quarta-feira, 9 de junho de 2010

Elegância Latina


Ed Simon Trio
21 de Maio, 22.00h
Auditório Municipal Eunice Muñoz (Oeiras)

Nascido na Venezuela, foi sobretudo nos Estados Unidos da América que Edward Simon surgiu para a música, primeiro como estudante na Escola de Artes Performativas de Filadélfia e mais tarde na Universidade das Artes de Filadélfia e na Escola de Música de Manhattan.
Residente em Nova Iorque desde 1989, colaborou com alguns dos mais conceituados músicos de jazz da Big Apple, como Greg Osby, Bobby Hutcherson, Herbie Mann, Kevin Eubanks ou os ícones do jazz latino Jerry Gonzalez e Paquito D’ Rivera. Participou ainda no grupo Horizon, de Bobby Watson, e no grupo do trompetista Terence Blanchard. Fundou o quarteto Afinidad, com David Binney, Scott Colley e Antonio Sanchez e o ensemble Venezuela, dedicado à fusão do jazz com o folclore do seu país de origem. Muitas vezes comparado a Chick Corea pelo virtuosismo dos seus solos, Ed Simon integra ainda o San Francisco Jazz Collective, com quem se apresentou recentemente em Portugal.
Ed Simon é docente em várias escolas superiores de jazz nos EUA e foi bolsista da Chamber Music America que lhe atribui um prémio pecuniário a fim de compor e interpretar a “Suite Venezuelana”, obra extensa combinando jazz, música de câmara e música étnica da Venezuela. Já posteriormente a este concerto foi anunciado que o pianista foi galardoado com o John Simon Guggenheim Fellowship deste ano, para aprofundamento dos seus estudos em composição musical.
Para este concerto em Oeiras Ed Simon surgiu acompanhado por Joe Martin no contrabaixo e Henry Cole na bateria. Sem colocar minimamente em causa as extensas qualidades destes intérpretes, teria sido contudo interessante ouvi-lo acompanhado pelos seus dois antigos parceiros do quarteto Afinidad, Scott Colley e Antonio Sanchez, que actuaram na abertura deste mesmo festival, acompanhando o saxofonista Donny McCaslin. Se o porto-riquenho Henry Cole, apesar da juventude, se mostrou um baterista de excelentes recursos e plenamente integrado na estética latina de Simon e Sanchez (ainda há poucos meses esteve neste mesmo festival a acompanhar outro grande músico latino-americano, o saxofonista Miguel Zenón), já Martin foi mais sóbrio e contido na sua actuação, longe da exuberância criativa de Scott Colley.
Ainda assim assistimos a um concerto memorável, claramente liderado pela elegância, limpeza técnica e criatividade da escrita do pianista. Simon combina singularmente três mundos nem sempre fáceis de compatibilizar: o dos ritmos latinos da sua Venezuela natal (e dos muitos e excelentes músicos latino-americanos com quem tem trabalhado ao longo da sua carreira), a música erudita contemporânea a que se tem dedicado a espaços, designadamente nos trabalhos financiados pela Chamber Music America, e claro está o jazz e o blues que aparecem distintamente na sua obra, ainda que temperados pelos ritmos das Caraíbas e da América Central.
O resultado é uma obra de enorme relevância quer do ponto de vista da composição quer ainda pela superior execução técnica e artística do pianista. Elegante, criativa e surpreendentemente acessível aos mais diversos tipos de público, não necessariamente jazzístico.

Um excerto de uma masterclass de Ed Simon na UNEARTE em Caracas, em Abril de 2010

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