alcançando o bacharelato aos 20 anos e logo passando a exercer a docência, o que a tornou a mais jovem professora de sempre daquela universidade. Em consequência desta sua mudança para a Costa Leste e, em particular, de uma mais profunda participação na cena jazzística nova-iorquina, multiplicou-se naturalmente a sua participação em formações muito diversas, como as de Michel Camilo, Stanley Clarke, Pat Metheny, Patti Austin, Donald Harrison ou Joe Lovano, com a qual já actuou entre nós.
Neste momento da sua carreira, do ponto de vista pessoal, a cantora, contrabaixista e compositora tem vindo a apresentar o seu mais recente disco Esperanza na formação de trio ou de quarteto, no qual participam Ricardo Vogt (guitarra), Otis Brown ou Dana Hawkins (bateria) e o notável pianista argentino Leo Genovese, também já conhecido dos meios jazzísticos portugueses.
Esperanza Spalding - Overjoyed
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