quinta-feira, 10 de abril de 2008

OJM & Chris Cheek


Orquestra Jazz de Matosinhos & Chris Cheek
28 de Março de 2008 – 21.30h
Grande Auditório da Culturgest – Lisboa
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Confesso que não sou um grande apreciador de Big Bands. Jazzómano convicto, revejo-me contudo mais na liberdade criativa dos solos do que no rigor académico das pautas. Não obstante, não hesitei em comparecer neste concerto da Orquestra Jazz de Matosinhos. Desde logo porque a presença de um solista da craveira de Chris Cheek, assim o pedia… Mas o mérito deste projecto recai integralmente no talento e iniciativa de Carlos Azevedo e Pedro Guedes. Pela ousadia de organizarem e impulsionarem uma big band de jazz em Portugal. Pelo inconformismo demonstrado em dotarem essa big band de um reportório próprio, composto quase exclusivamente por originais da sua autoria. Por partilharem as orquestrações e direcção de orquestra, com inquestionável talento. Mas também por catapultarem este projecto para um inegável reconhecimento nacional e internacional, bem expresso nas colaborações com nomes sonantes do jazz norte-americano, como este Chris Cheek ou Lee Konitz, entre outros, imortalizadas em disco mas bem mais desfrutáveis (e desfrutadas…) nestes espectáculos ao vivo, como o desta noite na Culturgest.
Longe de um seguidismo revivalista, que caracterizou durante algum tempo os projectos big band (e que motivou, em princípio, a minha desconfiança), esta Orquestra Jazz de Matosinhos vive do talento de composição (mas também de orquestração) dos seus membros, todos reputados músicos nacionais com provas dadas em inúmeros projectos, particularmente dos seus mentores e directores Carlos Azevedo e Pedro Guedes. Mas a completá-lo, à laia de cereja em cima do (já delicioso) bolo, vive também da inteligente e bem conseguida interligação com os solistas convidados. Dessa forma, cria um ambiente que cruza o universo big band com o mais simples ensemble ou mesmo, ocasionalmente, com o trivial quarteto de jazz. Estabelece assim uma ponte entre o jazz moderno, improvisado e individualista, e o mais clássico que, embora bebendo nas fontes ancestrais dos mestres Duke Ellinton ou Count Basie, não deixa nunca de nos surpreender, pela riqueza harmónica das orquestrações. Até porque a escassez de projectos desta envergadura faz com que os melómanos modernos (onde modestamente me incluo) raramente estejam familiarizados com a estética musical característica de uma big band de jazz.
Está pois duplamente de parabéns a Orquestra Jazz de Matosinhos. Pela inegável qualidade e profissionalismo atingido e reconhecido. Mas também (e não é de somenos…) pelo apreciável trabalho de recuperação de um género em desuso, que fez as delicias da geração dos nossos pais, e que tanto ofereceu, e tem ainda para oferecer, ao jazz.

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