sábado, 11 de setembro de 2010

Maria Kannegaard no CCB


Maryland
1 de Julho, 22.00h
Cafetaria Quadrante - CCB (Lisboa)

MARIA KANNEGAARD piano
HAKON KORNSTAD saxofone tenor
OLE MORTEN VAGAN contrabaixo
HAKON MJASET JOHANSEN bateria

Maryland é o nome de um projecto musical liderado pela pianista dinamarquesa Maria Kannegaard e que conta igualmente com os noruegueses Hakon Kornstad no sax tenor, Hakon Mjaset Johansen, na bateria, e o nosso conhecido Ole Morten Vagan, colaborador assíduo de Júlio Resende, no contrabaixo.
Conhecia apenas os trabalhos em trio desta pianista dinamarquesa radicada há muito na Noruega, nomeadamente os seus álbuns Quiet Joy (Jazzland, 2005) e Camel Walk (Jazzland, 2008), ambos gravados com Ole Morten Vagan no contrabaixo e Thomas Stronen na bateria.
Maryland foi também gravado em 2008, precisamente com os músicos que se deslocaram a Lisboa, mas pela editora sueca independente Moserobie.
Foi por isso com redobrada curiosidade que me desloquei ao CCB para ouvir Maryland. Desde logo porque gostei particularmente dos trabalhos em trio da pianista, muito bem desenvolvidos ao nível da composição, num estilo tipicamente nórdico, contido, por vezes minimalista, numa estética progressiva mas militantemente acústica. Pelo que a adição de um saxofone tenor ao trio, entregue ao competentíssimo Hakon Kornstad, um dos mais reputados saxofonistas noruegueses da actualidade, constituía um desafio aos inegáveis talentos de compositora e arranjadora de Kannegaard, e bem assim ao ouvinte conhecedor do seu trabalho, que não deixaria de reparar até que ponto esta substancial alteração da formação não colocaria em risco a estética marcadamente pessoal da música da pianista.
Devo dizer que fiquei bastante impressionado. Quer pelos notáveis arranjos de Kannegaard, que souberam integrar de modo feliz o saxofone tenor na estética característica da sua obra, quer ainda pela excelente técnica e superior adaptação de Kornstad ao universo musical da pianista.
Maryland constituiu assim um seguro alargamento polifónico na música de Kannegaard, inquestionavelmente fiel aos seus princípios expressos nos trabalhos anteriores, mas positivamente mais rico, mais elaborado, mais abrangente, em suma mais ambicioso, do que as gravações em trio.
A música de Kannegaard é aparentemente simples, evolui a partir de padrões rítmicos e melódicos básicos, aos quais os músicos vão acrescentando novos elementos, enriquecendo-a, num crescendo polifónico rico em momentos de pura improvisação e excelente técnica.
Maria Kannegaard evita subtilmente o protagonismo, embora ele esteja sempre latente nas composições, arranjos e na liderança clara, em palco, das suas formações. No entanto assume com a mesma naturalidade funções harmónicas e rítmicas nos seus colectivos, que introduz reiteradamente nas composições, com solos e funções melódicas.
A sua música vive da interligação dos vários instrumentos, dos crescendos, das polifonias que introduz, em jeito de desafio aos restantes músicos, nos temas. Este Maryland é verdadeiramente um colectivo e não um quarteto de Maria Kannegaard.
O resultado foi uma apaixonante viagem pela originalidade e arrojo criativo do jazz norueguês. Em que a elegância da música de câmara se funde com o bom gosto nas improvisações jazzísticas, servidas com uma força comunicativa notável que não deixou ninguém indiferente.

Maria Kannegaard Trio

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