domingo, 9 de agosto de 2009

Brass Ecstasy


Dave Douglas & Brass Ecstasy
6 de Agosto, 21.30h
Anfiteatro ao ar livre – Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa)

Estreado em 2005 no Festival of New Trumpet Music, de Nova Iorque (dirigido pelo próprio Dave Douglas), e consagrando-se no Chicago Jazz Festival 2008, este novo projecto de Dave Douglas, uma brass band, evoca o trompetista Lester Bowie na sua Brass Fantasy, grupo de referência nos anos 1980/90.
Quatro instrumentos extensivos da voz humana por excelência, acrescidos de bateria e que, tocados por músicos exímios, traduzem um espírito de música pura.
Nomeado para dois Grammys e considerado por diversas ocasiões como artista do ano por publicações tão importantes como a Down Beat, a Jazz Times, a Jazziz, recebeu ainda prémios relevantes como o atribuído pela Jazz Critics' Society italiana ou os New York Jazz Awards, Dave Douglas é, sem dúvida, um dos mais prolíficos e originais trompetistas e compositores da sua geração.
A sua carreira a solo começou em 1993 com Parallel Worlds, editado pela Soul Note, ao qual se seguiram já 28 álbuns como líder. Em 2005 lançou mesmo a sua própria editora, a Greenleaf Music.
Foi nesta editora que editou os seus mais recentes projectos, o sexteto electrónico Keystone, o ensemble de câmara Nomad e este Brass Ecstasy.
As suas colaborações incluem nomes fundamentais do jazz como John Zorn's Masada, Anthony Braxton, Don Byron, Joe Lovano, Miguel Zenon, Uri Caine, Martial Solal e Bill Frisell.
O projecto Brass Ecstasy inclui, além do trompete de Douglas, a trompa de Vincent Chancey, a tuba de Marcus Rojas (ou melhor, a tuba emprestada, já que a sua ficou retida no aeroporto de Frankfurt), o trombone de Luis Bonilla e a bateria de Nasheet Waits. Uma formação original e evocativa de outros tempos do jazz, totalmente acústicos e assentes no papel fundamental dos metais.
O resultado é consistente e apelativo. Um som moderno bem assente na tradição, com a tuba a fazer a vez do contrabaixo no apoio rítmico à bateria, deixando aos restantes elementos do quinteto o papel de solistas. Aí todos se destacaram, ao seu estilo próprio. Dave Douglas esteve igual a si próprio, irreverente, com um inegável sentido de humor na exploração técnica exemplar do seu instrumento, a que se juntou o virtuosismo de Bonilla no trombone (uma excelente surpresa, pois desconhecia este magnífico músico) e a classe e originalidade da incursão da trompa no ensemble, entregue às mãos competentes de Chancey.
Destaque ainda para a bateria entregue ao filho do mítico percussionista Freddie Waits, que acompanhou músicos como Ella Fitzgerald, Sonny Rollins, Max Roach e McCoy Tyner. Influenciado pelo trabalho do pai e também pelo seu mentor, Max Roach, que o lançou internacionalmente no projecto M’Boom, Nasheed integrou o quinteto de Antonio Hart, várias formações de Andrew Hill, a Bandwagon de Jason Moran e o trio de Fred Hersch, o que faz do seu estilo um claro equilíbrio entre o clássico e moderno. Assumiu exemplarmente o papel que lhe foi reservado nesta Brass Band, com classe mas também contenção, face à quantidade e qualidade dos solistas envolvidos.
Em suma, um jazz que não surpreende, apesar da inusitada formação, mas que claramente convence, pela enorme qualidade dos músicos envolvidos e pela forma segura como assenta na melhor tradição hard-bop norte-americana, com ocasionais influências do estilo clássico de New Orleans.
Um ponto alto da edição deste ano do festival Jazz em Agosto.

Dave Douglas Brass Ecstasy - This Love Affair


Dave Douglas Brass Ecstasy - Bowie

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